tag:blogger.com,1999:blog-35489279447687272162024-03-05T23:39:28.933-08:00rascunhos literáriosSonia Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/06628559588746977262noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-3548927944768727216.post-45783906609768703042013-09-01T05:22:00.000-07:002013-09-01T05:22:27.549-07:00livro infantil: O clube da amizade (ou: como se brincava no século XX)<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
O CLUBE DA AMIZADE</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo I</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas do 2°B estavam agitadíssimas. Não paravam quietas nas cadeiras, davam
gritinhos à toa, riam - se muito e tagarelavam como papagaios. A causa de
tamanho alvoroço era ser aquele o último dia de aula.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pensar
nas férias de verão, como muito sol, praia, viagens e brincadeiras mil deixava
as garotas felizes. Bem, quase todas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
um canto, Ritinha permanecia bem quieta, com olhos grandes e tristes. E não era
por ter repetido de ano, aliás ninguém repetira de ano naquela classe, e a
medalha dourada pendurada em sua blusa revelava que ela passara em primeiro
lugar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
motivo da tristeza de Ritinha era bem simples : filha única, sentia - se a
única criança da classe a não ter irmãos ou primos com quem brincar. Férias,
para ela, eram longos dias solitários a ler histórias e a cuidar de seus
bichinhos de estimação. E ela gostava tanto de companhia!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Meninas! Meninas! Vocês querem sair mais cedo para o recreio ? - perguntou a
professora.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
sonoro “Queremos!” foi a resposta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Então façam silêncio. Ou do contrário ficarão dez minutos a mais em classe,
fazendo cópia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
algazarra cessou como que por encanto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Se vocês ficarem bem quietinhas para ouvir uma história, sairão dez minutos
mais cedo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ninguém
se enganou com a “história”. Era o truque que a professora Regina usava para
tornar os pontos de História do Brasil mais interessantes. Ela era uma
excelente professora, que transformando a matéria em teatrinhos e canções,
tornava mais fácil de memorizar até a lição mais difícil.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Morar
em Santos tinha as suas vantagens. Como a história da Baixada Santista estava
muito ligada a fatos importantes da história do país, as crianças sentiam
orgulho de sua cidade e sentiam curiosidade em aprender sobre Brás Cubas, a
Marquesa dos Santos, José Bonifácio e todos os demais vultos históricos da
região.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aquela
tarde a professora Regina leu poesias de Vicente de Carvalho, o poeta do mar.
Não fazia parte da matéria do 2°ano, mas era o último dia letivo, a poesia era
bonita, e, na opinião da professora, cultura nunca era demais.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu vou ser poeta - disse a Sonia - Até já escrevi uma porção de versinhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Como minha mãe - disse Marisa - A professora sabe que a minha mãe é poeta ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Poetisa - corrigiu D<sup>a </sup> Regina
- O feminino de poeta é poetisa. Pois eu gostaria que vocês duas viessem aqui
na frente e lessem para nós. Você, as suas poesias. E você, as de sua mãe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vou ler uns versinhos que fiz agora mesmo _ disse a Sonia. E leu :<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“As
férias estão chegando</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para
casa vou cantando</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero
ir à praia nadar</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero
ir brincar no mar”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Muito bem, você leva jeito - comentou a professora.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A minha mãe quer juntar todos os poetas da cidade em uma espécie de clube. -
contou Marisa -Uma Associação.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ritinha
aprumou - se na carteira ao ouvir a palavra “clube” e começou a sorrir. De
repente, até ela estava inquieta, a olhar a todo instante para o relógio de
parede a contar os minutos que faltavam para o recreio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em
que será que Ritinha estava pensando ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo II</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-
Desçam as escadas em silêncio, para não atrapalhar as outras classes. Algumas
ainda estão em provas - avisou a professora - E não gritem até soar o sinal do
recreio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas obedeceram, de passos rápidos e olhinhos brilhantes. Ritinha levava
lápis e caderno e fazia para as amigas sinal de “preciso falar com você” ,
sinal que entre elas consistia em dois gestos sucessivos de apontar, para a
própria pessoa e para a outra, diversas vezes seguidas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No
pátio do colégio, as alunas se dispersaram. Os grupinhos sentavam - se no chão,
nos bancos, nas escadas, conforme o gosto de cada um.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
grupo de amigas de Ritinha empoleirou - se nas escadas do anfiteatro de arena.
As meninas começaram a desembrulhar os lanches e a reparti - los entre si.
Ritinha afastou seu bolo para o lado e pegou o lápis : </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Quero o telefone e endereço de todas. Tive uma idéia genial. Vamos fundar um
clube de férias. O Clube da Amizade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Para que ? Já vou todo domingo no clube- disse Vera</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Todo mundo já tem seu próprio clube - disse Viviane. -Para que mais um ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Acho que vocês não entenderam. Não é um clube com piscinas e quadras de tênis.
É um clube de brincar. A gente fala com nossos pais. A minha mãe eu tenho de
certeza que concorda. A primeira reunião do clube pode ser em minha casa, na
tarde de sábado, mamãe faz um lanche para nós e eu organizo uma visita ao meu
zoológico. Que tal ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E o que mais a gente faz ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O que a gente quiser. Uma festa do sorvete, um campeonato de jogos, um baile a
fantasia, um teatro, o que pintar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E vai ser sempre na sua casa ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Também pode ser na minha - disse a Maria do Sameiro, filha do dono da
confeitaria - Tenho certeza de que mamãe concorda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ôba ! - gritaram as outras crianças.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lanche
em casa da Sameiro era lanche de confeitaria, com pães doces, geléias, balas de
frutas e bolo de chocolate com nozes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Lá em casa também pode , com certeza - falou Lúcia - O quintal é bem grande com
parquinho e muitas árvores.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que pena, eu vou viajar - suspirou Marisa - Estou fora.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mas quando você voltar, telefone para a gente. Você vai ficar fora o verão
inteirinho ? - perguntou Vera.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ainda não sei.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pois quero de cada uma de vocês duas fotos, para fazer uma carteirinha igual a
dos clubes de verdade - continuou Ritinha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Só uma basta - lembrou Viviane -Você não precisa guardar a outra na ficha da
secretaria, como em um clube de verdade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Está certo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
assim ficou combinado. A primeira reunião do clube seria no domingo à tarde, na
casa da Ritinha, que confirmaria por telefone com as amigas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
assim, todas as garotas do 2°B entraram em férias de coração alegre, até a
Rita, que agora teria companheiras para brincar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo III</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Rita
gostava muito de bichos e criava uma porção deles. Também colecionava conchas,
penas, pedras, sementes e organizara na garagem de sua casa um museu de
História Natural.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora
ela dava os últimos retoques na arrumação das prateleiras. Organizara fichas,
cartazes, tudo limpinho, arrumado e colorido para o programa de sábado : visita
ao zoo e museu da Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quase
todas as garotas haviam confirmado : Sameiro, Vera, Sonia, Viviane que viria
com a irmã, Vanessa, Fátima, Selma e Marilda. Marisa ia viajar e Mônica morava
longe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
o melhor : os pais haviam dito para fazerem um rodízio, cada reunião em casa de
uma, para não “pesar” para ninguém.
Afinal, lanche para dez, e agüentar a saudável barulheira, não seria fácil!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas chegaram às três horas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em
primeiro lugar, a visita ao “zoológico”. Rita mostrou os peixes :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Esses peixes são acará - bandeira. Não podem ficar junto com outras espécies
porque são peixes de briga. Neste outro aquário temos um casal de beijoqueiros,
um casal de peixes japoneses, esses vermelhos, e os pequenininhos coloridos são
os néons.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu já peguei peixinhos no canal com meu irmão - disse Vera -É divertido. Vocês
sabem como se faz ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu sei! - disse Sonia - A gente fura uma lata, prende com barbante e joga lá do
alto da ponte para dentro do canal.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que nojo! Vocês entraram nas águas sujas do canal ? - Fátima fez uma careta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Claro que não! - disse Sonia - E porque nojo ? É água do mar...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Água salobra - lembrou Vera - Mistura de
água do mar com águas do mangue do rio Cubatão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mas como vocês pegam os peixes ? - quis saber Sameiro - Como é que eles entram
na latinha ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É que a gente prende um pedaço de pão no fundo da lata. A lata afunda no canal,
os peixes entram para comer o pão e então a gente puxa a lata. São bem
coloridos, de várias cores e duram muito tempo. Um até deu cria lá em casa -
disse Vera.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Peixe põe ovo - falou Fátima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Esses não põe. Nascem peixinhos assim pequenininhos - disse Sonia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E se a gente fizesse uma pescaria no canal ? - propôs Marilda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Nem pensar. Que nojo ! - fez Fátima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não sei que meus pais iriam concordar - disse Lúcia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos continuar a visita ao zoo, gente ? Agora vamos ver as minhas
tartaruguinhas do ria Amazonas...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O meu irmão tem uma igual - disse Vera - Ele usa os peixinhos que pega no canal
para alimentar a tartaruga. É engraçado vê- la caçar os peixinhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
As minhas comem alface - explicou Rita - Às vezes mamãe dá uns pedacinhos de
carne crua para elas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E que outros bichos você tem ? - perguntaram as amigas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos lá fora. Vocês vão conhecer meus periquitos australianos e meu papagaio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
crianças gostaram do papagaio. Ele gritava : “Socorro!”, dava risadas, cantava
“ai, ai,ai ,ai , tá chegando a hora...” e “parabéns a você”, pedia café, pedia
água, pedia comida, imitava assobios e campainha e ainda contava até dez.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Currupaco papaco! Louro tá com fome! Louro quer café com pão! Lá, lá ,lá...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas não se cansavam de brincar com o papagaio. Até brincariam mais, se a
mãe de Rita não interviesse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Crianças, não cansem o pobre louro. Vão ver os esquilos, agora, deixem o
Mickey descansar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aquilo
foi uma risada só. O Mickey! Pois isso lá era nome de papagaio ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você tem esquilos? Quero ver ! - pediu Sameiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
São hamsters.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-São
o que ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Hamsters. Esquilos do Líbano. Não tem rabo peludo como os serelepes - explicou
Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que serelepes são esses ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Serelepe ou caxinguelê é aquele esquilinho
dentuço de rabo muito peludo que a gente vê nos filmes e nas gravuras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu nunca vi - disse Vanessa,</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pois eu tenho uma foto aqui - mostrou Rita, folheando um livro de animais na
estante da garagem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas
as meninas estavam mesmo interessadas em pegar os bichinhos. Haviam vários :
brancos, cor de creme, marrons e malhados, em um grande viveiro com duas
rodinhas semelhantes às rodinhas dos parques de diversões.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eles brincam de rodinha!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eles fazem cócegas na mão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Como eles tremem!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu faço criação - explicou Rita - Quando nascem muitos, eu vendo para uma loja
de animais, quer dizer, o meu pai vende.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E quanto custam ? Vou querer um.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O que é que eles comem ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todas
as meninas quiseram alimentar os esquilos e todas queriam um casal para levar
para casa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Às vezes um deles foge - contou Rita - Aí é uma confusão. Um entrou na cozinha
e roeu uma porção de coisas. Outro entrou na gaiola do papagaio e o Mickey
gritava, pendurado de cabeça para baixo : “socorro!”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Rita
tinha ainda uma gata e um cachorro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Puxa, você gosta mesmo de bichos - comentaram as amigas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Tanto gosto de animais como de tudo na natureza. Até organizei um museu ali
naquela estante, venham ver - convidou Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Porque você separa as conchas assim ? - perguntou Sameiro _ E o que são esses
papeizinhos ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pois esses papeizinhos são os nomes das coisas - explicou Rita - Cada concha,
cada pedra, tem um nome, e quando eu não sei o nome, eu separo e vou procurar
nos livros.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Nosso trabalho de folhas! - exclamou Viviane - Por isso você quis ficar com
ele!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas haviam feito na escola , em grupo, um mostruário com os diferentes
tipos de folhas. É claro que o grupo da Ritinha tirara a nota máxima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu fiz um outro mostruário com flores secas - mostrou Rita - Vejam!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Rita, isso é ouro mesmo ? De onde você trouxe isto ? - perguntou Lúcia, pegando
uma pedra.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
De um garimpo de Goiás. Também trouxe esta drusa de ametistas .</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Puxa! Você entende mesmo ! Aposto que vai ser cientista. - falou Viviane.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste
instante, a mãe de Rita chamou da cozinha :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Rita, o lanche está pronto . Traga suas amigas para a cozinha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas foram para casa cantando :<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“É
hora do lanche, que hora tão feliz</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
queremos
biscoitos São Luiz...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
É claro que, antes de
comer, todas aquelas esfomeadas meninas tiveram de lavar as mão muito bem
lavadas. Haviam pego em pedras, esquilos, penas, tartarugas...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
D<sup>a</sup>
Mirtes, a mãe de Rita, serviu leite gelado, suco de laranja, sanduíche de
queijo e bolo de chocolate. Não sobrou nem uma migalhinha para contar história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Estava uma delícia, D<sup>a</sup> Mirtes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
D<sup>a</sup> Mirtes, o seu lanche estava muito gostoso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A sra quer que ajude a lavar a louça ? - perguntou Fátima, que era muito, mas
muito bem educada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não, obrigada - respondeu D<sup>a</sup> Mirtes, para alívio das outras nove
crianças, que, no fundo, não faziam questão de serem tão bem educadas assim. -
Vocês podem voltar às brincadeiras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Venham ao meu quarto - chamou Rita - Venham pegar as carteirinhas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com
muito capricho, Rita cortara retângulos de cartolina e escrevera à máquina :<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> “Clube da Amizade<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
fundado em 19...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
nome do sócio : ....</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
data de nascimento:....</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
validade : eterna.” </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em
cima, à direita, havia um quadradinho para a foto, como nas carteirinhas de
verdade. E ela encapara as carteirinhas com plástico, também !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que capricho ! - disseram as prós.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que frescura ! - disseram as do - contra.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Meu pai vem me buscar às sete - disse Sameiro - Ele disse que a próxima reunião
do clube pode ser lá <st1:personname productid="em casa. Nós" w:st="on">em casa.
Nós</st1:personname> temos piscina, vocês levam maiô, e a minha mãe vai fazer
um churrasco para o almoço, mas é para vocês ficarem até a tarde, é claro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu queria que fosse lá em casa _ reclamou Lúcia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Uma vez de cada. - falou Sameiro. - No próximo sábado é lá <st1:personname productid="em casa. Podem" w:st="on">em casa. Podem</st1:personname> chegar lá
pelas dez.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
toque de campainha soou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É a mãe da Sameiro - disse D<sup>a</sup>
Mirtes - E o pai da Selma também já chegou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Logo
chegaram os outros pais, e em meio a alegres cumprimentos, acabou - se a
primeira reunião do Clube da Amizade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo IV </div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na
segunda - feira o telefone tocou na casa de Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Rita ? É a Viviane.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Oi, Vi.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Estou com vontade de fazer um teatro, mas, olha, é segredo. Você vem aqui em
casa ensaiar a gente. Eu pensei na peça <i>Os
três desejos</i>. A Vanessa de fada, meu irmão de lenhador, eu de mulher do
lenhador. Aí no dia em que a reunião for aqui em casa a gente apresenta a peça,
de surpresa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que legal ! Mas e eu, não faço parte da peça ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você dirige. Vê os cenários, as roupas, o som, que você entende dessas coisas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu ? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você entende de tudo. Até de escrever o texto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Adaptar o texto, você quer dizer. Bem , com o texto tudo bem. Tenho até um
livro do <i>Mundo da</i> <i>Criança</i> que ensina como se faz um texto
para teatro. Mas as roupas... não dá.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Minha mãe diz que ajuda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Bom, aí é outra coisa. Melhorou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Venha
aqui hoje.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Tá. Vou avisar minha mãe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
desligou, sonhadora. Escrever um texto de teatro ... que idéia demais! As
férias não seriam nem um pouco monótonas. Que idéia formidável a de formar o
clube!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
Rita foi fuçar no <i>Mundo da Criança<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mamãe, a Viviane quer fazer uma peça de teatro, aquela dos três desejos do
Lenhador. Você me ajuda a adaptar o texto ? Posso ir até a casa dela ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Claro, claro, amanhã eu cuido disto. Pode sair depois de cuidar do seu zôo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pois
cuidar de tantos bichinhos dava um trabalho danado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Logo
após o almoço, Ritinha foi de bicicleta até
a casa de Viviane, que morava bem perto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passou
pela frente do colégio, agora fechado e silencioso e por uma porção de lugares
: a barbearia, a farmácia, o sapateiro, o armazém. Finalmente avistou a casa da
amiga.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Entre logo - foi dizendo Viviane, animada.<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i> </i>A mãe de
Viviane, D<sup>a</sup> Carolina, era uma mulher alegre, loira e risonha. Em
mocinha, trabalhara em teatro amador e fôra ela que tivera a idéia de fazer a
peça.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-A
garagem dá um palco ótimo. - disse Viviane - Mamãe vai pendurar uma cortina
aqui e aí ficamos separadas da platéia. E este pinheirinho de Natal, neste vaso
grande, está perfeito para a árvore que o lenhador vai cortar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu tenho uma fantasia de fada - disse Vanessa - Com asas e tudo, que usei no
Carnaval passado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Foi esta fantasia que me deu a idéia - comentou Da Carolina - Rita, você tem um
gravador pequeno, desses sem fio ? Aí gravamos o grito da árvore, canto de
pássaros para as cenas da floresta, e música de fundo para os outros atos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A minha mãe vai ajudar com o texto - disse Rita - Até já encontrei no Mundo da
Criança um texto quase todo pronto sobre esta história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É preciso muito exercício, sabe, exercício de teatro, de voz, de corpo, de
personagem, é como brincar de faz de conta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E se a gente pendurasse samambaias nas paredes para criar um clima de floresta
?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E como grudar a salsicha no nariz do Pedro ? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O Pedro já é narigudão, mesmo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não falem mal do meu nariz - protestou o menino.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E a gente precisa de um cartaz bem grande, como nos teatros de verdade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos pintar um. Enorme.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Tem um cavalete lá no escritório. A gente coloca o cartaz nele.<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i> </i>E,
planos após planos, a tarde passou rapidamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seria
duro guardar segredo até o fim do verão...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo V</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
domingo na casa de Sameiro começou cedo.
