terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Uma cinquentona em férias.


Aotearoa, o pais das longas nuvens brancas, ou o nova costa: New Zealand

Queenstown


Esta viagem seria a primeira que faria sozinha. Felizmente a filha a ajudara com a internet a reservar passeios e hotéis na Nova Zelândia.
Qantas (a commpanhia de aviação em que agendara o vôo) em greve, vulcão ativo no Chile, resultaram em atraso do vôo, contratempo que não chegou a atrapalhar muito a viagem. Chegara, finalmente.
Deveria pegar um ‘chato’ no aeroporto – a filha dissera assim: fala-se ‘chato’. Ela lera shuttle e já estava inventando uma pronúncia diferente. A gente sempre evita os sons que lembram palavras portuguesas quando falamos em inglês.
Pagou os 30 dólares ao motorista e logo estava no hotel dirigido pela Mrs. Lynley, uma simpática irlandesa muito gorda e risonha. A filha e o genro ficavam rotineiramente neste hotel quando vinham para esquiar nas férias.
É um simpático hotel, com vista para o lago Wakatipu, em Queenstown.
Wakatipu é o nome de uma deusa gigante que caiu na terra e ficou lá sentada, extasiada decerto com a beleza do lugar – sentada pois a forma do lago lembra uma pessoa sentada.
Sorriu.  Lembrava-se de como se confundia e conversava com a filha falando: ‘quando eu for para Queensland’, e a filha ria: se você chegar no aeroporto e falar que vai para Queensland, o pessoal vai fazer você embarcar num avião para a Austrália! Ela detestava confundir nomes, rostos e datas, o que estava sempre acontecendo, o que fazer, seu cérebro era assim e pronto, esse é um dos seus pontos fracos.
A Nova Zelândia., pelo menos a ilha sul, dava mesmo a impressão de ser uma geladeira, apesar de já ser final de primavera. Dava mesmo a impressão, como diziam no site portadaocenia, de que se esqueceram de desligar o ar condicionado.
A filha havia dito que ela deveria andar de gôndola no primeiro dia, então ela deixou as malas no quarto, pegou um mapa na recepção e aventurou-se pela cidadezinha. Apenas para descobrir que sua bussola interna, como de costume, não funcionava. Pegou a direita, logo percebeu que estava a voltar para o aeroporto, então virou pra a esquerda e foi rodeando o lago.
Até então só vira montanhas. Passaram pela cordilheira dos Andes tão próximo ao Aconcágua que ela tivera a impressão de que poderia tocá-lo com a mão. E ao aproximarem-se de Queenstown, vira as montanhas de cima, enrugadas e rachadas, mas sem neve. A seu lado, uma brasileira que vivia ali há cinco anos, foi gentilmente contando fatos sobre a região:
As montanhas, no inverno, são muito belas de se ver daqui de cima, cobertas de neve, mas agora... este ano, aliás houve pouca neve, é preciso 80 cm de base para que as pistas de esqui funcionem direito, e no auge do inverno só havia 50 cm de neve, uma estação perdida, esta, houve uma nevasca atrasada em agosto, e graças a Deus a competição de baseball salvou-nos do prejuízo, veio muito gente, do mundo todo, para esta competição, notou as bandeirinhas dos países competidores que estão por toda parte?
Não havia como não notar, ela já estava pensando a quem perguntaria sobre aquilo, e a resposta veio espontaneamente; durante toda a semana veria as bandeirinhas e ouviria comentários e piadas sobre a tal competição, muito esperada e curtida pelos kiwis. (como o pássaro símbolo da Nova Zelândia é o kiwi, os habitantes recebem este apelido carinhoso) A brasileira também falou do merino, excelente lã fabricada na região com pelo de carneiro misturado a de outros animais de boa lã, como o possum e a alpaca; o merino é muito quente, bonito e leve; das fazendas de ovelhas, do lago Wakatipu, das montanhas Remarkables Rocks e do filme O senhor dos anéis que foi em parte filmado em Queenstown e em Fiordland. Como curiosidade, ela ficou sabendo que mais de três mil brasileiros vivem atualmente em Queenstown, tanto que os serviços religiosos tem um horário especial rezado em português, especialmente para os brasileiros. A brasileira trabalhava em um hotel, não o mesmo em que ela ficaria, e ao descer no aeroporto separaram-se, a outra em direção ao filho que a esperava e ela em direção a esteira de bagagens, em duvida se estaria sendo rude ao dizer o rápido até logo. Enfim, a outra tagarelava por duas e ela não tivera muita oportunidade de falar.