O pai dela exigiu que todas as meninas colocassem bóias de braço, mesmo
as que sabiam nadar, pois a piscina era funda. Havia um escorregador que fez a
festa. foi um tal de escorregar e mergulhar, escorregar e mergulhar... Que
delícia!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os
primos de Sameiro , três garotos e duas garotas, trouxeram barcos e colchões de
bóia e o tio dela trouxe um violão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É para as horas de sol forte - explicou ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
violão para as horas de sol forte ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mas o violão só faz sombra para um - comentou Marilda, sem entender.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Havia
kafka e lingüiça além dos tradicionais espetinhos e também batatas fritas,
maionese , arroz e frutas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois
de comerem até fartar, todas sentaram - se à sombra de um quiosque e o tio
Felício trouxe o violão.<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pegue
a esteira e o seu chapéu</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos
para a praia comer pastel</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Piririri
pópópópó...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
As crianças bateram palmas
e começaram a dançar e a cantar. Chegara a hora do sol forte.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos fazer um campeonato de música ? - sugeriu o tio Felício _ Vocês se dividem em dois grupos e escolhem as
músicas. Eu toco. O outro grupo tem de dizer o nome da música e do compositor.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Adultos
e crianças divertiram - se a valer, e assim, entre sol, água e cantoria passou
- se o dia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro
que à tarde houve o esperado lanche com pães doces, geléias e bolo de nozes. E
o pai de Sameiro ainda distribui um saquinho de confeitos para cada uma à hora
da despedida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Sábado próximo é lá em casa - falou Lúcia. - Vamos ter uma tarde artística. Levem
tintas, pincéis, cola, tesoura e roupas velhas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
foi mesmo uma tarde artística. À sombra das árvores, o pai de Lúcia armou uma
mesa de tábuas para as meninas apoiarem seus cavaletes e telas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu trouxe gesso e molde para fazer umas estátuas - falou Sonia - E também uns
versinhos para ler para vocês.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Versos seus ? Que legal !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Fiz um para a Ritinha, escutem só :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Se
fugir um esquilinho</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
da
gaiola da Ritinha</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
vai
direto pra cozinha</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
que
o bichinho é espertinho</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
papagaio despenca</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
do
poleiro e põe - se aos gritos</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
‘Socorro,
acudam, amigos’</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
acorda
a gata, o cachorro</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
deixa
todo mundo louco.”<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i> </i>As crianças
riram.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Tem mais , Sonia ?<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i> </i>- Tem : No
churrasco da Sameiro</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Teve show de violão</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Brincamos o dia inteiro</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Gozando
o sol de verão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A tarde está realmente artística - disse o pai de Lúcia - Não só pintores, como
poetas também...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E quem se lembrou de trazer roupa
velha ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Todo mundo - gritaram as garotas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu até trouxe a minha camiseta de estimação com dezessete furinhos - confessou
Selma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Havia
guache e aquarela. Viviane, Vanessa e Rita, que há dias pintavam cartazes para
o teatro, desenhando vários para depois escolher o mais bonito, para variar
haviam trazido argila. E houve quem fizesse colagens.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vou fazer uma cidade de bichinhos - disse a Rita, armando - se de tesoura,
revistas e cola.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No
final da tarde houve cachorro - quente, pipocas e limonada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Estamos tão sujas que parecemos meninos de rua - disse Fátima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não. Parecemos pintores de verdade - falou Marilda, ao que Selma retrucou :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Só de formos pintores de parede...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Esta turma que pintou o sete merece uma foto para a posteridade - e o pai de
Lúcia apareceu com uma máquina fotográfica e com um - clic! - aquele momento
único ficou registrado para sempre, carinhas felizes de artistas traquinas...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo VI
<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Durante
o Natal e o Ano Novo, o clube não se reuniu. É claro que as meninas se
encontraram em passeios de bicicleta, quando vizinhas, ou na piscina do clube
ou se falaram pelo telefone. Mas a época de fim de ano deixava os pais fora de
órbita, como dizia a Sameiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Meu pai acorda de madrugada para dar conta de tantas encomendas lá na
confeitaria...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E tanta coisa que eles inventam de comprar - comentou Marilda - Porque tanta
comida e tanta roupa nova ? Bastava comprar o meu presente e já estava bom...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pois eu gosto de roupa nova - disse a vaidosa Fátima - Roupa, sapato e jóias.
Meus pais sempre me dão jóias no Natal.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A gente podia organizar um chá de bonecas para depois do Dia de Reis -propôs
Selma - Eu tenho certeza de que ganharei
uma boneca nova. E o chá vai ser lá em casa, certo ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E se nós mesmas fizéssemos o chá ? -
sugeriu Marilda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Bem, aí eu não garanto ... - disse Selma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
mãe de Selma, porém, achou a idéia excelente e enfiou -se na cozinha com as
meninas para organizar as turmas :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Selma, Marilda e Vera fiquem aqui e façam o bolo. Fátima fica com a Sonia,
vocês vão bater o sorvete. Viviane, Vanessa e Lúcia fazem a salada de frutas. E
vocês duas espremem as laranjas para fazer um suco natural. E todo mundo lava a
louça e limpa a cozinha depois.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi
uma trabalheira e tanto, mas valeu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
enquanto o bolo assava e o sorvete congelava, as garotas apresentaram umas às
outras as suas bonecas novas. Sameiro ganhara um lindo casal de bonecos de
louça, presente dos avós.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eles as trouxeram da Alemanha - explicou ela - A minha avó disse que o rosto é
de biscuit.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Rosto de biscoito ? - disse Sonia - Por acaso são bonecos de comer ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todas
riram.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Sua boneca tem defeito, Vanessa. Está furada atrás.- disse Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É uma boneca dorminhoca. Você recheia o furo com o seu pijama e ela fica
enfeitando a cama.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E o que é que o meu pijama vai fazer dentro da sua boneca, posso saber ?
-implicou Rita, gaiata, para provocar mais risadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Minha mãe é muito jeitosa - disse Lúcia - Vou pedir a ela que faça uma
dorminhoca para mim com umas cabeças quebradas de umas bonecas velhas que tem
lá <st1:personname productid="em casa. Afinal" w:st="on">em casa. Afinal</st1:personname>
, as cabeças estão boas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você não disse que estavam quebradas ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
As cabeças não estão quebradas. Quebradas estão as bonecas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i> </i>- Eu não
ganhei bonecas, mas ganhei bichinhos - mostrou Marilda - Um urso, um coelho e
este cachorro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O urso vai comer o cachorro que vai comer o coelho - disse Viviane - Aí você
come o urso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pior fui eu que ganhei um rato de pano - disse a desconsolada Vera - E tudo o
que eu queria era uma bicicleta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A minha boneca é a menor mas é a melhor de brincar porque veio com um guarda -
roupas cheio de roupinhas junto. querem ver ? - falou Sonia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De
dentro do pequeno guarda - roupas ela retirou vestidos, saias, blusas, um
pijama, um vestido de baile, bolsas, cintos, sapatos e até uma peruca.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que luxo! - exclamou Rita - Não tem pasta de dente também ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E porque uma pasta de dente ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E porque uma peruca ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Para ela se disfarçar. Ela é detetive.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E o que ela vai descobrir ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Os seus segredos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não precisa, não. Eu conto. Ganhei um teatro de fantoches. Eu trouxe para
mostrar. A gente monta o palco assim, olhem como é fácil, se esconde atrás e
coloca os fantoches na mão desse jeito... - havia cinco bonecos e todas as
meninas quiseram brincar de fantoches.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos botar ordem na bagunça - exigiu Selma - A Rita armou o palco e como ela é
dona do brinquedo, ela começa. Rita, vá lá para trás e conte como foi o seu
Natal. Depois sou eu, que sou dona da casa e depois uma de cada vez, tá ? Agora
senta todo mundo no chão. O espetáculo vai começar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Boa tarde, amiguinhos - falou Rita, aliás, uma avozinha de óculos de aros
redondos e coque - Eu não quero contar sobre o Natal .Eu vou é contar uma
historinha para vocês.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Conte logo a história, vovó. Conte!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vovó uma pílula. Não sou avó de nenhuma de vocês. Respeito com os mais velhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
A benção, minha senhora, Não sabemos o seu nome.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Da Astralgisa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Risos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Crianças malcriadas! Estão rindo de mim ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Conte a história logo. Conte. Conte.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pois bem. Era uma vez um pintinho perdido na floresta. Era uma noite chuvosa. A
tempestade estava forte, trovejou e relampeou e depois a chuva passou. Como era
o nome do pintinho ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
meninas se entreolharam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Como é que nós vamos saber ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Relam ! - anunciou Rita, vitoriosa - Vocês não prestaram atenção ? Trovejou e
Relam piou...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah ! Não vale ! - gritaram as meninas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
mãe de Selma apareceu à porta:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mocinhas ! Isso lá são modos de senhoritas educadas que se reúnem para tomar
chá ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah, mamãe, foi a Rita que contou uma piada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu, não. O Relam. O Relam é que piou...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Bem, o sorvete gelou e a mesa já está posta para o lanche, garotas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Oba! Vou comer o bolo que eu fiz !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Experimente o sorvete que eu fiz !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
assim passou - se mais uma tarde feliz.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo VII</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sonia
foi quem organizou a tarde cigana.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela
armou uma tenda no quintal . Ela, não, o primo dela, que era escoteiro e que
emprestou a tenda para ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não está muito cigana - queixou - se ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Dá - se um jeito - sugeriu o primo -
Enfeite com uns lenços coloridos da sua mãe, e podemos colar umas luas e
estrelas na lona.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
globo de luz vazio, redondo, emborcado de cabeça para baixo, fez as vezes de
bola de cristal. Um baralho, um pouco de incenso e estava criado o clima dentro
da tenda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sonia
tinha uma fantasia de cigana. Seus longos cabelos cacheados caíam por debaixo
do lenço enfeitado de medalhinhas. Diversos colares, brincos , cintos e dezenas
de pulseiras fininhas completavam o traje.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Querem saber o futuro ? Quem quer ler a buena dicha ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É preciso pagar ? - perguntou Lúcia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Hoje é de graça. Façam filas, senhoras e senhores.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Nós todas queremos ouvir, senão não tem graça. todo mundo na tenda !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda
bem que a tenda era bem grande. As dez amigas espremeram - se lá dentro, à luz
de uma lanterna. Sonia queria velas, mas a mãe não deixou, achou muito
perigoso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sonia
pegou a mão de Lúcia :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Sua linha da vida é loooonga... você viverá 250 anos. Terá uma dúzia de filhos
e vai enterrar quatro maridos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E dinheiro ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você nunca será rica de bolso, mas será rica de afeto, não se pode ter de tudo
na vida, não é ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Agora eu ! - quis Rita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sonia
debruçou - se sobre a bola de crista :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Estou vendo .... elefantes... girafas... focas... uma fila enorme de
crianças... O Zôo da Rita... A famosa bióloga Rita na capa das revistas e dos jornais .... descobriu uma nova espécie
de carrapato no Morro da Nova Cintra...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E o amor ? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah, vejo um homem alto, loiro, liiiindo ! ...Você vai conhecê - lo na
África.... Ah, é um romance impossível. Você é uma defensora da vida animal e
ele é um caçador de elefantes... O marfim os separa...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Tire as cartas para mim, Sonia - e Selma
sentou - se em frente à amiga.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
ciganinha toca a embaralhar e a cortar o maço de cartas. Embaralhou e cortou
três vezes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Agora você divide em três.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
começou a botar as cartas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah, uma carta.... uma carta de um homem mais velho.... muito velho.... é um
testamento...vejo um país distante, do outro lado do mar....querida, você vai
ficar rica. muito rica... e vai morar em Paris.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E a profissão ? O que é que eu vou ser ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah, isto é muito interessante...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O que ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Você vai ser astronauta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Risos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Espere. Estou vendo aqui.... um casamento.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E meu marido é rico ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vocês vão se conhecer no espaço....</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah , ele é astronauta, também!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Não, é um marciano.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
entre uma previsão e outra, botando cartas, lendo a mão, as horas se passaram
rapidamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Que tal um lanche cigano ? - ofereceu Sonia, lá pelas tantas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O que tem no lanche cigano ? Biscoitinhos da sorte ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Disfarça, Marilda, os biscoitinhos da sorte são chineses...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Mamãe fez um bolo de prendas, por isso , tomem cuidado ao mastigar, não vale
comer as prendas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
D<sup>a</sup>
Alice tivera o maior capricho em separar o bolo em fatias contendo cada uma,
uma prenda. E lá foram aparecendo ...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Um navio ! A Lúcia vai viajar !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Uma moeda ! Aí, Sameiro, quando ficar rica não esqueça das amigas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Uma aliança . A Rita vai ser a primeira a casar...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
--
Um bebê! Fátima vai ter um filho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Uma casa para a Viviane !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vera
tirou um coelho, e houve muita discussão para saber o que este bichinho
significava.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ela vai ser veterinária.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Não,
ela vai ser fazendeira.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Pé de coelho dá sorte. Então, ela vai ter sorte na vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Atenção, atenção, a cigana quer falar - anunciou Sonia - A sorte é a gente que
faz. E como nós somos boas, todas nós vamos ter boa sorte na vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
É isso aí.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
E vocês já viram festa cigana sem música ? Vamos dançar, que eu descolei um
disco com músicas ciganas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Viva !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Viva !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
dez ciganinhas foram rodopiar na sala, tocando castanholas imaginárias e
fazendo de conta que rodavam longas saias invisíveis.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Momentos
felizes que perduram para sempre...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
capítulo VIII</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
início das aulas estava próximo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
como o Carnaval seria no último fim de semana de férias, Viviane falou para as
amiguinhas:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Sábado haverá um baile a fantasia lá em casa, com concurso e prêmio para a
fantasia mais bonita, e os pais de todo
mundo estão convidados também, certo ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vanessa
e Rita trocaram um olhar cúmplice.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Aí tem coisa ! - gritou Lúcia - O que vocês duas estão tramando ?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Ah, é uma surpresa - disse Vanessa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No
sábado, as crianças chegavam curiosas e D<sup>a</sup> Carolina as levava até a
garagem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
grande cartaz colorido anunciava :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“
Somente hoje</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
OS
TRÊS DESEJOS</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
espetáculo
teatral em 3 atos</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
atores
: Viviane, Vanessa e Pedro</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
sonoplastia
: Rita ”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
D<sup>a</sup>
Carolina arrumara filas de cadeiras na garagem .</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que
platéia gozada! Lúcia de havaiana, Selma de índia, Sonia de odalisca, Sameiro
de bailarina, Rita de cigana, Marilda de pirata e Fátima de melindrosa. Entre
os primos e irmãos que também haviam sido convidados, havia quase cinqüenta
crianças.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Rita
ligou o gravador e ouviu - se uma música suave, ao fundo uma multidão de
passarinhos pipilando alegremente :</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Amanhece
na Floresta Encantada, e o lenhador encontra uma bela árvore...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
D<sup>a</sup>
Carolina puxou as cortinas e Pedro apareceu, de bigode postiço, boné, calças de
suspensórios com remendos nos joelhos. Quando ele ergueu o machado e desferiu
um golpe na árvore, ouviu - se um grito:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ai!
Ai! Valha- me, fada da floresta !”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vanessa
entrou dançando na ponta dos pés, linda, com purpurina nos cabelos e um diadema
de strauss. E a peça prosseguiu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Viviane
amarrara um lenço na cabeça e aparecia de avental e rolo de macarrão na mão,
uma autêntica megera doméstica. E quando ela disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Queria que esta lingüiça grudasse no seu nariz! - passou pela frente de Pedro,
que rapidamente colocou uma máscara, com uma lingüiça grudada no nariz! Ficou
muito engraçado. D<sup>a</sup> Carolina fora muito jeitosa ao costurar a
máscara.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No
final, houve protestos dos expectadores:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu queria ter participado!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Eu também quero fazer teatro!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os
aplausos foram calorosos. Todos se divertiram muito.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Viviane
foi trocar - se e voltou fantasiada de coelhinha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Vamos começar a matinê, pessoal!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
D<sup>a</sup>
Carolina trouxe os discos de Carnaval e o aparelho de som para a garagem.
Retiradas as cadeiras, havia muito espaço para as crianças pularem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ó
jardineira porque estás tão triste...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os
pais haviam, de comum acordo, organizado um “bota - fora”, como se dizia antigamente,
uma despedida. Despedida do que ? Ora, das ferias, evidentemente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Um
pierrô apaixonado...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
músicas prosseguiam, alegre, enquanto os silenciosos pais entravam na sala,
trazendo refrigerantes e cerveja geladinha (somente para os adultos, claro).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Alá
la ô ôôô ôôô ... mas que calor ôôô ôôô...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
quando o bailinho terminou, com a tradicional musica:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“É
hoje só só só , vai acabar já já ...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Houve
um último frevo, bem rapidinho, e os corpinhos infantis, derreados, desabaram,
em meio a montes de confete e serpentina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
Atenção! Atenção! O concurso !</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Entre
os aplausos dos pais, as crianças foram desfilando. Havia fantasias
caprichadas, algumas até bordadas com pedrarias, mas o prêmio ficou para Vera,
que estava original com suas faces sardentas, shorts rasgado, camisa abotoada
errado com meia fralda para fora, um sapo ( de plástico, é claro) espiando pelo
bolso da camisa e um enorme estilingue pendurado no bolso de trás.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-
O prêmio! O prêmio! - pediram todos.</div>
<div class="MsoNormal">
E veio
o prêmio , aliás bem apropriado : um enorme saco de confete, cinco rolos de
serpentinas e uma máscara de saci ! Vera colocou a máscara e saiu pulando em
uma só perninha...</div>
<div class="MsoNormal">
- Estou
morta de sede - comentou Selma, esvaziando a ultima jarra de limonada ainda à
vista.</div>
<div class="MsoNormal">
- E eu
com fome - reclamou Vanessa - Mãe, cadê o lanche para recompor as energias dos
seus foliões ?</div>
<div class="MsoNormal">
- Lá na
sala, mas primeiro lavem as mãos.</div>
<div class="MsoNormal">
E na
sala, pilhas de pratos descartáveis e duas dúzias de pizzas gigantes,
quentinhas, esperando para serem devoradas.</div>
<div class="MsoNormal">
- Viva
o Carnaval!</div>
<div class="MsoNormal">
- Viva
a alegria !</div>
<div class="MsoNormal">
- Um
brinde ao fim das férias!</div>
<div class="MsoNormal">
- Vivam
as pizzas!</div>
<div class="MsoNormal">
E a
criançada gritava Viva! Viva!Viva!</div>
<div class="MsoNormal">
- Puxa,
Rita, que pena que acabou o clube! - suspirou Sonia.</div>
<div class="MsoNormal">
- Quem
disse ? - falou Lúcia - Terminaram as férias, mas o clube continua.</div>
<div class="MsoNormal">
- Vai
começar de novo aquela chatice de escola, ler , escrever e contar .... -
resmungou Marilda.</div>
<div class="MsoNormal">
-
Escrever ? - repetiu Rita, com um brilho já nosso conhecido nos olhos.</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu
conheço esta sua cara - disse Sonia - No que é que você está pensando ?</div>
<div class="MsoNormal">
- Acabo
de ter uma idéia. Ouça só : a Marisa passou as férias no Rio, eu vou fazer uma
entrevista com ela sobre a viagem; você, que escreve poesias...</div>
<div class="MsoNormal">
- O que
você quer fazer com minhas poesias e a tal entrevista ?</div>
<div class="MsoNormal">
- Um
jornal, Sonia! Você faz a parte literária, a gente bola uma seção de piadas,
outra seção de fofocas da semana e lançamos “O Jornal do Clube da Amizade”
entre as garotas do 3°B e companhia.</div>
<div class="MsoNormal">
- E aí
...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E aí
começa uma outra história, que fica para uma outra vez. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>fim</b><i> <o:p></o:p></i></div>
Sonia Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/06628559588746977262noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548927944768727216.post-3968854583064721322011-12-27T11:07:00.000-08:002011-12-27T11:07:47.766-08:00Uma cinquentona em férias.<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Aotearoa, o pais das longas nuvens brancas, ou o nova costa: New Zealand</span></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Queenstown</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="http://www.earnslawlodge.co.nz/"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">www.earnslawlodge.co.nz</span></a><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"> <br />77 Frankton Road <br /><a href="http://www.patragoniachocolates.co.nz/">http://www.patragoniachocolates.co.nz/</a> <br />50 Beach Street <br /><a href="http://www.skyline.co.nz/">http://www.skyline.co.nz/</a> <br /><a href="http://www.kiwibird.co.nz/">http://www.kiwibird.co.nz/</a> </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Esta viagem seria a primeira que faria sozinha. Felizmente a filha a ajudara com a internet a reservar passeios e hotéis na Nova Zelândia.<br />Qantas (a commpanhia de aviação em que agendara o vôo) em greve, vulcão ativo no Chile, resultaram em atraso do vôo, contratempo que não chegou a atrapalhar muito a viagem. Chegara, finalmente.<br />Deveria pegar um ‘chato’ no aeroporto – a filha dissera assim: fala-se ‘chato’. Ela lera <i style="mso-bidi-font-style: normal;">shuttle</i> e já estava inventando uma pronúncia diferente. A gente sempre evita os sons que lembram palavras portuguesas quando falamos em inglês.<br />Pagou os 30 dólares ao motorista e logo estava no hotel dirigido pela Mrs. Lynley, uma simpática irlandesa muito gorda e risonha. A filha e o genro ficavam rotineiramente neste hotel quando vinham para esquiar nas férias.<br />É um simpático hotel, com vista para o lago Wakatipu, em Queenstown.<br />Wakatipu é o nome de uma deusa gigante que caiu na terra e ficou lá sentada, extasiada decerto com a beleza do lugar – sentada pois a forma do lago lembra uma pessoa sentada.<br />Sorriu.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembrava-se de como se confundia e conversava com a filha falando: ‘quando eu for para Queensland’, e a filha ria: se você chegar no aeroporto e falar que vai para Queensland, o pessoal vai fazer você embarcar num avião para a Austrália! Ela detestava confundir nomes, rostos e datas, o que estava sempre acontecendo, o que fazer, seu cérebro era assim e pronto, esse é um dos seus pontos fracos.<br />A Nova Zelândia., pelo menos a ilha sul, dava mesmo a impressão de ser uma geladeira, apesar de já ser final de primavera. Dava mesmo a impressão, como diziam no site portadaocenia, de que se esqueceram de desligar o ar condicionado.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
A filha havia dito que ela deveria andar de gôndola no primeiro dia, então ela deixou as malas no quarto, pegou um mapa na recepção e aventurou-se pela cidadezinha. Apenas para descobrir que sua bussola interna, como de costume, não funcionava. Pegou a direita, logo percebeu que estava a voltar para o aeroporto, então virou pra a esquerda e foi rodeando o lago.<br />Até então só vira montanhas. Passaram pela cordilheira dos Andes tão próximo ao Aconcágua que ela tivera a impressão de que poderia tocá-lo com a mão. E ao aproximarem-se de Queenstown, vira as montanhas de cima, enrugadas e rachadas, mas sem neve. A seu lado, uma brasileira que vivia ali há cinco anos, foi gentilmente contando fatos sobre a região:<br />As montanhas, no inverno, são muito belas de se ver daqui de cima, cobertas de neve, mas agora... este ano, aliás houve pouca neve, é preciso 80 cm de base para que as pistas de esqui funcionem direito, e no auge do inverno só havia 50 cm de neve, uma estação perdida, esta, houve uma nevasca atrasada em agosto, e graças a Deus a competição de baseball salvou-nos do prejuízo, veio muito gente, do mundo todo, para esta competição, notou as bandeirinhas dos países competidores que estão por toda parte?<br />Não havia como não notar, ela já estava pensando a quem perguntaria sobre aquilo, e a resposta veio espontaneamente; durante toda a semana veria as bandeirinhas e ouviria comentários e piadas sobre a tal competição, muito esperada e curtida pelos kiwis. (como o pássaro símbolo da Nova Zelândia é o kiwi, os habitantes recebem este apelido carinhoso) A brasileira também falou do merino, excelente lã fabricada na região com pelo de carneiro misturado a de outros animais de boa lã, como o possum e a alpaca; o merino é muito quente, bonito e leve; das fazendas de ovelhas, do lago Wakatipu, das montanhas Remarkables Rocks e do filme <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O senhor dos anéis</i> que foi em parte filmado em Queenstown e em Fiordland. Como curiosidade, ela ficou sabendo que mais de três mil brasileiros vivem atualmente em Queenstown, tanto que os serviços religiosos tem um horário especial rezado em português, especialmente para os brasileiros. A brasileira trabalhava em um hotel, não o mesmo em que ela ficaria, e ao descer no aeroporto separaram-se, a outra em direção ao filho que a esperava e ela em direção a esteira de bagagens, em duvida se estaria sendo rude ao dizer o rápido até logo. Enfim, a outra tagarelava por duas e ela não tivera muita oportunidade de falar.<br />Então, saindo do hotel para o seu primeiro passeio, olhou com atenção para as montanhas Remarkables – belas, realmente, todas recortadas contra o céu intensamente azul.<br />O lago, muito azul, com as águas encrespadas pelo vento, estava quase vazio – seria pelo frio? Andando ao redor dele, fatalmente acharia o centro, pois estava confusa com o mapa. Realmente, havia uma bifurcação que ela logo descobriu que dava no mesmo lugar, por cima ou por baixo, chegava-se ao centro. Imensos pinheiros, do tipo que cresce no Paraná, porem com pinhas minúsculas e galhos imensos, altíssimas – que contraste, arvores tão grandes darem pinhas tão minúsculas! Se pudesse, recolheria algumas pinhas para fazer enfeites de Natal, tão bonitinhas, tão mínimas...<br />Havia muita gente no centro, ela procurou primeiro o banco para trocar o dinheiro e em seguida um restaurante, para almoçar seu primeiro ‘lamb’. Os kiwis preparam esta iguaria com filhotes de ovelhas de carne macia pois só tomam leite. Acompanhado de um vinho local, tinto, e acompanhado de purê de batatas, o almoço estava delicioso.<br />Depois disso, ela procurou a Patagônia, a confeitaria local, onde a filha recomendara que experimentasse o chocolate, e ela descobriu tratar-se de uma sorveteria. Naquele frio intenso, muitos jovens kiwis em trajes mínimos de verão tomavam sorvete, ao lado de tiritantes turistas encapotados até as orelhas, em um contraste cômico. Ela estranhou os trajes dos jovens, de chapéus com chifres e desenhos de cicatrizes nas faces, até mesmo as moças que serviam no balcão estavam assim, estava a pensar que havia ali tribos de darks, metaleiros e outras, até mesmo duas mulheres velhas estavam com estranhos ornamentos nos cabelos, parecendo bruxas, e a filha, esta mesma noite, conversando pela internet, a esclareceu: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mãe, lembra que aí hoje é dia do Halloween!</i> <br />E, é claro, nos outros dias, todos estavam vestidos do jeito normal.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Como ela não achava a gôndola, por mais que virasse o mapa para todos os lados, resolveu sair andando a esmo e olhando para cima, ate ver os bondinhos, ai foi só seguir naquela direção e logo se encontrou no local certo.<br />Em frente ao embarque das gôndolas, há o parque Kiwibird. Pagou os 25 dolares e entrou. Viu ali os maiores pinheiros de sua vida, sem duvida ali filmaram O Senhor dos Anéis. O parque tem um sistema pratico de gravador portátil que vai contando ao turista, em sua própria língua, tudo sobre as arvores, flores, e, é claro, os pássaros ali enclausurados. Ela ouviu as primeiras, mas logo deu-se conta de que as mesmas coisas estavam escritas ou nas placas do parque ou no folheto de orientação que recebera. Tirou o fone dos ouvidos e ficou ouvindo a sinfonia real, das centenas de passarinhos soltos na reserva. Um espetáculo à parte. Claro que viu exemplares dos kiwis, o passarinho tímido quase extinto, protegido por lei. E assistiu a um show com pássaros e até um possum – finalmente ela via o seu primeiro possum, bem grande e felpudo.<br />Depois, na lojinha do parque, simplesmente teve de comprar um agasalho condizente – um merino, naturalmente, leve, quente, bonito, que a acompanhou pelos próximos dias e a manteve quentinha e confortável.<br />Depois, subiu a gôndola. Lá em cima fez de tudo o que tinha direito: andou nos carrinhos que desciam a montanha, um pouco encabulada pois os meninos pequenos a ultrapassavam facilmente, assistiu ao show dos maoris, a Kiwi Haka, jantou no restaurante panorâmico vendo por do sol no lago Wakatipu e comprou dois livros sobre os maoris na lojinha ao lado.<br />O show dos maoris foi interativo. A primeira surpresa foi o tamanho deles, são muito altos, mesmo as mulheres. A segunda foi a alegria e a energia com que dançam e se expressam. A dança de acolhida é muito alegre e bonita, e a dança de guerra realmente assustadora. Um dos rapazes traduziu a letra da Haka e depois explicou porque a lança deles tem uma ponta espalmada e outra fina com um detalhe largo logo após a ponta:<br />A letra da canção diz mais ou menos assim: foi te pegar, te esganar, te trucidar, te esmagar, te pisotear, furar o teu crânio, abrir tua cabeça, comer o teu cérebro.<br />E o dançarino mostrou como a lança é usada para furar, alargar o furo com o detalhe largo após a ponta, abrir o crânio como uma tampa usando a parte espalmada da lança que também serve de colher para saborear o cérebro do inimigo, o que, para o guerreiro, é uma iguaria... Aí ele lambeu os lábios e sorriu, explicando que hoje em dia, eles preferem as iguarias do Macdonalds...<br />As mulheres maoris mostraram para as mulheres da platéia como usar o poi – um tipo de io-io em forma de bola com que elas fazem malabarismos ao dançar – foi gostoso subir ao palco e dançar com elas, mesmo se atrapalhando toda para fazer os gestos corretos, claro que todas erraram um pouco, acertaram outro pouco e todas se divertiram em dançar.<br />A seguir foi o jantar.<br />A comida estava deliciosa, após a salada fria de frutos do mar tudo o mais seria gulodice, brasileiro não costuma jantar tão cedo, com o sol ainda à vista. E, é claro, ela preferiria estar acompanhada para conversar.<br />Ao descer, ainda estava claro e ela foi caminhando em direção ao hotel, estranhando as ruas já parcialmente vazias – em frente às marinas os bares estavam cheios de gente, degustando os vinhos locais. Havia cartazes anunciando os passeios de barco mais caros que ela já vira. A brasileira do avião recomendara que andasse de lancha a jato – é seguro e emocionante, dissera ela. De qualquer forma, a previsão do tempo para o dia seguinte era chuva, e ela estaria excursionando em Fiordland.<br />Comprou no caminho umas barrinhas de cereais feitos com mel, macias, deliciosas, em uma loja graciosa que fazia ‘cookies’ somente para ‘serious cookiemunchers’, ou seja, fazemos biscoitos para aqueles para quem comer biscoitos é uma atividade levada a sério. E os biscoitos tinham carinha feliz...um lugar para encantar crianças e adultos.<br />Avisou Mrs. Lynley que pretendia tomar o café da manhã ali. A filha dissera que havia muitos locias perto para comer, mas ela não estava com disposição de andar três quadras ou mais até o café mais próximo debaixo de chuva, logo ela que acordava com a fome, mesmo estando prevenida com barrinhas de cereias que logo descobriria serem as mais deliciosas que já comera em toda a sua vida, feitas com mel, macias de derreter na boca.<br />E logo entocou-se na cama quentinha, após um banho morno, para adormecer na expectativa do próximo passeio.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Fiordland</span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Na manhã seguinte, ela desceu para o café, em tempo de garantir o horário da excursão.<br />Café fora do Brasil é complicado – ou é aguado, ou é amargo e fraco, ou é servido com leite gelado em dedal. Os potes de leite parecem mesmo pequenos dedais, e a gente acaba tomando leite com café e não café com leite.<br />Havia sobre a bancada um pote de água fervendo, um bule com leite (gelado), garrafas térmicas com café amargo e aguado.<br />Ela serviu-se de água quente e preparou um chá. Inglês, kiwi ou australiano, todos os sabores de chá são deliciosos. O mesmo diga-se dos iogurtes cremosos, com ou sem frutas, misturados com o mel local. Divinos! E o pão de forma, com sementes de linhaça, estava também muito saboroso com a manteiga cremosa e com geléia de laranja.<br />Subiu para escovar os dentes e pegar sua mochila, estando pronta dez minutos antes do prazo como manda a prudência. O ônibus que passou para pegá-la estava lotado de pessoas de todos os países possíveis – indianos, sempre, asiáticos de todas as procedências, nórdicos, europeus, e uma espanhola com quem ela conversou e lanchou, Esperança, que vivia há dois anos na Austrália.<br />Passaram por diversas pequenas cidades, como Dunedin e Te Anau, antes de entrar no parque propriamente dito. Pareciam miniaturas, as casinhas todas arrumadinhas, os carneirinhos por toda parte – haja lã! O que esta gente faz de tanta carneirada?<br />Viajando sem maquina, ela sentia-se livre para observar a paisagem, mergulhar na beleza. As filhas não entendiam como ela podia viajar sem fotografar – quando envelhecerem também irão entender, pensou ela, não tem graça nenhuma foto de gente velha, a mocidade gosta de se ver nas fotos por serem bonitos, como ela também gostara das fotos que tirava na mocidade. <br />O parque nacional Fiordland é imenso, o ônibus levou quase duas horas para chegarem a Milford Sounds onde pegariam um barco para velejar junto aos fiordes.<br />Pararam ainda outra vez em frente a uma praia, e aí, em uma barraquinha de lembranças. Ela comprou o que chamava de casaco de vento – uma jaqueta à prova d’água com malha térmica por dentro – rosa com o desenho de um pássaro kiwi no peito, bem bonitinha, que a acompanharia pelos próximos dias. E aí ela começou a entender a lógica das imensas mochilas dos neozelandeses – depois de colocar a garrafa de água, um casaco de vento e um merino, a mochila já está imensa....<br />Ao chegarem finalmente ao atracadouro, ela estava faminta e arrependida de não ter comprado alguns doces no caminho – para sua surpresa, o almoço incluso prometido pela agencia de viagens era na verdade um kit de picnic – frio! Verdade que o frango com queijo que recheava o pão macio estava muito saboroso, mas naquela temperatura, seria muito mais desejável alguma coisa muito, muito quente para comer. Havia também uma maçã e alguns biscoitos. E do lado de fora, leões marinhos, pingüins, gaivotas, as belíssimas rochas - e a chuva! <br />Ah, a chuva não deixou que vissem o pico Mitra refletido na água azulada, pois a água estava cinzenta e o céu cheio de nuvens encobria os picos dos fiordes mais altos... e nem por isso deixam de ser impressionantes e ela pensou que dos altos daqueles picos, milhões de anos a contemplavam, indiferentes.<br /><br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">A caminho de Christchurch</span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="http://www.camelot.co.nz/"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">www.camelot.co.nz</span></a><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><br />28 Papanui Road – Merivale – Canterbury <br /><a href="http://www.gardentour.co.nz/">http://www.gardentour.co.nz/</a><br /><a href="http://www.culturalprecinct.co.nz/">http://www.culturalprecinct.co.nz/</a><br style="mso-special-character: line-break;" /><br style="mso-special-character: line-break;" /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