Então, saindo do hotel para o seu primeiro passeio, olhou com atenção para as montanhas Remarkables – belas, realmente, todas recortadas contra o céu intensamente azul.
O lago, muito azul, com as águas encrespadas pelo vento, estava quase vazio – seria pelo frio? Andando ao redor dele, fatalmente acharia o centro, pois estava confusa com o mapa. Realmente, havia uma bifurcação que ela logo descobriu que dava no mesmo lugar, por cima ou por baixo, chegava-se ao centro. Imensos pinheiros, do tipo que cresce no Paraná, porem com pinhas minúsculas e galhos imensos, altíssimas – que contraste, arvores tão grandes darem pinhas tão minúsculas! Se pudesse, recolheria algumas pinhas para fazer enfeites de Natal, tão bonitinhas, tão mínimas...
Havia muita gente no centro, ela procurou primeiro o banco para trocar o dinheiro e em seguida um restaurante, para almoçar seu primeiro ‘lamb’. Os kiwis preparam esta iguaria com filhotes de ovelhas de carne macia pois só tomam leite. Acompanhado de um vinho local, tinto, e acompanhado de purê de batatas, o almoço estava delicioso.
Depois disso, ela procurou a Patagônia, a confeitaria local, onde a filha recomendara que experimentasse o chocolate, e ela descobriu tratar-se de uma sorveteria. Naquele frio intenso, muitos jovens kiwis em trajes mínimos de verão tomavam sorvete, ao lado de tiritantes turistas encapotados até as orelhas, em um contraste cômico. Ela estranhou os trajes dos jovens, de chapéus com chifres e desenhos de cicatrizes nas faces, até mesmo as moças que serviam no balcão estavam assim, estava a pensar que havia ali tribos de darks, metaleiros e outras, até mesmo duas mulheres velhas estavam com estranhos ornamentos nos cabelos, parecendo bruxas, e a filha, esta mesma noite, conversando pela internet, a esclareceu: Mãe, lembra que aí hoje é dia do Halloween!
E, é claro, nos outros dias, todos estavam vestidos do jeito normal.
Como ela não achava a gôndola, por mais que virasse o mapa para todos os lados, resolveu sair andando a esmo e olhando para cima, ate ver os bondinhos, ai foi só seguir naquela direção e logo se encontrou no local certo.
Em frente ao embarque das gôndolas, há o parque Kiwibird. Pagou os 25 dolares e entrou. Viu ali os maiores pinheiros de sua vida, sem duvida ali filmaram O Senhor dos Anéis. O parque tem um sistema pratico de gravador portátil que vai contando ao turista, em sua própria língua, tudo sobre as arvores, flores, e, é claro, os pássaros ali enclausurados. Ela ouviu as primeiras, mas logo deu-se conta de que as mesmas coisas estavam escritas ou nas placas do parque ou no folheto de orientação que recebera. Tirou o fone dos ouvidos e ficou ouvindo a sinfonia real, das centenas de passarinhos soltos na reserva. Um espetáculo à parte. Claro que viu exemplares dos kiwis, o passarinho tímido quase extinto, protegido por lei. E assistiu a um show com pássaros e até um possum – finalmente ela via o seu primeiro possum, bem grande e felpudo.