No dia seguinte pela manhã, repetiu-se a rotina do café da manhã, exceto pelo fato de que ela encerrou a conta e desceu com as malas, pois na noite seguinte dormiria em Christchurch – a bela cidade atingida por dois terremotos em menos de um ano. A filha saíra de lá um dia antes do primeiro terremoto, e não queria voltar lá, com medo de outro, mas ela não temia os terremotos. Afinal, como a filha costumava dizer, tragédia na Nova Zelândia significa que morreram duzentas ovelhas – mas no terremoto morreram algumas pessoas, sim, e a linda catedral ficara muito danificada e ela não poderia visitá-la.<br />O ônibus passou por diversas pequenas cidades, como Cromwell, às margens do lago Dunstan – ali viu um mercado onde estavam vendendo mel em potes cremosos, doces de todo tipo, frutas belíssimas e maduras, vinhos locais e queijos. Ela ficou embaixo de umas árvores ouvindo os pássaros, pois é claro que não iria carregar doces, frutas ou queijos consigo!<br />Ela gostou especialmente do lago Tekapo – estava um vento terrível quando passaram por ele, suas águas azuladíssimas encrespadas e revoltas. Viram a estatua do cão pastor, o guia ficou vários minutos a contar a história do fazendeiro que trouxe as ovelhas para aquela região e seu cão, homenageado na estátuta; visitaram a pequena igreja em frente ao mar, porém o espetacular é mesmo o lago em si. Que cor! Só mesmo vendo para entender o deleite que é admirar aquela água gelada e linda.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
As paisagens sucediam-se, umas mais maravilhosas que as outras, até chegarem ao Monte Cook, pela hora do almoço.<br />Monte Cook que ninguém viu, por causa da chuva, das escuras nuvens e da neve – sim, neve, pois nevou no exato momento em que desceram do ônibus e ela não se importou de sair de nariz para cima, braços abertos, cara de boba, era a primeira vez que via neve e uma americana também exclamou, com ar maravilhado: Neve!<br />O almoço ali foi um almoço de verdade, servido em um salão elegante e a seleção de iguarias foi excelente – até mesmo ostras e grandes mariscos para serem degustados.<br />Só cinco pessoas escolheram almoçar – os demais preferiram comer na lanchonete. A mesa do almoço foi servida para cinco pessoas – ela e dois casais de americanos, com nomes estranhos impossíveis de lembrar, e que entabularam uma conversa polida, assim ela pode praticar um pouco de seu inglês. Um dos americanos já estivera uma vez no Brasil, para surpresa dela, ele estivera no sul, em Florianópolis.<br />Depois de deixarem Monte Cook para trás, após vinte minutos, apareceu o sol e o tempo permaneceu claro até a tarde.<br />Quando o ônibus a deixou no hotel em christchurch, ela foi informada que teria de tomar café no quarto, pois ali tratava-se de um bed breakfast - e o rapaz do hotel levou para seu quarto tudo o que precisaria para tomar uma excelente refeição – na verdade, ele levou tanto pão, biscoito, fruta, mel, iogurte e cereal, que ela poderia comer todas as três refeições do dia com tudo aquilo.<br />Ela tomou um banho rápido, pegou seu mapa local e tratou de andar ao ar livre o máximo tempo possível, primeiro porque ali perto havia um parque muito grande e bonito, segundo porque estivera sentada por longas horas, terceiro porque se chovesse no dia seguinte ela não poderia passear nos parques.<br />O dia longo só escureceu depois das oito da noite, e ela pode passear e congelar em meio a belas árvores, flores, pássaros e esportistas praticando ciclismo, corrida, ou caminhando, como ela própria. Que bom que comprara seu merino! Lembrava-se do tom jocoso com que o pessoal do site portaldaoceania referia-se ao congelado turista – era exatamente assim que ela se sentia – uma congelada e extasiada turista.<br />Antes de dormir, agradavelmente gelada, usou a internet do hotel para enviar mensagens para a filha, agradecendo a excelente escolha do roteiro.<br />No dia seguinte passeou pelo Jardim Botânico, quando começou a chover entrou em um trenzinho parado em frente ao museu, que anunciava passeio Caterpilar – ela entrou por dois motivos – para fugir do frio e da chuva e porque achou que o passeio era sobre insetos. A guia, motorista, uma senhora loira muito simpática, começou a conversar com ela, a única passageira do dia naquele horário, quando soube que ela era brasileira contou que já estivera no Brasil, em Florianópolis, uma ilha muito bonita, visitando a cunhada, pois seu irmão se casara com uma brasileira, e, disse ela, ficou muito admirada de ver que nossos pinheiros dão pinhões gordos que se podem comer!<br />Bem, conhecer dois estrangeiros que vieram a Florianópolis na mesma semana, isso é uma tremenda coincidência. Até então, em suas viagens, ela só conhecera estrangeiros que falam do Rio de da floresta amazônica.<br />O passeio durou uma hora, e parou quase no mesmo instante em que a chuva também parou. Depois de uns dez minutos, ela, inquieta, perguntava-se quando começaria o discurso sobre os insetos, pois a simpática guia so falava das arvores e das flores, e então deu-se conta de que o trenzinho, compriiiido, era que era o caterpilar! Ai,ai...<br />O museu de Christchurch a encantou. Havia uma réplica da cidade inicial, com suas lojas e profissionais do século XIX, em tamanho natural, que a encantou. A pessoa podia sentir que estava mesmo andando pela cidade antiga, vendo as lojas de brinquedos de madeira, as lindas bonecas, a casa de roupas femininas, o sapateiro, a chapelaria, até um cavalo estacionado em frente ao poste de luz com os dizeres: Crianças podem montar.<br />Na parte de antropologia, imensas cenas onde se viam os primeiros maoris caçando a moa, pássaro hoje extinto, sem asas, que devia ser mansinho como o kiwi de hoje.<br />Maravilhosos estes museus interativos, em seu tempo de menina, os museus eram locais enfadonhos onde as crianças não podiam mexer em nada, e os adultos ficavam o tempo todo brigando com elas, e, bem, crianças são curiosas e devem poder mexer em tudo para aprender.<br />Ao final da visita, parou na cafeteria do museu para tentar um moka – inutilmente, tudo o que este povo faz com café é simplesmente intragável para o paladar brasileiro, só serve mesmo para aquecer as mãos congeladas. Voltou a pedir chá – sempre bom nos países de língua inglesa – com um delicioso bolinho, coisa que estes povos fazem com maestria, um mais gostoso que o outro.<br />Era uma pena que o terremoto tivesse destruído o centro da cidade e ela não pudesse ver a linda catedral, que estava fechada para reformas, nem as outras atrações do centro; aliás, havia tantos lugares em reformas pelas avenidas que ela desistiu de tentar espiar o centro. Toda vez que tentava desviar de uma rua interditada, perdia-se.<br />A cidade havia sofrido dois terremotos – um em setembro de 2010 e outro em fevereiro de 2011 – este segundo destruiu tudo o que havia sido reformado até então e a cidade teve de começar tudo de novo, com imenso prejuízo de tempo e dinheiro.<br />Ao final da tarde ela voltou ao hotel, acabou de comer os biscoitos do café da manhã, encerrou a conta e esperou o taxi que a levaria ao aeroporto, onde voaria para Aukland.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Vôo curto. Chegou em Aukland ainda com a luz do dia.<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Aukland</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="http://www.presidenthotel.co.nz/"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">www.presidenthotel.co.nz</span></a><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><br />Best Western President Hotel<br />27-35 Victoria Street West</span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Aukland, como qualquer metropole, é barulhenta, suja, e, surpresa ruim: quente.<br />Ah, que saudade do friozinho da ilha sul...<br />O hotel, apesar do nome pomposo, foi o pior de todos, com o quarto simples, escuro, pequeno, e o atendimento péssimo. Ninguém pegou suas malas, e os chineses da recepção pareciam ter vindo da China na véspera sem nenhum curso de inglês. Tudo o que faziam era balançar a cabeça e dizer: hum hum...<br />Ela quase gritou até que um deles chamou de lá de dentro um indiano que emitia sons diferentes de hum hum e finalmente entendeu que ela não conseguia acessar o computador; resolver o problema – fez aparecer a janela para colocar a senha provisória fornecida pelo hotel. De quebra conseguiu entender que ela estava pedindo um mapa da cidade e jantar. O mapa estava em um balcão ao lado do elevador, quanto ao jantar, ela podia comer em qualquer lugar lá fora... que gentileza!<br />Resolveu não ariscar perder-se. Não era boa em seguir mapas. Olhou onde ficava a estação de ônibus, as varias lanchonetes e restaurantes da quadra, optou por uma sopa, levou um pacote de bolachas para o dia seguinte e foi dormir.<br />A excursão do dia seguinte era organizada pela Great Sights e levava passageiros de varias nacionalidades para Waitomo Caves, Agrodome (uma fazenda de criação de animais) e Rotorua, onde veriam os jardins do palácio do governo, as águas termais com lama borbulhante, o gêiser Pohutu e a aldeia maori Te Puía.<br />Waitomo Caves foi uma decepção. A não ser que o maior desejo de uma pessoa seja ver larvas fosforescentes de pirilampos, esqueça. Leva-se duas hora na fila para passar menos de dois minutos andando de barco nas passagem escura da gruta que nos permite ver o brilho das fosforescências. E a caverna, pequena, está estragada pela colocação de piso, corrimão, luzes no corredor...que tiram toda a sensação de entrar em uma gruta.<br />Ao final havia uma lojinha – sempre há uma lojinha quando o turismo é organizado – onde ela achou meias dela pelo preço mais barato que já vira, e comprou algumas para presentear os genros, que dar presente para homem é muito difícil; como conseqüência atrasou-se e foi a ultima a entrar no ônibus – mas comprou as meias1<br />O almoço, servido para comer no ônibus, foi, adivinhe? Sanduíche frio de frango com o queijo pastoso e folhas de alface. Pelo menos, em Aukland, estava quente. Ela guardou o sanduíche para comer mais tarde, ao sair do ônibus, e mordiscou a maçã.<br />A fazenda não a atraía, mas não havia como declinar do passeio, estava no caminho para o vulcão. Ventava muito quando desceram do ônibus, porém este passeio mostrou-se interessante. <br />Primeiro andaram pela propriedade vendo alces, alpacas, carneiros de dois tipos, o da lã mais quente tem os chifres enrolados. Foram informados que a seleção dos animais é muito prática, no primeiro ano de tosquia a qualidade da lã é analisada: se não for boa, o bicho vira bife.<br /><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Também viram o <span style="color: red;">cão sheppard neozelandês</span> guiar as ovelhas ao abrigo. Um cão pequeno, mas eficiente. Para que gastar dinheiro alimentando um cão de grande porte, não é mesmo? E ela imaginava que ia ver um imenso cão pastor...<br />Ela nunca imaginou que gostaria de ver uma tosquia de ovelha, e o processo a intrigou – como a ovelha ficava quietinha, nem reclamava, e como a lã saía inteira sem se dividir em inúmeros chumaços. O rapaz explicou que a lã produz uma eletricidade estática muito forte, o que permite que seja transformada em fios, e o processa de fazer o fio, a meda, usar o tear, foi mostrado do jeito artesanal e industrial. Muito barulhento, eles nos mostram a maquina e passam o filme, mudo, da maquina em funcionamento.<br />Depois ficaram a ver os casaco feitos com os vários tipos de lã, inclusive o merino. Tudo muito, muito caro, o rapaz informou que o preço da lã é vendido a quatorze dólares, porque um casaco custa trezentos?<br />Passaram pelos jardins do governador a caminho de <span style="color: red;">Whakarewarewa, a reserva maori próxima a Aukland.</span>Ela gostou de descer do ônibus e passear<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pelas longas alamedas ao redor do vulcão, ver a lama borbulhante, os vapores quentes que escorrem das fontes termais, apreciar o gêiser que fica vinte minutos em erupção de cada vez, varias vezes ao dia.<br />Em seguida foram levados até a casa de espetáculos dos marois, onde por quase uma hora ouviram e viram as danças e cantos.<br />Kia Ora – diziam eles, explicando que Kia Ora pode ser olá ou obrigado.<br />Cumprimentaram em nome do grupo um turista escolhido na hora com o cumprimento tradicional, esfregar os narizes duas vezes, enquanto se dão as mãos direitas.<br />Fizeram inúmeras vezes a careta intimidadora que consiste em mostrar a língua e sacudi-la muitas vezes enquanto emitem um som rouco e alto.<br />Suas tatuagens são pretas, e as mulheres, com o buço pintado assim, parecem ter barba.<br />Depois das danças pudemos ver as oficinas onde cavam as arvores para fazer canoas, diversos objetos, e também um pequeno museu com quadros e fotos das aldeias antigas e atuais.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Os painéis do marae e os totempoles a fizeram recordar-se dos maraes que vira na Polinésia Francesa e dos totempoles dos haidas no Canadá.<br />Este era um local em que ela apreciaria ficar mais, passear pelos outros cantos da aldeia, mas o ônibus já estava chamando para irem embora.<br />Receberam um novo lanche de sanduíche frio com suco e biscoitos, para comer no ônibus a caminho do hotel.<br />Desta vez, o indelicado motorista, não sei porque razão, ao invés de deixá-la no hotel, como fizera com todos os passageiros, parou na estação de ônibus, a duas quadras de distancia e disse, curto e grosso:<br />A distancia é pequena, a senhora pode ir a pé.<br />E embarafustou-se pela estação adentro, antes que ela pudesse protestar.<br />Que rude! Definitivamente, ela decidiu, não gosto do povo das cidades grandes.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
O chinês do hotel não estava lá, e ela pode ver com alívio um camarada de aparência normal falando inglês que concordou em agendar um taxi para levá-la ao aeroporto na madrugada seguinte. Quando então os mesmo chineses estranhos falando hum hum receberam a chave do quarto e hum hum ela se foi.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Mas pretendendo retornar em breve – para a ilha sul, é claro.<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 20pt;">Austrália</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Quando o avião se aproxima do aeroporto de Sydney a costa imensa e recortada se espalha pelos quatro cantos, e, admirando a bela paisagem, o turista se surpreende a ver o avião baixando cada vez mais até quase tocar na água, quando então o passageiro mais atento e mais assustado percebe, finalmente, o toque do trem de pouso no solo.<br />É que a pista de pouso do aeroporto de Sydney está muito próximo ao oceano.<br />E, quando se vem por terra, pode-se ver a pista de aterrissagem bem acima do viaduto, e tem-se a impressão de que os aviões estão deslizando por sobre nossas cabeças.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Coisas da Austrália.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Fernanda estava procurando pela mãe, cujo avião chegara meia hora mais cedo, e ela se atrasar pelo transito intenso da manhã. Infelizmente havia muitas pessoas chegando na mesma hora, e ela olhava atentamente para todos os lados quando seu celular tocou, e ela ouviu a voz da mãe. Imediatamente voltou-se para o telefone publico e quase no mesmo instante seu olhar cruzou com o da mãe. Riram e abraçaram-se.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Fora uma longa viagem, e Regina pensara que tudo o que precisava fazer para encontrar a filha, era passar pela imigração. Mas quando desembarcou do avião, descobriu que metade da Ásia a separava dos guichês. Havia pelo menos trezentas pessoas na sua frente – trezentas pessoas de olhinhos puxados.<br />E ela foi explicando as curiosas cenas que presenciou antes de poder finalmente ir buscar suas malas.<br />Cada pessoa que chegava ao balcão começava um dialogo de gestos com o funcionário; um falava daqui, outro falava dali, ninguém se entendia, aí chamavam um interprete; fala daqui e dali, a pessoa abria a bolsa, retirava alguma coisa lá de dentro e começava uma espécie de negociação que acabava com a pessoa sendo afastada do guichê e orientada a retirar diversos objetos da bolsa, mas parecia não concordar com isso e começava uma nova discussão. Aí vinha uma outra pessoa e começava tudo de novo.<br /><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A fila parecia nunca sair do lugar, até que alguém começou a andar pela fila e a retirar as pessoas que não eram asiáticas para serem atendidas pelo ultimo guichê. Assim, Regina passou com outras seis pessoas rapidamente pelo funcionário sem maiores delongas.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Sandro, o namorado de Fernanda, começou a explicar que os asiáticos costumavam trazer peixes e ervas para a Austrália, que faz uma verdadeira cruzada para manter sua fauna e sua flora livre de contaminação externa.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