Depois, na lojinha do parque, simplesmente teve de comprar um agasalho condizente – um merino, naturalmente, leve, quente, bonito, que a acompanhou pelos próximos dias e a manteve quentinha e confortável.
Depois, subiu a gôndola. Lá em cima fez de tudo o que tinha direito: andou nos carrinhos que desciam a montanha, um pouco encabulada pois os meninos pequenos a ultrapassavam facilmente, assistiu ao show dos maoris, a Kiwi Haka, jantou no restaurante panorâmico vendo por do sol no lago Wakatipu e comprou dois livros sobre os maoris na lojinha ao lado.
O show dos maoris foi interativo. A primeira surpresa foi o tamanho deles, são muito altos, mesmo as mulheres. A segunda foi a alegria e a energia com que dançam e se expressam. A dança de acolhida é muito alegre e bonita, e a dança de guerra realmente assustadora. Um dos rapazes traduziu a letra da Haka e depois explicou porque a lança deles tem uma ponta espalmada e outra fina com um detalhe largo logo após a ponta:
A letra da canção diz mais ou menos assim: foi te pegar, te esganar, te trucidar, te esmagar, te pisotear, furar o teu crânio, abrir tua cabeça, comer o teu cérebro.
E o dançarino mostrou como a lança é usada para furar, alargar o furo com o detalhe largo após a ponta, abrir o crânio como uma tampa usando a parte espalmada da lança que também serve de colher para saborear o cérebro do inimigo, o que, para o guerreiro, é uma iguaria... Aí ele lambeu os lábios e sorriu, explicando que hoje em dia, eles preferem as iguarias do Macdonalds...
As mulheres maoris mostraram para as mulheres da platéia como usar o poi – um tipo de io-io em forma de bola com que elas fazem malabarismos ao dançar – foi gostoso subir ao palco e dançar com elas, mesmo se atrapalhando toda para fazer os gestos corretos, claro que todas erraram um pouco, acertaram outro pouco e todas se divertiram em dançar.
A seguir foi o jantar.
A comida estava deliciosa, após a salada fria de frutos do mar tudo o mais seria gulodice, brasileiro não costuma jantar tão cedo, com o sol ainda à vista. E, é claro, ela preferiria estar acompanhada para conversar.
Ao descer, ainda estava claro e ela foi caminhando em direção ao hotel, estranhando as ruas já parcialmente vazias – em frente às marinas os bares estavam cheios de gente, degustando os vinhos locais. Havia cartazes anunciando os passeios de barco mais caros que ela já vira. A brasileira do avião recomendara que andasse de lancha a jato – é seguro e emocionante, dissera ela. De qualquer forma, a previsão do tempo para o dia seguinte era chuva, e ela estaria excursionando em Fiordland.
Comprou no caminho umas barrinhas de cereais feitos com mel, macias, deliciosas, em uma loja graciosa que fazia ‘cookies’ somente para ‘serious cookiemunchers’, ou seja, fazemos biscoitos para aqueles para quem comer biscoitos é uma atividade levada a sério. E os biscoitos tinham carinha feliz...um lugar para encantar crianças e adultos.
Avisou Mrs. Lynley que pretendia tomar o café da manhã ali. A filha dissera que havia muitos locias perto para comer, mas ela não estava com disposição de andar três quadras ou mais até o café mais próximo debaixo de chuva, logo ela que acordava com a fome, mesmo estando prevenida com barrinhas de cereias que logo descobriria serem as mais deliciosas que já comera em toda a sua vida, feitas com mel, macias de derreter na boca.
E logo entocou-se na cama quentinha, após um banho morno, para adormecer na expectativa do próximo passeio.


Fiordland

Na manhã seguinte, ela desceu para o café, em tempo de garantir o horário da excursão.
Café fora do Brasil é complicado – ou é aguado, ou é amargo e fraco, ou é servido com leite gelado em dedal. Os potes de leite parecem mesmo pequenos dedais, e a gente acaba tomando leite com café e não café com leite.