O sorriso de Fernanda era, aos trinta, o mesmo de quando bebezinho. Meio maroto, meio tímido, convidando ao abraço.<br />Regina abraçou a filha, e sentiu que, naquele momento, suas férias começavam, de verdade, férias, aqueles dias felizes em que desfrutamos da companhia das pessoas que amamos.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /><br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span lang="EN-US" style="color: red; mso-ansi-language: EN-US;">Sweetdream <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>daughter’s home <br />37/28-32 Sturdee Pde – Dee Why NSW 2099</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Duas filhas, duas mães</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Ilha Kangaroo<br /><a href="http://www.sealink.com.au/">http://www.sealink.com.au/</a> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Quando trabalhava como barista em um café, Fernanda conheceu Juliana. Mudaram de emprego, ficou a amizade, e, na conversa, descobrem que suas mães vinham para visitar as filhas no mesmo mês, daí surgiu a idéia da viagem conjunta.<br />Rita, a mãe de Juliana, vinha de Pelotas, trabalhava em um banco, embora psicóloga de formação. <br />No dia em que chegou a Sydney, Regina estava com Fernanda quando Juliana telefonou, assustada, por haver perdido a mãe. A mãe, chegada de véspera, não havia chegado ao ponto de encontro no local aprazado, e nem estava em casa. No mesmo instante, Regina deu de ombros:</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
- Ela não está perdida, isto é problema de relógio. Aposto que chegou aqui e não acertou o fuso horário. <br />Era isto mesmo. Uma hora depois, liga Juliana, aliviada, que a mãe havia chegado, no horário – do relógio errado!</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
A manhã e a tarde passaram rapidamente entre conversas, trocas de presentes, desfazer de malas, refeições – quem viaja para o outro lado do planeta quando chega já nem sabe mais se está a comer o jantar ou o café da manhã – e um giro pelos arredores. O que, no caso de Fernanda e sua mãe, queria dizer a praia de Dee Why. E, no caso de Juliana, a praia de Manly.</div>
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<br /></div>
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Nesta mesma noite, Fernanda, Sandro e a mãe também foram a Manly para ver o pingüim, bem como Juliana, Chino e Rita, e todos foram tomar um lanche juntos.<br />Manly é um belo bairro, onde Fernanda morara um ano antes. <br />Há algumas coisas curiosas sobre Manly, além do seriado da TV – O veterinário de Manly.<br />A primeira delas é o pingüim. Ou os pingüins. Todos os anos, os pingüins vem fazer seus ninhos sempre no mesmo local. Pingüins são teimosos e inocentes. Não se importam se há pessoas, cachorros ou gatos na praia, nem reparam nos barcos a motor nem nos surfistas. O instinto diz a eles que devem fazer seu ninho no mesmo local onde seus pais, avós e tatarvós fizeram há séculos e ao instinto eles obedecem – e morrem, comidos pelos cachorros, pegos nas hélices dos barcos. Vai daí que as boas almas se juntam e organizam ONGs para defender pingüins. E ao redor da praia de Manly está construída uma passarela por onde as pessoas podem passar por sobre a areia sem incomodar os pingüins em seus ninhos. E na primavera, todos os dias, voluntários se revezam para tomar conta dos pingüins e evitar que cães, gatos e gente malvada os ataquem. Os amantes dos pingüins vão toda noite observar a chegada dos pais que voltam do mar para alimentar seus filhotes. Os pingüins são então paparicados, protegidos, fotografados pelas mesmas pessoas que todas as noites ali se encontram, perguntando uns as outros, ansiosamente:<br />- Já chegaram? <br />A segunda coisa curiosa de Manly é uma estranha escultura que vista do solo parece ser uma espiral enrolada, uma cobra, ou, no dizer dos moleques, um montinho ... escatológico. Quando se olha de cima, entretanto, percebe-se a intenção do artista de esculpir um caracol; de qualquer modo, a desastrada escultura foi apresentada às mães como a m... de Manly.<br />Nesta noite, depois de verem chegar os pais para alimentarem seus filhotes, todos foram sentar-se em um bar para comer e conversar.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Os gaúchos eram animados, alegres, engraçados. Regina gostou imediatamente deles.<br />Chino era ciclista, havia participado recentemente de uma competição, e sofrera um pequeno acidente de trajeto; estava cansado, dolorido, e ficaria em casa cuidando do gato enquanto mães e filhas viajavam. Já Sandro, estava mesmo atolado de trabalho.<br />Rita, que não falava inglês, pediu um guaraná, e Juliana quase gritou:</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
- De novo, mãe? Aqui não tem guaraná, aqui é Austrália!<br />E, por força do habito, Rita dizia aos garçons ‘obrigada’ e eles sorriam sem entender as palavras, mas entendo a intenção.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
- Quando eu voltar ao Brasil, vou matricular-me em um curso de inglês – comentou ela com Regina. – Você fala bem inglês?<br />- Bem – disse Regina – eu tento, mas não adiante muito, pois eles falam australiano...<br />E todos sorriram. Pois o sotaque australiano é diferente, e muitas palavras são próprias deles, como o ‘no worries’ ao invés de ‘you’re welcome’ ao responder a um muito obrigado.<br />Marcaram o horário do encontro para a excursão que fariam dali a dois dias, antes de irem para casa.<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Bem cedo, Sandro deixou Fernanda e Regina na casa de Juliana, e de lá um taxi as levou ao aeroporto.<br />Apenas duas horas de vôo, mas chegariam a Adelaide com meia hora de diferença de fuso horário que as mães não conseguiram entender – um horário de verão meia hora adiantado ou atrasado em relação a Sydney. Por que não uma hora exata?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Coisas da Austrália.<br />O vôo foi curto e o lanche foi servido por aerosenhoras, no dizer de Regina, o que fez a filha rir. Serviram um delicioso cookie e refrescos.<br />Ao pousar em Adelaide, o avião bateu no solo com grande estrondo, para grande susto dos passageiros, e Juliana gritou:<br />- Caramba, deslocou meu DIU!<br />Fernanda, Regina e Rita riam, e todos os passageiros também, um pouco de nervoso, um pouco pelo jeito engraçado de Juliana, que continuou:<br />- Caramba! Um piloto so precisa saber duas coisas na vida: aterrissar e decolar, e ele consegue errar? Muito obrigada, seu piloto, por quase tirar o avião da pista e nos matar a todos!<br />A esta altura, Regina perguntou baixinho para Fernanda:<br />- O que está acontecendo?<br />- A Juliana morre de medo de avião – cochichou Fernanda em resposta.</div>
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Juliana estava com uma mala enorme, sua mãe apenas levava uma valise de mão; Rita e Regina levavam pequenas malas. A enorme mala de Juliana parecia bem pratica de carregar e empurrar, porem não cabia nos maleiros pequenos do depósito, nem no bagageiro dos taxis comuns, o que atrapalhava um pouco, ela tinha de pagar um pouco mais, e de esperar por um taxi com bagageiro maior. Pois, curiosamente, os taxistas transportavam seus estepes deitados dentro do porta-malas, coisa que Regina não entendeu, pois um taxi deve ter espaço para as malas dos passageiros, principalmente se ele faz ponto em um aeroporto, não parece lógico? Não para os australianos.</div>
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Do aeroporto, um shuttel as levou até a estação de ônibus de onde partiriam para a ilha Kangaroo. Havia um intervalo de duas horas até a partida do ônibus, então foram andar pelos arredores, deixando as malas em um depósito.<br />Ao lado do depósito de malas havia uma pilha de folders, pegaram alguns sobre Adelaide e sobre a ilha Kangaroo. Ali Regina leu algo interessante, e comentou com as outras: a ilha, na língua dos aborígenes, chama-se Karta, a terra da morte. Sítios habitados por aborígenes foram encontrados no local, com cerca de 16 000 anos de existência, porém, há 2000 anos os aborígenes deixaram a ilha, sem que se saiba o porquê.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><br />O explorador inglês que primeiro descobriu a ilha foi Matthew Flinders, em 1802. Um farol foi construído no cabo Couedic em 1906, e a casa do antgio faroleiro hoje é usada como alojamento para turistas.<br />A viagem até a ilha Kangaroo foi demorada – longo trajeto de ônibus por paisagens lindas e depois duas horas em um ferry boat, mais outro longo trajeto até a casa alugada.<br />A cada cinco minutos, Rita exclamava:<br />- Mas que lindo! Que paisagem mais rica! Que terra maravilhosa!<br />Regina também viajava com o nariz quase grudado na janela, suspirando de satisfação. Valeu a pena vir de ônibus ao invés de pegar o avião para a ilha. O avião era pequeno e a filha não sentiu segurança em voar no que ela chamou de teco-teco.<br />O enorme ferry boat tinha serviço de bar e vidros panorâmicos para observarem o mar, e viajaram ao por do sol.<br />Ao chegarem, embarcaram em um shuttle juntamente com outras pessoas que foram conversando entre si, pela conversa, perceberam que eram moradores da ilha. Quando ficaram apenas elas e uma outra senhora, que falava muito o tempo todo, esta senhora voltou-se para elas e puxou conversa; contou que era canadense e há 29 anos morava na ilha, fora proprietária de pousada, de loja, e agora era aposentada.<br />Finalmente, quase nove da noite, chegaram a uma praça quase deserta, e o motorista desceu com elas, pegou as malas e subiu as escadas de uma casa, abriu a porta e falou:<br />- É aqui, podem entrar. Se pretendem jantar, é melhor irem rápido, pois tudo fecha depois das nove.<br />Elas ficaram admiradas em descobrir que a porta estava aberta, simplesmente.<br />O motorista deu de ombros:<br />- A chave deve estar por aí, em algum lugar, mas ninguém vai entrar aqui, só vocês.<br />Juliana deixou a TV ligada a as luzes acesas, por precaução, e elas correram ao redor da quadra em frente em procura do único restaurante aberto, onde um rapaz sonolento falou que ia fazer o pedido para comerem em casa, e não na mesa, pois estavam fechando. Elas levaram para casa sanduíches com batatas fritas e refrigerantes.<br />Na casa, olhando com calma os armários e a geladeira, descobriram café, chá, açúcar, e todas as comodidades de um hotel: secador de cabelos, torradeira, liquidificador, uma estante com vários tipos de livros, desde romances atuais ate infantis, banheiro com shampoo, condicionador, alem, é claro, das camas confortáveis.<br />No dia seguinte, a excursão, que saia de Adelaide cinco e meia da manhã, passaria para pega-las às nove horas, tempo suficiente para irem tomar café e comprarem algo no supermercado para a noite, caso chegassem tarde.<br />Ninguém brigou por causa do banheiro, nem teve de esperar muito pela sua vez; entenderam-se perfeitamente.<br />Foi uma noite bem dormida, em total escuridão lá fora, com ruídos de bichos cantando nos ouvidos, e a lembrança das belas paisagens para recordar antes de adormecer.<br />Na manhã seguinte, Fernanda encontrou a chave: estava na porta dos fundos. Saíram para tomar o café mais descansadas, sem a preocupação de deixar as malas em uma casa aberta.<br />Regina e Rita ficaram conversando na sala enquanto as filhas se arrumavam nos quartos. Rita também era filha única, como Regina, gostava de trilhas a caminhadas, e era a primeira vez que vinha para a Austrália.<br />- Temos muita coisa em comum, não achas? – comentou ela.<br />- Filhas maravilhosas – respondeu Regina, que estava muito feliz com a viagem.<br />Na padaria, as meninas escolheram com dificuldade entre os pãezinhos e tortas da vitrine, tudo muito bonito, embora nem tudo o que é bonito seja obrigatoriamente gostoso, comentou Rita.<br />Como ventava muito, Regina escolheu um chocolate quente, e sanduíche quente também.<br />Haviam colocado nas malas roupa de praia, shorts, sandálias, mas o tempo esfriara, e acabaram usando apenas as calças longas, tênis e o casaco que viera só por precaução.<br />No supermercado, compraram pão, queijo, bolo, bolachas, manteiga, e deixaram na geladeira da casa, escovaram os dentes e saíram para aguardar o motorista.<br />- São todas de uma mesma família? – perguntou o motorista, para puxar assunto.<br />- Não, somos duas filhas e duas mães – explicou Juliana – as filhas moram aqui, as mães estão de visita.<br />O motorista era um senhor de cabelos brancos, rosto vermelho, tagarela, que pos-se a contar sua vida com certo ar dramático. Ele fora um proprietário de terras, criava ovelhas, até que houve uma crise da lã, o preço caiu, ele perdeu a fazenda, a mulher o deixou e levou junto os filhos (seus olhos se encheram de lagrimas nesta hora), ele ficou na ilha com seus dois cães e, tentou brincar, estava procurando uma mulher rica para casar com ele e refazer sua vida, mas não podia se queixar, pois gostava de trabalhar como motorista e levar os turistas para conhecer as belezas da ilha em que nascera.<br />E aí desandou a falar dos cangurus, das focas, dos pingüins e do aeroporto, onde iam buscar outros passageiros.<br />Observaram o avião pousar – o pouso foi bem melhor do que o avião grande em que chegaram a Adelaide – e depois foram levadas junto com outros dois casais para outro local, onde o motorista falou sobre as abelhas Lugurian enquanto aguardavam o ônibus que vinha de Adelaide, e que as levaria aos parques nacionais. Por rádio, ficaram sabendo que ele estava próximo; em poucos minutos trocaram de ônibus; estava lotado, e elas sentaram-se nos últimos lugares.<br />Juliana e Rita iam sentadas juntas, tagarelando. Fernanda e Regina iam sentadas juntas, olhando pela janela; de vez em quando Fernanda exclamava ‘um canguru’, Regina não via, pois eles eram muito rápidos ou estavam muito longe. <br />A primeira parada foi em uma praia com leões marinhos – só fêmeas grávidas ou com filhotes, amamentando. Não se pode chegar próximo demais de um leão marinho, pois eles são grandes, fortes e agressivos, porém uma das fêmeas veio por trás do grupo com seu filhote e simplesmente ‘abriu caminho’ empurrando algumas pessoas e assim, todo mundo viu o animal bem de pertinho, ainda que a guia local, assustada, tentasse afastar rapidamente o pessoal.<br />O segundo local onde pararam foi em Remarkables Rocks, uma formação de rochas muito interessante: umas pedras recortadas imensas, repousando sobre um paredão rochoso; o guia afirmou que a formação tem milhares de anos, e Regina gostaria de entender como as pedras foram parar lá, apoiadas sobre o paredão. No interior de algumas dessas pedras ocas, a pedra esta escavada em ondas, como se estivessem no mar – no interior de cavernas à beira mar vêem-se marcas de erosão parecidas.<br />A caminho das Remarkables Rocks, Fernanda parou e chamou a mãe. Ali ao lado do caminho estava um possum, grande, de olhos enormes, orelhinhas que lembram as de um gato, tranqüilamente comendo frutinhas do mato. O animal parecia não ter medo nenhum dos humanos, nem se incomodou com os olhares intrusos dos turistas.<br />O terceiro lugar onde pararam foi no arco Admiral, uma formação rochosa à beira-mar, que, como o nome indica, lembra um arco. Neste local as ficam focas, brincando, dormindo, brigando, namorando.<br />A seguir, pararam no centro de informações do parque, onde havia a inevitável loja, um mostruário com ossadas e pelagem de animais, uma lanchonete, onde almoçaram, sanitários, panfletos.<br />Infelizmente Juliana estava se sentindo muito mal, com cólicas, enjôos, não foi ver as focas e voltou rápido para o ônibus nas Remarkables Rocks – o motorista brincou com ela, dizendo que havia ali também Remarkables Toilets. A moça havia esquecido seus medicamentos em Sydney e ali não havia farmácia.<br />O mal estar passou antes do final do dia, e o passeio não foi totalmente perdido para ela.<br />A última parada foi para ver coalas, <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>que não existiam na ilha Kangaroo, e foram para lá levados quando se criaram os parques nacionais, juntamente com algumas espécimes de eucalipto, que, infelizmente, não se adaptaram ao clima, de maneira que os coalas estão pouco confortáveis lá. <br />Começou a ventar forte e a ameaçar chover, então Regina não quis descer do ônibus. Rita, que desceu, voltou toda contente, pois alem de coalas, havia diversos cangurus e walabis pastando ali perto;</div>
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O passeio terminou e elas foram levadas para casa antes das oito da noite. Todas as lojas estavam fechadas, só funcionavam entre nove da manhã e cinco da tarde; e os restaurantes estariam fechados quando voltassem da observação dos pingüins. A ida ao supermercado pela manhã fora uma escolha acertada.</div>