Havia sobre a bancada um pote de água fervendo, um bule com leite (gelado), garrafas térmicas com café amargo e aguado.
Ela serviu-se de água quente e preparou um chá. Inglês, kiwi ou australiano, todos os sabores de chá são deliciosos. O mesmo diga-se dos iogurtes cremosos, com ou sem frutas, misturados com o mel local. Divinos! E o pão de forma, com sementes de linhaça, estava também muito saboroso com a manteiga cremosa e com geléia de laranja.
Subiu para escovar os dentes e pegar sua mochila, estando pronta dez minutos antes do prazo como manda a prudência. O ônibus que passou para pegá-la estava lotado de pessoas de todos os países possíveis – indianos, sempre, asiáticos de todas as procedências, nórdicos, europeus, e uma espanhola com quem ela conversou e lanchou, Esperança, que vivia há dois anos na Austrália.
Passaram por diversas pequenas cidades, como Dunedin e Te Anau, antes de entrar no parque propriamente dito. Pareciam miniaturas, as casinhas todas arrumadinhas, os carneirinhos por toda parte – haja lã! O que esta gente faz de tanta carneirada?
Viajando sem maquina, ela sentia-se livre para observar a paisagem, mergulhar na beleza. As filhas não entendiam como ela podia viajar sem fotografar – quando envelhecerem também irão entender, pensou ela, não tem graça nenhuma foto de gente velha, a mocidade gosta de se ver nas fotos por serem bonitos, como ela também gostara das fotos que tirava na mocidade.
O parque nacional Fiordland é imenso, o ônibus levou quase duas horas para chegarem a Milford Sounds onde pegariam um barco para velejar junto aos fiordes.
Pararam ainda outra vez em frente a uma praia, e aí, em uma barraquinha de lembranças. Ela comprou o que chamava de casaco de vento – uma jaqueta à prova d’água com malha térmica por dentro – rosa com o desenho de um pássaro kiwi no peito, bem bonitinha, que a acompanharia pelos próximos dias. E aí ela começou a entender a lógica das imensas mochilas dos neozelandeses – depois de colocar a garrafa de água, um casaco de vento e um merino, a mochila já está imensa....
Ao chegarem finalmente ao atracadouro, ela estava faminta e arrependida de não ter comprado alguns doces no caminho – para sua surpresa, o almoço incluso prometido pela agencia de viagens era na verdade um kit de picnic – frio! Verdade que o frango com queijo que recheava o pão macio estava muito saboroso, mas naquela temperatura, seria muito mais desejável alguma coisa muito, muito quente para comer. Havia também uma maçã e alguns biscoitos. E do lado de fora, leões marinhos, pingüins, gaivotas, as belíssimas rochas - e a chuva!
Ah, a chuva não deixou que vissem o pico Mitra refletido na água azulada, pois a água estava cinzenta e o céu cheio de nuvens encobria os picos dos fiordes mais altos... e nem por isso deixam de ser impressionantes e ela pensou que dos altos daqueles picos, milhões de anos a contemplavam, indiferentes.

A caminho de Christchurch

No dia seguinte pela manhã, repetiu-se a rotina do café da manhã, exceto pelo fato de que ela encerrou a conta e desceu com as malas, pois na noite seguinte dormiria em Christchurch – a bela cidade atingida por dois terremotos em menos de um ano. A filha saíra de lá um dia antes do primeiro terremoto, e não queria voltar lá, com medo de outro, mas ela não temia os terremotos. Afinal, como a filha costumava dizer, tragédia na Nova Zelândia significa que morreram duzentas ovelhas – mas no terremoto morreram algumas pessoas, sim, e a linda catedral ficara muito danificada e ela não poderia visitá-la.
O ônibus passou por diversas pequenas cidades, como Cromwell, às margens do lago Dunstan – ali viu um mercado onde estavam vendendo mel em potes cremosos, doces de todo tipo, frutas belíssimas e maduras, vinhos locais e queijos. Ela ficou embaixo de umas árvores ouvindo os pássaros, pois é claro que não iria carregar doces, frutas ou queijos consigo!