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Às oito e meia foram para o Centro de Observação de Pingüins perto da casa que haviam alugado, de propósito, naquele lugar, chamado Penneshaw, para poderem fazer o passeio noturno observando pingüins.<br />Houve uma palestra prévia, dentro do centro, depois disso saíram todos atrás da guia, que portava uma lanterna vermelha. Andaram por quase uma hora nas plataformas construídas sobre o local onde a colônia de pingüins constrói seus ninhos, e viram muitos dos pequenos pingüins azuis, os menores do mundo. Alguns bebes pingüins eram exibidos, e, quando iluminados, corriam para a frente de suas tocas e batiam as asinhas. As mamães e papais, ao chegarem do mar, paravam por algum tempo imóveis sobre as pedras, possivelmente para tomar fôlego e se recuperarem do esforço – o guia contou que algumas vezes eles ficam até três dias no mar, antes de retornar a seus ninhos, quando os filhotes já estão grandinhos. E aquela colônia, atualmente tem cerca de 500 pinguins, nos anos anteriores chegara a ter 700.<br />Todos ficaram bem quietos, para não assustar as aves, até mesmo as crianças.<br />Antes das dez retornaram, completamente geladas pelo vento frio, nem parecia ser primavera. Rita e Regina riram, falando dos bikinis que haviam colocado nas malas a pedido das filhas, pois ali havia praias muito bonitas e poderiam talvez tomar um banho de mar...<br />Fernanda e Juliana apenas sorriram – não costuma fazer tão frio na Austrália na primavera, e não custa colocar um bikini na mala, não é mesmo? Na pior das hipóteses, o bikini volta para casa sem ser usado.<br />Para quem dispõe de mais tempo, há muito mais a fazer na ilha Kangaroo, como degustar vinhos locais, frutos do mar, visitar os apiários, as fazendas, pescar, fazer snorking, nadar, mergulhar ... uma local ao qual se pode voltar, alguma dia no futuro, mas, por enquanto, era o suficiente.<br />Na manhã seguinte, tomaram seu café tranqüilamente, sentaram-se na sala folheando livros e conversando, enquanto aguardavam a condução de retorno a Adelaide.</div>
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Lá pelas oito, alguém bateu na porta. Era um homem uniformizado, perguntando por elas: Mrs. Rodrigues e Mrs. Alonso.<br />Fernanda e Juliana olharam uma para a outra:<br />- Você não é Vieira?<br />- Você não é Gonzalez?<br />- Sou Rodrigues Vieira.<br />- Sou Alonso Gonzalez.<br />O motorista parecia confuso e perguntou se eram todas da mesma família, e Juliana tornou a dizer:<br />Somos duas filhas e duas mães. As filhas moram aqui e as mães vieram de férias.<br />Mas, cadê o ônibus?<br />Bem, explicou o motorista, eu estou meio perdido, não conheço esta rua direito, então parei o ônibus na rua principal e resolvi procurar o numero a pé. Mas não se preocupem, eu carrego a mala mais pesada.<br />Elas se entreolharam sem entender. Como alguém consegue se perder em um vilarejo com seis quadras? E, quando o motorista respondeu a uma pergunta de Fernanda e afirmou que nascera na ilha e sempre trabalhara ali, aí é que ninguém entendeu mesmo. Mas, como boas brasileiras que eram, seguiram a regra: se a coisa parece esquisita, é melhor não perguntar...</div>
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<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br style="mso-special-character: line-break;" /></span></div>
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<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Adelaide - Warrawong wildlife sanctuary</span></b>Stock Road, Mylor via Stirling </div>
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<a href="http://www.zoossa.com.au/"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">www.zoossa.com.au</span></a><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"> <br /><a href="http://www.warrawong.com/">http://www.warrawong.com/</a> <br />Stock Road , Mylor via Stirling<br style="mso-special-character: line-break;" /><br style="mso-special-character: line-break;" /></span></div>
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A viagem de volta para Adelaide foi demorada, e tão bonita como a viagem de ida para a ilha Kangaroo.<br />Sentaram-se na fila da frente do ferry, observando o mar; depois, as paisagens rurais com todas as ovelhas, árvores e cangurus a que tinham direito de observar.<br />Quando chegaram a estação de ônibus, deixaram ali as malas por uma hora enquanto passearam pelo centro de Adelaide e faziam algumas necessárias operações bancárias, depois do que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pegaram um taxi para o próximo destino: Warrawong, uma reserva animal onde se faziam passeios noturnos para observar os masurpiais em seu habitat natural – como se cabe, a maioria dos marsupiais são noctívagos.<br />Em seu passeio, passaram por uma praça onde havia varias estatuas de porquinhos dourados ao redor das latas de lixo de rua, e ali tiraram algumas fotos, de brincadeira. Havia uma mulher muito gorda sentada em um banco próximo, e as mães brincaram falando que havia um porquinho a mais, e que faziam questão de fotografar os arredores para captar a imagem do porquinho extra – mas Fernanda ficou muito encabulada, e temendo que a mulher percebesse a brincadeira, não tirou as fotos no ângulo apropriado.<br />Almoçaram em um restaurante do centro, almoço regado a vinho, que Adelaide é região<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de ótimas vinícolas. Fizeram questão de um restaurante de verdade, ambiente silencioso, e não a praça de alimentação de um shopping. Apreciaram cada gole do delicioso vinho. <br />Pegar o táxi foi um problema, por causa da mala da Juliana e por ser domingo, e não conseguirem telefonar para a central de taxis, e terem de ficar esperando por algum que passasse na rua. O que era muito ruim, pois, segundo Fernanda, eles sabem o horário dos ônibus e se dirigem a estação no horário da chegada e partida dos mesmos.<br />E aí as mães ficaram sabendo de outra particularidade da Austrália: o serviço de telefone na central de taxis funciona nos dias úteis das nove da manhã até as cinco da tarde, assim, quando alguém vai viajar de madrugada, precisa agendar o taxi no dia anterior, e o costume brasileiro, de chamar um taxi quando começa a chover, ou quando se sai cansado de um programa noturno, simplesmente não funciona ali; se não agendar o taxi com antecedência, vai ter de ir na chuva mesmo, ou ficar esperando no ponto de ônibus.<br />O motorista, um indiano, não conhecia o lugar, não quis olhar o GPS da Fernanda, e ficou falando com alguém em seu celular, em uma língua estranha, até conseguir entender o endereço, e, afinal, após vinte minutos, elas chegaram sãs e salvas na reserva.<br />Chovia, ninguém lembrara de trazer guarda-chuva, e olharam melancolicamente para as arvores semi ocultas na neblina. <br />Na recepção, pegaram as chaves das cabanas, olharam a sala de estar com lareira, a vitrine da lanchonete local, e seguiram a recepcionista, que após mostrar o caminho para as cabanas, falou com entusiasmo que o passeio noturno sairia da sala de estar às oito e meia em ponto.<br />Fernanda e Regina ficaram no chalé seis, Juliana e Rita no chalé cinco. Ao entrarem, Regina ouviu Rita gritar: uma barraca! - e sorriu. Realmente, estavam em uma barraca.<br />Havia um murro de alvenaria de cerca de um metro e meio, a partir daí estava amarrada nas paredes uma lona verde, as janelas eram lona perfurada recobertas com uma tampa de lona que se fechava com zíper; exceção feita ao canto onde estava o banheiro, um cômodo de material sintético, semelhante ao usado em piscinas.<br />Das janelas, podia-se ver o mato ao redor, e, neste mato, pássaros nos arvoredos, coalas nas galhos dos eucaliptos, e, com sorte, à tardinha e ao amanhecer, cangurus.<br />A entrada para a reserva é gratuita, as pequenas palestras que ocorrem no decorrer do dia são pagas – assistiriam a duas delas, uma sobre aranhas e insetos; outra sobre lagartos. As palestras aconteciam em um recinto fechado, a chuva não atrapalharia, e incluíam apresentações de animais vivos.<br />Depois de tomarem banho, trocarem de roupa, dormiram um pouco até a hora do jantar, às seis e meia, como os australianos, não como os brasileiros.<br />A comida servida estava deliciosa.<br />Regina pediu peixe com lula, artisticamente servida partida em rodelas, Juliana pediu uma sopa de ervilha servida com torta de carne – a torta vinha no meio da sopa, parecia esquisito, porém ela disse estar gostoso.<br />O melhor era olhar pela parede do restaurante. A parede era envidraçada de alto a baixo em toda a sua extensão, e, do outro lado, um jardim iluminado, com pedras, troncos e arvoredos, por onde corriam pequenos animais, os marsupiais da reserva – e, eventualmente, um rato. Também patos e galinhas com suas ninhadas passaram por ali, a caminho de seu local de repouso.<br />Voltaram para a cabana para escovar os dentes, embrulhadas em seus casacos, e, então, a chuva parou.<br />A senhora que liderou o grupo era voluntaria de um serviço de proteção à fauna asutraliana. Tinha cabelos brancos e muita paciência para observar os cantinhos das matas.<br />O grupo seguiu por passarelas de madeira que cruzavam a reserva, algumas sobre o lago local, onde puderam observar os ornitorrincos, de longe, nadando. Havia patos de todos os tipos por todos os lados, cisnes brancos, tartarugas. Saindo da região dos lagos, começavam as trilhas em terra seca – no bosque de eucaliptos estavam os coalas – uma mamãe coala com seu filhote às costas foi a sensação.<br />Olha aí o pequeno Joe – disse a senhora, e Regina e Rita aprenderam que os australianos se referem aos filhotes dos animais como Joe, sabe-se lá por que motivo – e se for uma garota? Regina pensou mas não ousou perguntar.<br />O passeio foi o mais interessante de tudo o que Regina já fizera na Austrália. A luz vermelha iluminava os recantos mais escondidos dos matos, e daí surgiam todos os tipos de marsupiais possíveis – apenas equidnas não havia ali, pois elas precisam de territórios muito grandes, maiores do que a reserva – explicou a senhora.<br />Os mais encantadores eram os betons e os poturus, canguruzinhos que mais pareciam bichinhos de pelúcia.<br />Havia na reserva quatro cangurus mansinhos, criados em cativeiro pois eram órfãos; desses os turistas podiam se aproximar e acariciar e oferecer grama – dos outros, os selvagens, deviam manter distância.<br />Ao final do passeio, a guia anunciou que havia coalas encarapitados em frente aos eucaliptos da cabana quatro.<br />Como não haviam trazido lanterna, elas só puderam ver os coalas na manhã seguinte – eles ficaram por lá o outro dia inteiro, imóveis, dormindo.<br />A noite foi embalada pelo canto dos pássaros noturnos e toda espécie de sons de insetos, vento nas folhas e chuva. Havia um sistema de aquecimento elétrico na cabana, em pequenos tubos que seguiam ao longo das paredes; alem disso, havia cobertores elétricos, de modo que dormiram bem aquecidas.<br />Na manhã seguinte, a chuva parara. Regina e Fernanda foram tomar o café da manhã e encontraram as companheiras a caminho, observando os coalas da cabana quatro.<br />No café da manhã, o espetáculo atrás das paredes envidraçadas era outro – toda espécie de pássaro que você puder imaginar – periquitos, cacatuas, pombos, corvos, e um de bico longo e duro chamado kukaburra, muito barulhento, alem dos magpies de penas brancas e pretas.<br />Havia poucos hóspedes na reserva, apenas duas outras mesas, e ninguém se cansava de olhar os pássaros, somente ao começar a palestra do dia é que se levantaram das mesas.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Rita comentou que o espetáculo da noite era diferente do espetáculo da manhã.<br />Logo após a palestra, andaram mais pelas trilhas que haviam seguido à noite, procurando ver os ornitorrincos, os mais difíceis animais de serem vistos na natureza.<br />Fernanda tirou muitas fotos – somente depois de terminar o passeio é que percebeu não haver tirado nenhuma foto das quatro juntas! Os bichinhos literalmente roubaram o espetáculo!<br />À hora do almoço, a chuva recomeçou, com vento frio. Almoçaram com calma, observando a passarada, saboreando a comida deliciosa. Depois, foi tomar banho, fechar as malas e aguardar o taxi.<br />O vôo Adelaide – Sydney foi tranqüilo, sem pousos assustadores. Infelizmente, como era hora da janta, não serviram os bolinhos gostosos e sim um frango carregado de curry que nenhuma delas conseguiu comer.<br />Sandro estava esperando por elas no aeroporto; deixou Rita e Juliana em casa, no caminho.<br />E este foi o fim da excursão das duas mães e das duas filhas, momentos agradáveis para se guardar na memória, na gaveta dos dias felizes.<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Sydney</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Sydney</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><a href="http://www.featherdale.com.au/"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">www.featherdale.com.au</span></a></span><br />217 Kildare Raod donnside NSW 2767<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
Certo dia, Marta, amiga de Regina, disse a ela que sua filha Mariana queria morar uns tempos no exteriro, talvez ir para a Austrália:<br />- Você que já esteve lá, pode dar umas dicas para a Mariana.<br />- Melhor que isso, posso dar o e-mail da minha filha, elas podem trocar idéias.<br />Mariana e Fernanda não se conheciam, mas, pela correspondência trocada, Mariana decidiu-se pela Austrália. Fernanda foi pega-la no aeroporto, levou-a para conhecer a cidade no fim de semana, e ficaram amigas, para grande alegria das mães.<br />Agora, de volta a Sydney, Fernanda chamou Mariana para acompanhar a família em um passeio a Featherdale, uma reserva animal muito interessante, perto de Blue Mountains.<br />Apesar de já estar na Austrália há um mês, Mariana estava muito ocupada com seu curso de inglês e seus empregos para ocupar-se com lazer. Empregos, poirque já havia pulado dois, barista e empacotadora de lojas, e estava panfletando currículos para um melhor, em sua própria área de atuação, arquitetura.<br />Sábado cedo, Regina acordou e ficou no computador classificando fotos em sua pagina do Facebook esperando a geração mais nova e mais dorminhoca dar sinal de vida.<br />Dois periquitos barulhentos ficaram gritando n<br />a varanda até que ela esmigalhasse uma fatia de pão para eles, que vieram beliscar as migalhas na maior alegria, chamando outros companheiros – havia dias em que chegavam sete a oito passarinhos para comer.<br />Regina pegou um iogurte na geladeira – os iogurtes da Austrália são deliciosos. Mais tarde, comeria pão com manteiga junto com a filha.<br />Perto de meio dia, saíram para buscar Mariana, e pegaram a estrada.<br />Featherdale é um daqueles lugares onde o turista recebe desconto com seus cupões do guia de Sydney, pegos ao desembarcar, no aeroporto, mas Regina esquecera seus cupons em casa e teve de pagar o preço integral.<br />Fernanda ficou a olhar o horário dos espetáculos dos bichos enquanto os outros iam para a bilheteria. Ela avisou que a apresentação das equidnas começaria em cinco minutos, então todos correram para o local das equidnas, bichinhos tímidos, noturnos, difíceis de ver. <br />As equidnas estavam lá, bem grandes e espinhentas, nas mãos dos biólogos que interagem com o público, oferecendo a elas sua comidinha preferida.<br />É claro que logo após terminar a refeição, as danadinhas sumiram, foram dormir em suas tocas, e os turistas foram cada um para seu canto.<br />Fernanada, Regina, Mariana e Sandro voltaram ao começo do parque e começaram pelo primeiro quintal, o dos cangurus. <br />Mariana colocou uma moeda em uma maquininha presa à parede e retirou dela um copinho feito de grama, com grama dentro. É isso mesmo, o próprio copinho pode ser comido pelos bichos. E as pessoas podem alimentar os cangurus e outros marsupiais por ali. Cada copinho custava dois dólares.<br />Crianças e cangurus corriam para cá e para lá. Os cangurus de lá são mansos e estão acostumados com as crianças pequenas e grandes...<br />Para cada quintal, havia uma cartela e um carimbo. As crianças, de qualquer idade, podiam carimbar a cartela e ir monitorando sua visita. É claro que Regina e Mariana ficaram carimbando todos os bichos possíveis para documentar sua visita e recordar a infância. Até Fernanda se animou a carimbar o seu passaporte, o que nunca havia feito antes, apesar de já ter ido varias vezes a Featherdale.Havia oito carimbos: coala, canguru, wombat, dingo,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>diabo da Tasmânia, morcego, emu e crocodilo.<br />Na parte dos coalas, podia-se chegar bem perto, acariciar o bicho, que tem cheirinho de eucalipto, e tirar foto com ele.<br />O diabo da Tasmânia estava mesmo endemoniado, correndo feito um maluco em volta de uma pedra, com suas orelhinhas vermelhas brilhando ao sol.<br />Foi uma tarde gostosa, quente, própria para caminhadas longas.<br />No curral da fazenda de Featherdale, um bode esfaimado acabou com o potinho de grama de Mariana, que ficou muito assustada com o avanço do bicho. Todos riram.<br />ao final da tarde, lavaram as mãos e tomaram um sorvete na saída do parque, depois foram jantar em um restaurante na praia de Manly.<br />Todos os restaurantes e lanchonetes de Manly estavam lotados, foi difícil achar local para estacionar, porém conseguiram uma boa mesa, no andar superior, perto da varanda de onde tinham uma vista panorâmica da praia, com seus coqueiros e gaivotas.<br />A caminho de casa, deixaram Mariana em seu próprio apartamento.<br />Regina estava feliz.<br />Tomou um banho com sais cheirosos na banheiro do banheiro de hóspedes, para relaxar os pés cansados, e leu um pouco antes de dormir.<br />Fernanda havia ido com ela à biblioteca do bairro, onde havia livros e filmes novos para alugar, mas o processo australiano de biblioteca publico não significa gratuidade. As pessos pagam umas pequenas taxas simbólicas para usar alguns serviços, como reservar livros, solicitar entrega em casa ou prorrogar o empréstimo.<br />Como Regina estava praticamente sem falar inglês, pois estava rodeada de brasileiros, pelo menos mantinha o contato com a leitura. <br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
No dia seguinte, foram à Ópera House.<br />Regina já vira a Ópera House por fora, mas agora, ia ver um espetáculo, o corpo de baile australiano ia apresentar A Viúva Alegre.<br />Agora, sim, ela poderia dizer que conhecera a Ópera House.<br />Saíram cedo, pois o espetáculo começaria às sete e meia, então saíram de casa seis horas; havia muito trânsito entre Dee Why e Sydney, apesar disso estacionaram com facilidade.<br />Regina gostou de estar elegante em um ambiente formal, apreciou a música e a dança, já havia lido a história antes; caso contrário, poderia ler o resumo da história no folder distribuído na entrada.<br />Ao saírem, caminharam um pouco pelo cais, lotado de jovens. Darling Harbour é um dos locais mais bonitos da cidade.<br /><br />Segunda-feira, ultimo dia de Regina em Sydney, ela preparou uma sopa de cogumelos para o almoço. Os cogumelos australianos são tão grandes que pode-se prepará-los recheados. E, o mais importante, são deliciosos.<br />À tarde, foi ao cinema IMAX 3D, para assistir um documentário,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pois no Brasil não havia tal tipo de cinema, depois foi encontrar Fernanda e juntas foram ao Max Brenner, uma chocolateria de que as duas gostavam muito, para saborear um chocolate quente com fruta (Regina pediu chocolate com leite de coco) e comer waffle coberto com chocolate. Muito bom!<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Terça-feira pela manhã, a filha e Sandro a acompanharam ao aeroporto.<br />Desta vez Fernanda não chorou ao se despedir. Afinal, a mãe pretendia voltar em breve, desta vez em definitivo, após sua aposentadoria.<br />E sempre haveria todos aqueles bons momentos para recordar.<br style="mso-special-character: line-break;" /></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br style="mso-special-character: line-break;" /></div>
<br />
. </span><br style="mso-special-character: line-break;" />Sonia Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/06628559588746977262noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548927944768727216.post-2540219644800337952011-01-22T08:39:00.000-08:002011-01-22T08:47:17.820-08:00Brincando com o vento e A árvore que cantava<div align="left"><strong>Brincando com o vento.</strong><br /><br />Apesar de a TV estar ligada, o pai de Paulinho percebeu que o menino estava amuado.<br />- Que foi, <span id="SPELLING_ERROR_0" class="blsp-spelling-error">filhão</span>, não está se divertindo?<br />- Eu só fico aqui sentado o dia todo. Quem se diverte é quem está lá dentro – e apontou para a <span id="SPELLING_ERROR_1" class="blsp-spelling-error">telinha</span>, onde os garotos do filme estavam correndo na praia, empinando pipa.<br />O pai olhou pela janela, de onde só enxergava prédios e garagens de prédios, e nenhum espaço onde um <span id="SPELLING_ERROR_2" class="blsp-spelling-error">garotinho</span> saudável pudesse brincar. O pai nem perguntou pelo <span id="SPELLING_ERROR_3" class="blsp-spelling-error">videogame</span>, pois Paulinho dizia que os bichinhos da tela, e não ele, é que se divertiam.<br />- Bem, filho, domingo eu posso levar você para a praia.<br />- Quero aprender a empinar papagaio.<br />- Claro, podemos comprar um, na praia mesmo.<br />- Não é tão legal. Eu quero é fazer eu mesmo meu papagaio. Posso?<br />O pai pensou na sujeira, nos papéis picados, e coçou a cabeça, indeciso. Lembrou-se de quando ele mesmo era menino, na fazenda do pai, fazendo seus próprios brinquedos, e decidiu-se:<br />- Está certo. Eu digo do que vamos precisar, deixo dinheiro para você comprar tudo e, sábado pela manhã, faremos o seu papagaio.<br />- E domingo eu vou-me divertir a valer, como as crianças da TV! – Paulinho bateu palmas, animado – É difícil, pai?<br />Eu me pergunto o quanto você é capaz de aprender – respondeu o pai.<br />E, no sábado, bem cedo, a cozinha do apartamento virou oficina. Sobre a mesa, forrada com jornal, havia cola, papel de seda, barbante e varetas de bambu.<br />- Use a imaginação – disse o pai.<br />- Amarelo e preto, com uma ‘<span id="SPELLING_ERROR_4" class="blsp-spelling-error">carinha</span> feliz’. Quero uma pipa risonha, com olhos e boca.<br />- Como, filho?<br />O garoto desenhou uma boca em forma de meia lua, dois olhos redondos e duas sobrancelhas com <span id="SPELLING_ERROR_5" class="blsp-spelling-error">tracinhos</span> <span id="SPELLING_ERROR_6" class="blsp-spelling-error">retos</span>. Também desenhou uma bolinha para o nariz.<br />- A gente pode colar os detalhes no papagaio pronto.<br />- Boa <span id="SPELLING_ERROR_7" class="blsp-spelling-error">idéia</span>. Você aprende rápido. – elogiou o pai – As varetas estão firmes, e o papel, muito bem colado.<br />- Presto atenção para manter o papel esticado, senão ele enruga – Paulinho passou a cola cuidadosamente, e dobrou com capricho e paciência cada lado do quadrado amarelo.<br />Enquanto esperava secar o papagaio, fizeram a <span id="SPELLING_ERROR_8" class="blsp-spelling-error">rabiola</span>. Paulinho permaneceu concentrado nas explicações do pai sobre os ventos e o equilíbrio, e, curioso, percebeu quantas perguntas interessantes surgiam em sua mente.<br />Porque que é que o vento existe.<br />Porque o papagaio voa e a gente, não.<br />Porque é que...<br />- Calma, Paulinho! – riu- se o pai.Aprenda uma coisa de cada vez!<br />- Sou curioso!<br />- É bom ser curioso. Nós podemos ler nos livros coisas muito interessantes sobre os ventos.<br />- E que mais?<br />- Podemos <span id="SPELLING_ERROR_9" class="blsp-spelling-error">experimentar</span> e descobrir na prática como o vento é.<br />- Observando eu aprendo que, se não há vento, o papagaio não voa, e, se ventar demais, as varetas se quebram e a <span id="SPELLING_ERROR_10" class="blsp-spelling-error">rabiola</span> enrola.<br />- começa a desenvolver novas habilidades: observar, <span id="SPELLING_ERROR_11" class="blsp-spelling-error">refletir</span>, perguntar...<br />- Só me sujei um pouquinho. E a mamãe ficará contente, pois a sujeira ficou toda no jornal.<br />O pai sorriu, lembrando-se do tempo de sua meninice.<br />- Quando eu tinha a sua idade, filho, fazer papagaio era mais complicado. Nós mesmos é que cortávamos o bambu, com canivete, e a cola que existia na época era uma tal de ‘goma <span id="SPELLING_ERROR_12" class="blsp-spelling-error">arábica</span>’, um grude que se passava com pincel e <span id="SPELLING_ERROR_13" class="blsp-spelling-error">melecava</span> tudo em que encostava.<br />- Como é bom saber fazer as coisas! – exclamou Paulinho. – Podemos colar a <span id="SPELLING_ERROR_14" class="blsp-spelling-error">carinha</span>? - Acho que já está tudo bem firme e seco.<br />- Sim. Perceba de quantas maneiras diferentes pode-se fazer a mesma coisa. – disse o pai. – Você poderia ter imaginado outro tipo de cara, uma cara gozada, ou uma cara zangada.<br />- Estou feliz por aprender a fazer o meu próprio papagaio, por isso este terá uma cara feliz.<br />- Você é capaz de lembrar-se do que aprende, quando necessário. Ou quando quiser fazer outro papagaio.<br />- Repetir ajuda a memória, pai. Sabia?<br />- Quem disse isto?<br />- Mamãe diz sempre. Eu quero gravar os novos conhecimentos, por isso vou exercitar minhas habilidades com <span id="SPELLING_ERROR_15" class="blsp-spelling-error">freqüência</span>, quero dizer que vou fazer uma dúzia de pequenas pipas para enfeitar a minha festa de aniversário.<br />- Aprender a fazer pipas é divertido, <span id="SPELLING_ERROR_16" class="blsp-spelling-error">filhão</span>! E percebo que você já encontrou novas maneiras de utilizar os seus conhecimentos.<br />- Eu uso minha imaginação – disse o menino – A mamãe sugeriu que meu bolo de aniversário fosse uma pipa e eu achei genial.<br />Domingo pela manhã, Paulinho correu pela areia, à beira-mar, até que a pipa subisse bem alto.<br />- Que lindo papagaio! Tem uma <span id="SPELLING_ERROR_17" class="blsp-spelling-error">carinha</span> feliz! É bonito! É alegre.Onde você comprou isto? – perguntavam as outras crianças.<br />- Eu mesmo fiz! – respondia Paulinho, orgulhoso. – E eu posso ensinar a vocês.<br />E os amigos do Paulinho quiseram fazer uma oficina de papagaios, durante a semana, para que cada um aprendesse a fazer o seu papagaio a seu modo, do seu jeito, com a sua cara.<br />- Estou feliz porque você está feliz – disse o pai, quando voltavam para casa – Esta manhã de domingo é um momento especial em nossas vidas.<br />- Estou-me divertindo a valer, papai. E posso ensinar o que aprendi a meus amigos. Todos ficaremos felizes, como os garotos de dentro da TV. – e após <span id="SPELLING_ERROR_18" class="blsp-spelling-error">refletir</span> um pouquinho, perguntou: - Porque será , papai, que tem gente que vive vendo a vida de mentira dentro da TV quando a verdadeira vida está aqui fora?<br />Papai coçou a cabeça:<br />- Este meu filho está-me a sair filósofo...<br />- Pai, quero ler mais sobre os ventos. Você sempre diz que dentro dos livros há coisas muito interessantes.<br />- Livros são interessantes. E divertidos. Há uma história sobre o vento que li há muito, muito tempo, sobre um menino que deu a volta ao mundo em um balão. É uma história muito comprida, mas posso contar a você depois do almoço, se você quiser ouvir.<br />E se você, que me lê, for perguntar a seus pais e avós, ouvira com certeza histórias interessantes sobre as coisas que o vento faz, como em O Mágico de <span id="SPELLING_ERROR_19" class="blsp-spelling-error">Oz</span>, A Volta ao mundo em um Balão, O Garoto que foi à casa do Vento Norte e tantas outras.<br />E o vento levou esta história para outros ouvidos... para outros meninos e meninas...<br /></div><div align="left"></div><p align="left"><strong> </strong></p><p align="left"><strong> * * * * *<br /></strong></p><p align="left"><strong> A árvore que cantava<br /><br /></strong>Era uma vez... uma <span id="SPELLING_ERROR_20" class="blsp-spelling-error">garotinha</span> que voltava da escola com a prima. Vinha de cabeça baixa porque estava procurando <span id="SPELLING_ERROR_21" class="blsp-spelling-error">sementinhas</span> para chutar. Então...<br />- Chuvinha de ouro! Chuvinha de ouro!<br />A prima sacudia de leve o tronco de uma árvore alta de folhas miudinhas, que, ao final da primavera, ficavam amarelas. Centenas de pedacinhos dourados caíram de uma só vez em torno delas.<br />- Ah, que bonito! – a menina começou a rodar debaixo da <span id="SPELLING_ERROR_22" class="blsp-spelling-error">chuvarada</span> de ‘ouro’.<br />A menina ria. A prima ria. Havia no ar perfume de flores. O sol aquecia o mundo agradavelmente e a brisa morna trazia o cheiro do mar.<br />A menina cochichou para a prima:<br />- Vou contar um segredo. Essa é uma árvore que canta.<br />Um som agudo, forte e bem ritmado fez-se ouvir. E a menina colocou a mão no tronco, sentindo o tronco vibrar:<br />- Ponha a mão aqui assim. Sente. Ela canta.<br />A prima riu e começou a andar em roda da árvore. E roda daqui, roda dali, encontrou a cantora.<br />- Olhe, querida, aqui está sua cantora.<br />- Ai! – a menina pulou de susto. Um <span id="SPELLING_ERROR_23" class="blsp-spelling-error">inseto</span> do tamanho de sua mão, preto, gordo, de olhos esbugalhados e grandes asas <span id="SPELLING_ERROR_24" class="blsp-spelling-error">transparentes</span>, tremia fazendo <span id="SPELLING_ERROR_25" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_26" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_27" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_28" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_29" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_30" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_31" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_32" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_33" class="blsp-spelling-error">cra</span> <span id="SPELLING_ERROR_34" class="blsp-spelling-error">crrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii</span>....<br />- Que é isto?<br />- Uma cigarra.<br />- É? Agora entendo porque a formiga da fábula não quis dar comida para a cigarra no inverno. Só no jantar a cigarra acabaria com tudo.<br />A partir deste dia, durante todo o verão, a menina procurava por cigarras olhando cada árvore do caminho. As cigarras se escondiam bem.<br />Os dias esquentando, as cigarras cantando...que tempo bom!<br />Certa tarde a menina parou à sombra da árvore que cantava. O ar tremeu quando uma orquestra de cigarras começou o seu concerto, tão alto e tão forte que a menina não conseguia ouvir a própria voz. Ficou ali escutando, vibrando junto, e descobriu que a música cigarra tinha sons de castanholas e de violinos. Tanta cantoria deixava a menina tonta.<br />Por semanas a menina acordou e adormeceu com o canto das cigarras. Os bichinhos – ou <span id="SPELLING_ERROR_35" class="blsp-spelling-error">bichões</span> – cantavam e cantavam e cantavam até rebentar. A menina sabia disso porque o pai encontrara uma casca seca de cigarra e mostrara para ela:<br />- Esta já arrebentou. A cigarra cresce, ‘muda de roupa’ e deixa a casca velha abandonada no tronco.<br />A menina guardou a casca vazia em uma caixa e levou para a escola, para mostrar para as colegas.<br />O verão passava, as cigarras cantavam e a menina ficava horas a escutar, a procurar pelas cantoras. Até que um dia...<br />A menina escutou um som estranho. Demorou para entender que era o silêncio. As árvores estavam mudas. Acabara a época das cigarras.<br />A menina suspirou:<br />- Vou ficar esperando pelo verão até ouvir a primeira cigarra cantar. Vou sentir falta da minha árvore que cantava.<br />E o tempo foi passando.<br />Até que, em um outro dia, a menina e a prima estavam justamente passando pela árvore da chuvinha de ouro, procurando por <span id="SPELLING_ERROR_36" class="blsp-spelling-error">sementinhas</span> no chão para chutar. Era divertido. As sementes pulavam e rolavam dando <span id="SPELLING_ERROR_37" class="blsp-spelling-error">estalinhos</span>. De repente....<br /><span id="SPELLING_ERROR_38" class="blsp-spelling-error">Criiiii</span> <span id="SPELLING_ERROR_39" class="blsp-spelling-error">criiiiii</span> <span id="SPELLING_ERROR_40" class="blsp-spelling-error">criiiiii</span>......<br />- Olhe, prima, ouça, a árvore está cantando de novo! – e a menina piscou para a prima, pois ambas sabiam que era apenas um grilo.<br />A árvore era o palco da bicharada cantora. A menina, porém, sempre podia ‘fazer de conta’.<br />Faz de conta que, era uma vez, uma árvore que cantava.<br /></p>Sonia Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/06628559588746977262noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548927944768727216.post-71555562694212027612010-12-21T04:39:00.001-08:002010-12-21T04:39:51.755-08:00Glória - romanceSinopse<br />Discussão das personalidades dos personagens e de suas opções de comportamento neurótico<br />Glória de Ricardo Gonçalves<br /><br />Alzira – mãe<br />Ricardo Gonçalves – pai <br />a primeira filha homônima da segunda <br />discussão ao voltar do cartório com a certidão de nascimento da filha = a primeira Tb houve discussão<br />a amiga Jane (eu) – a história de Jane – o namorado Boca – a avó – a briga com a mãe etc<br />a madrinha Fátima – a história do amor recolhido<br />primeira amiga Hanah – e a troca de jardim de infância <br />primeiro namorado Rafael Zalc – o prego – o avô bruxo por parte de mãe<br />segundo namorado Daniel Moscovski (conferir um sobrenome judaico) – o detetive etc<br />a sessão de caça aos sapos – rabólogo – Alexandre e o caso da mão suja – e da calcinha molhada etc<br />o marido José (vamos casar – discurso pronto – o primo Alfredo com o papel no bolso prevendo o casamento) – o almoço com o peixe às 4 da tarde – as pirâmides nas hemorróidas<br />a morte de Alzira – Ricardo casa-se com a madrinha<br /><br />De como os pais de Mabel se conheceram e da origem de seu nome.<br /><br />Alzira ouviu com desagrado o assobio dos rapazes, ao contrário das primas, que riram, e cochicharam entre si, animadas com a perspectiva de companhia masculina.<br />A cena passava-se em Buenos Aires. As três moças, beirando os vinte anos, eram gaúchas; as primas, da capital, Alzira, de Alegrete.<br />- A gordinha é minha – falou alto o mais baixo dos rapazes, que era também o mais gordinho.<br />Alzira corou, e virou o rosto para o outro lado, ignorando a chegada dos moços. As primas, por outro lado, forma ajeitando as cadeiras, de modo a fazer espaço para os recém chegados.<br />- Tu és pícara – comentou o gordinho, piscando os olhos, em um murmúrio somente audível para Alzira, que corou de novo.<br />Estabeleceu-se logo entre os seis um diálogo animado. Os rapazes eram cariocas, em férias.<br />As moças, como todas as de sua geração, ansiavam por casar-se, única forma viável de sair de casa, em meados do século vinte. Se quisessem estudar, deviam contentar-se com os cursos existentes em suas próprias cidades, e nisto as primas estavam em vantagem, ou estariam, pois haviam cessado os estudos ao concluir o colegial.<br />Alzira não era o que se poderia chamar de bom partido: era gorda, sem beleza e sem dote. Seu pai, entre todos os fazendeiros de Alegrete, era o que estava em pior condição, pois dificuldades econômicas o haviam forçado a vender boa parte de suas terras. Além disso, Alzira tinha um talento peculiar para a ironia, sua língua ferina gostava de sátiras e ditos espirituosos. Imitava com talento vozes, gestos e expressões faciais, o que divertia imensamente suas colegas de classe e desgostava seus professores.<br />Após alguns minutos de conversa, que Alzira aproveitou para desvendar as intenções ocultas de cada grupo sentada nas mesas ao redor, com as mais engraçadas comparações entre o circo e o flerte que pode encontrar, Ricardo Linhares, o moço gordinho, repetiu com satisfação:<br />- És mesmo pícara, e vou-me casar contigo.<br />Alzira, moça prática, engasgou. Olhou de soslaio para o rapaz, mantendo-se séria até o final da tarde.<br />Ricardo era simpático, tinha a pele clara, sem manchas, e, nos olhos claros, a centelha de inteligência que revela um intelecto superior, tão rara nos rapazes de Alegrete.<br />Ora, Alzira queria casar-se, quando não por outro motivo, porque gostava de crianças e queria ter seus ricos guris. Em Alegrete, nenhum dos companheiros de infância tocara seu coração; além disso, havia a questão do malfadado dote. Ricardo era advogado, bacharel recém formado, porém com perspectivas de um salário não muito ruim. Sua estatura baixa não era empecilho, pois não era mais baixo que Alzira, e, mesmo que fosse, não seria este um defeito tão problemático quanto um espírito obtuso ou uma queda pelo álcool. Sua conversa era atraente, revelando o hábito da leitura e o gosto pelas atividades culturais. Ele respondia rápido aos comentários de Alzira, percebendo imediatamente as entrelinhas de suas insinuações maliciosas. Quando ele solicitou seu telefone, Alzira respondeu que não dava seu número a estranhos, ao que ele retrucou que seria fácil localizar um nome no catálogo telefônico.<br />O fim de semana foi agitado, os seis jovens usufruíram da agradável companhia uns dos outros em passeios, refeições, espetáculos, sorvetes, até mesmo compras. Ao findar o domingo, todos lamentaram que o Rio de Janeiro fosse tão distante do Rio Grande, exceto Alzira.<br />Duas semanas depois, seu pai entrava em casa com Ricardo ao lado, vindo para solicitar a mão de Alzira em casamento. Em seis meses estavam casados e Alzira embarcou para o Rio de Janeiro, para espanto e inveja das primas.<br />A primeira filha do casal chamou-se Maria Isabel, nome escolhido por Ricardo em homenagem a sua avó materna. Se fosse menino, seria Rodrigo, nome do personagem preferido de Alzira em O Tempo e O Vento, romance gaúcho muito em voga na época.<br />Ora, ao voltar do cartório, Ricardo mostrou a Alzira a certidão da criança: Maria Isabel de Ricardo Gonçalves.<br />- Mas o que é isto? E o meu sobrenome?<br />- É minha filha – explicou o orgulhoso pai – por isso é Maria Isabel de Ricardo Linhares.<br />- É minha filha também. Que loucura é esta, homem? Como se a guria fosse assim uma espécie de propriedade tua?<br />Mas a discussão ficou por aí. Uma enfermeira entrou avisando que a pequenina sofrera uma convulsão súbita e acabara de falecer.<br />Sete anos depois Alzira concebeu novamente. Esta sua gravidez foi toda cercada de atenções especiais: comida a mais saudável possível, consultas com o melhor obstetra da cidade, nenhuma contrariedade. Ricardo vinha para casa cedo para garantir o sono tranqüilo da esposa. O casal, que convivera sete anos em harmonia, nunca estivera tão afetivamente unido como então, até o dia do nascimento da nova garotinha, que recebeu, como a primeira, o nome de Maira Isabel.<br />Maria Isabel de Ricardo Linhares.<br />- De novo esta maluquice? – explodiu Alzira, furiosa. – De novo este maluco do meu marido excluiu meu sobrenome do nome de minha filha!<br />- Amada minha, será mesmo necessário discutir por este pequeno detalhe? Afinal, eu vou cuidar desta criança com a maior dedicação, carinho e respeito; vou desdobrar-me em cuidados para garantir a ela a melhor educação possível e continuarei a fazer o que estiver a meu alcance para ser o mais atencioso dos maridos. Não basta para você? – dizendo isto, Ricardo deixou o quarto. Quando ele retornou, ao final da tarde, Alzira não tocou no assunto nome, convencida de que o mal já estava mesmo feito, e havia coisas bem mais importantes do que este capricho inexplicável do marido. Ela tinha em mãos um bebe saudável; eram um casal feliz por ter um recém nascido vivo, após a morte da primeira e mais sete anos de espera. Alzira, sendo uma mulher sensata, escolheu valorizar as atitudes positivas de seu marido, dando de ombros para sua original vaidade.<br />Anos mais tarde, quando Mabel perguntou aos pais pelo seu nome singular, e descobriu que era, em realidade, homônima da falecida irmã, comentou:<br />- Bizarro.<br />Prática como sua mãe, Mabel não deu maiores atenções ao fato. Quando indagada pelos colegas a respeito de seu sobrenome, apenas dava de ombros e comentava:<br />- Isto é coisa lá do meu papai.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />De como a autora decidiu escrever o primeiro capítulo.<br /><br />Recentemente eu estava lendo as anotações que fez Monteiro Lobato na cadeia, sobre um novo romance que pretendia escrever, suprimindo todas as passagens que os leitores normalmente pulam. Genial, não é mesmo? Bem, talvez eu faça isto, mas, primeiro, terei de escrever todo o texto, entregá-lo para vários leitores, e pedir que marquem aqueles trechos que acharam redundantes e então, cortá-los do original. Mas eu estava me referindo ao primeiro capítulo, ano é mesmo? Voltemos, pois, ao tema.<br />Pois existem varias maneiras de escrever-se uma história, sendo o processo todo, é claro, exatamente igual: você escreve a primeira letra e a ultima. No meio, recheia-se o texto com palavras. É claro, esta frase é uma variação do dito de Pablo Neruda: Escrever é fácil: você começa com maiúscula e termina com um ponto final.<br />O fato é que, nesta história em particular, minha opinião: conhecer a personalidade dos pais é fundamental para entender a personagem principal. E a maneira como eles mesmos contam como se conheceram foi, pelo menos para mim, bastante reveladora.<br />Isto posto, podemos voltar a nossa história.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Dos primeiros anos da herdeira de Ricardo Linhares, sua singular educação e uma lacuna em sua educação, a não socialização com seus iguais.<br /><br />Mabel não teve uma infância normal. Para começar, não teve contato com seus parentes.<br />Ricardo sofreu sérios reveses financeiros, e recebeu uma boa proposta de trabalho, em Buenos Aires. Assim sendo, Ricardo e Alzira foram morar na Argentina, com a filhinha recém-nascida, e aí permaneceram por oito anos, morando em um hotel.<br />Para a família, tal arranjo era justificado por ser uma situação provisória, mas, na realidade, vinha de encontro ao nenhum apego de Alzira para as tarefas domésticas. De fato, durante os primeiros anos de casada, Alzira queimava regularmente a comida, bem com as camisas do marido, exibindo um rosto sulcado por culpadas lágrimas quando este chegava do serviço e encontrava o desastre consumado. Após algumas semanas, Ricardo optou por comerem fora todos os dias e contratou uma criada por meio período, para a execução das pequenas e enfadonhas tarefas domésticas, o mesmo arranjo que utilizara em solteiro, já que o que realmente lhe importava era ver o rostinho de sua amada esposa risonho e seu humor, o mais satisfeito possível.<br />Voltemos a Maria Isabel, a segunda.<br />A garotinha era muito bem tratada, costumava adormecer cedo, e seus pais tinham o hábito de deixá-la sozinha no quarto enquanto desciam para jantar, no próprio hotel. As camareiras do andar, sabedoras do arranjo, evitavam falar alto nos corredores para poupar o sono da criança, e até empurravam seus carrinhos mais delicadamente neste horário. Esta fórmula não apresentou nenhum problema durante os quatro primeiros anos. Então, em uma particular noite, um choro forte, ou melhor, um berreiro infernal alarmou a todos. Chamados às pressas, Ricardo e Alzira encontraram uma assustada menininha, em prantos, chamando por papai e mamãe. A partir de então, a garotinha passou a jantar mais tarde, em companhia dos pais, que até se aventuravam a comer em outros locais, para grande alegria do casal.<br />Alzira, que estudara para ser professora, embora nunca houvesse exercido a profissão, ensinava à filha tudo o que poderia ser ensinado em uma pré-escola e até mais, pois aos quatro anos Mabel lia perfeitamente e ensaiava escrever as primeiras letras; sabendo também declamar de cor várias poesias e pequenas histórias que sua mamãe lhe ensinava. Não tendo mais o que fazer, nem amigas a visitar, e, gostando imensamente de sua profissão e de sua filha, Alzira fez um excelente trabalho com a menininha.<br />Este singular casal, centrado em si mesmo, parecia não fazer a menor questão de freqüentar grupos de amigos, e não se preocupavam com o fato de que a filha não tivesse companhia para brincar. Não viam nenhuma vantagem em fazer amizade com portenhos, nem queriam que a garota convivesse com crianças que não falassem português.<br />Quando voltaram ao Brasil, desta vez instalando-se na cidade de Santos, estado de São Paulo, onde também não tinham nenhum conhecido, mas onde havia excelente perspectiva de ganho financeiro para Ricardo, , procuraram casa no melhor ponto da cidade, o bairro chamado Gonzaga, e, é claro, no orla da praia, pois, na opinião de Alzira, e seu marido concordava com ela, aparência é o princípio de tudo,<br />Como Ricardo não estivesse assim tão bem de finanças, procuraram sem sucesso uma boa casa nestas condições. Como Alzira não abrisse mão do bairro, entre uma boa casa na periferia e um pequeno apartamento no Gonzaga, ficaram com este último. Não podendo arcar com um condomínio alto na orla da praia, conseguiram um prédio a duas quadras da praia, de onde, da sacada, por uma fresta entre dois prédios em frente, podia-se ver uma faixa da praia. Era o bastante para satisfazer o critério de sinceridade de Alzira. Agora ela poderia dizer, tanto para a família quanto para as outras mães da escola da filha, que, de sua residência no Gonzaga, podia-se ver a praia. Que esta residência fosse um apartamento de um quarto, e que a vista limitava-se a uma nesga da paisagem, eram detalhes que Alzira não precisava comentar, e, neste sentido, instruiu igualmente a filha.<br />No apartamento realmente minúsculo, a cozinha mal comportava um fogão e uma geladeira; colocaram uma boa mesa de refeições, com quatro lugares, na sala. Para complementar, em frente ao móvel da televisão, um sofá cama, que, à noite, se transformava na caminha da filha.<br />Um varal, acoplado à mini cozinha, recebia o apelido de área de serviço, porém as roupas da família eram enviadas semanalmente para uma lavanderia. Desta forma, o aprendizado das prendas domésticas não fez parte da educação desta particular moça de boa família. Uma faxineira vinha uma vez por semana limpar o minúsculo ‘apertamento’, cujo local mais freqüentado, era a varanda, pois dali recebiam ar fresco, sol e notícias das vizinhanças, sendo a espionagem o passatempo preferido de Alzira.<br />Mabel foi admitida em uma escola passando com louvor no exame de admissão.<br />A escola, como pesquisaram os pais, era a mais conceituada escola para moças de boa família da cidade. <br />Ora, na escola, Mabel imediatamente afeiçoou-se a uma garotinha, com quem passava todos os momentos livres, brincando juntas antes e depois das aulas, dividindo os lanches no recreio, estudando juntas para as provas, chamando-se uma à outra de minha melhor amiga, até o dia em que Ricardo descobriu que seu nome não era Ana, como pronunciava Mabel, e sim, Hannah. Sim, a garotinha era judia. E daí?<br />Bem, daí, Mabel não entendia o porquê, nem Alzira, esta amizade era impensável. Tendo se manifestado contra este relacionamento, Ricardo foi ao colégio pedir a imediata expulsão de Hannah, no que, evidentemente, não foi atendido. O pior, para Mabel, é que todas as colegas da classe ficaram sabendo da história, começando a chamá-la de nazista, fosse lá isto o que fosse. Pesquisando, Mabel aprendeu muita coisa sobre alemães e um conflito mundial chamado segunda guerra, Hitler e outras barbaridades mais. O que não fazia nenhum sentido, pois ela era brasileira, e seu pai nem era alemão!<br />O fato é que Ricardo retirou a filha da escola e matriculou-a em outra, a segunda melhor escola de Santos para moças de boa família, com a devida recomendação de que, dali por diante, escolhesse com mais cuidado suas amizades.<br />Em lágrimas, Mabel despediu-se de sua melhor amiga e passou a odiar o pai.<br /><br /><br /><br /> <br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Dúvidas do autor sobre a melhor maneira de como terminar este romance, pois, sendo o autor também enxadrista, sabe que no primeiro lance, já está contida a semente da vitória – ou da derrota – enfim, o final, qualquer que seja ele.<br /><br />Li certa vez em um livro de Mark Twain, creio que foi em As aventuras de Tom Sawer, que o autor deve saber o momento de encerrar sua história, o que acontece, na maioria dos romances, com o casamento, e, quando se trata de crianças, em algum momento marcante, antes da adolescência. <br />Como a historia de Mabel se propõe a ser um estudo de personalidades, sendo Mabel mulher, e, sendo romântica, eu poderia adotar o critério casamento para finalizar este relato. Pois em uma história, o casamento, quando não expressa a consumação de uma paixão, ao menos esclarece outro objetivo prático sobre o qual a sociedade finge não dar importância, qual seja o de estabelecer uma posição social para a mulher.<br />Porem, sendo Maria Isabel fruto do século vinte, filha de pais inteligentes, educada por uma mãe que a orientou para a autonomia e não para o parasitismo, talvez eu prolongue um pouquinho mais a história, para esclarecer a correta perspectiva de vida desta singular figura feminina, cuja trajetória pelo planeta colidiu com a minha de forma significativa.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />As estratégias de vida de Mabel.<br />Maria Isabel lia muito. Surpreendeu as professoras do colégio com suas notas altas, apesar de sua formação não ortodóxica – lembremos que, naquela época, não havia a possibilidade de educação em casa, supervisionada pelo estado, como hoje.<br />Meus melhores amigos são os livros, dizia ela, com medo de envolver-se em amizades que pudessem desgostar o maluco do pai. Assim, ao atingir a idade em que lhe foi permitido sair à rua desacompanhada, saía de casa sozinha, encontrando os amigos em algum outro lugar, previamente combinado, longe dos olhos curiosos dos genitores.<br />Maria Isabel não gostava de perder. E não queria tornar a perder pessoas importantes como amigos. Assim, não falava de suas relações com os pais, não convidava pessoas para sua casa, exceto em seus aniversários, quando convidava toda a classe, para que o pai não pudesse saber quais suas companheiras preferidas, que, por sinal, eram relegadas a segundo plano, tão logo ultrapassavam a soleira da porta. Mas como Mabel as avisava antes do problema ‘o maluco do meu pai ciumento que não quer me dividir com meus amigos’, as amigas sorriam, e compartilhavam do jogo.<br />Mabel percebeu logo cedo que autonomia era decorrência de independência financeira, ou, em palavras mais simples, se uma pessoa tem dinheiro suficiente para se manter, é livre para viver do jeito que preferir, caso contrário, tem de ceder aos desejos dos outros, dos que a sustentam.<br />Assim, ela resolver ter uma profissão que lhe permitisse ganhar bastante dinheiro, para viver com razoável conforto. Herdara da mãe o gosto pelo luxo, e, do pai, a vontade de comandar. Como tinha bom coração, e se importava com as outras pessoas, escolheu medicina, profissão instigante o suficiente para manter sua mente ocupada, não caindo na monotonia de outras profissões não intelectuais.<br />Maria Isabel não era fútil, nem superficial, nem preguiçosa. Vaidosa, sim, mas nada exagerado. Gostava de boas roupas, cuidava de sua aparência, acreditando que a beleza interior contava, sim, mais que a exterior, e jamais participaria de desfiles de modas ou ensaios fotográficos, nem planejava ser incluída nas colunas sociais dos jornais da cidade, como muitas de suas colegas. Ria de coisas como nome de família e árvore genealógica, mas ria por dentro, sabendo muito bem da importância de não ferir os sentimentos de gente importante como os pais de suas colegas de classe, que, no futuro, talvez pudessem destruir sua carreira com um comentário idiota sobre aquela garota arrogante que estudou com minha filha... ou coisa que o valha. Mabel aprendera muito bem com a mãe a cultivar as aparências, mesmo que não acreditasse nelas. Havia gente que valoriza as aparências e uma pessoa socialmente inteligente pode tirar proveito deste fato simples. Ponto.<br />Houvera o exemplo, muito elucidativo, do médico do governador do estado, consultado por muitos socialites da época simplesmente porque era chique ser cliente do mesmo médico que o governador. Pois bem, um belo dia, o sujeito se envolveu em uma morte por imperícia, e descobriu-se – pasmem – que o camarada não tinha diploma de medicina nem de cosia nenhuma, era mesmo um descarado charlatão! Ah, a cara de bobo do governador, a cara de bobos de todos aqueles socialites... Bem, se uma pessoa aparenta ser importante, os ricos e poderosos vão responder à sua aparência, e tratar esta pessoa como se importante fosse. Claro, se a pessoa em questão estiver respaldada por um diploma, for inteligente, enfim, se além de parecer, for importante, melhor. Agora, se a pessoa, sendo assumidade em qualquer assunto, for também humilde, estará ferrada, como se dizia na gíria da época, poderá até ganhar o Nobel, mas não receberá convites que a coloquem em contato com pessoas influentes.<br />Assim fica esclarecido que Mabel acreditava em metas e em sucesso programado. Entrou no jogo da vida para vencer, o que, para ela, significava ganhar sua própria liberdade, após os dezoito anos, com um diploma que lhe garantisse a subsistência e uma profissão que lhe garantisse uma posição social importante. Daí a poder escolher amigos e marido, era conseqüência. De quebra, viagens, dinheiro, poder, não sendo o objetivo principal, constituíam vantagens adicionais a serem devidamente apreciadas. Respeito próprio adivinha do fato de ter escolhido uma atividade útil.Sonia Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/06628559588746977262noreply@blogger.com0