Ela gostou especialmente do lago Tekapo – estava um vento terrível quando passaram por ele, suas águas azuladíssimas encrespadas e revoltas. Viram a estatua do cão pastor, o guia ficou vários minutos a contar a história do fazendeiro que trouxe as ovelhas para aquela região e seu cão, homenageado na estátuta; visitaram a pequena igreja em frente ao mar, porém o espetacular é mesmo o lago em si. Que cor! Só mesmo vendo para entender o deleite que é admirar aquela água gelada e linda.
As paisagens sucediam-se, umas mais maravilhosas que as outras, até chegarem ao Monte Cook, pela hora do almoço.
Monte Cook que ninguém viu, por causa da chuva, das escuras nuvens e da neve – sim, neve, pois nevou no exato momento em que desceram do ônibus e ela não se importou de sair de nariz para cima, braços abertos, cara de boba, era a primeira vez que via neve e uma americana também exclamou, com ar maravilhado: Neve!
O almoço ali foi um almoço de verdade, servido em um salão elegante e a seleção de iguarias foi excelente – até mesmo ostras e grandes mariscos para serem degustados.
Só cinco pessoas escolheram almoçar – os demais preferiram comer na lanchonete. A mesa do almoço foi servida para cinco pessoas – ela e dois casais de americanos, com nomes estranhos impossíveis de lembrar, e que entabularam uma conversa polida, assim ela pode praticar um pouco de seu inglês. Um dos americanos já estivera uma vez no Brasil, para surpresa dela, ele estivera no sul, em Florianópolis.
Depois de deixarem Monte Cook para trás, após vinte minutos, apareceu o sol e o tempo permaneceu claro até a tarde.
Quando o ônibus a deixou no hotel em christchurch, ela foi informada que teria de tomar café no quarto, pois ali tratava-se de um bed breakfast - e o rapaz do hotel levou para seu quarto tudo o que precisaria para tomar uma excelente refeição – na verdade, ele levou tanto pão, biscoito, fruta, mel, iogurte e cereal, que ela poderia comer todas as três refeições do dia com tudo aquilo.
Ela tomou um banho rápido, pegou seu mapa local e tratou de andar ao ar livre o máximo tempo possível, primeiro porque ali perto havia um parque muito grande e bonito, segundo porque estivera sentada por longas horas, terceiro porque se chovesse no dia seguinte ela não poderia passear nos parques.
O dia longo só escureceu depois das oito da noite, e ela pode passear e congelar em meio a belas árvores, flores, pássaros e esportistas praticando ciclismo, corrida, ou caminhando, como ela própria. Que bom que comprara seu merino! Lembrava-se do tom jocoso com que o pessoal do site portaldaoceania referia-se ao congelado turista – era exatamente assim que ela se sentia – uma congelada e extasiada turista.
Antes de dormir, agradavelmente gelada, usou a internet do hotel para enviar mensagens para a filha, agradecendo a excelente escolha do roteiro.
No dia seguinte passeou pelo Jardim Botânico, quando começou a chover entrou em um trenzinho parado em frente ao museu, que anunciava passeio Caterpilar – ela entrou por dois motivos – para fugir do frio e da chuva e porque achou que o passeio era sobre insetos. A guia, motorista, uma senhora loira muito simpática, começou a conversar com ela, a única passageira do dia naquele horário, quando soube que ela era brasileira contou que já estivera no Brasil, em Florianópolis, uma ilha muito bonita, visitando a cunhada, pois seu irmão se casara com uma brasileira, e, disse ela, ficou muito admirada de ver que nossos pinheiros dão pinhões gordos que se podem comer!
Bem, conhecer dois estrangeiros que vieram a Florianópolis na mesma semana, isso é uma tremenda coincidência. Até então, em suas viagens, ela só conhecera estrangeiros que falam do Rio de da floresta amazônica.
O passeio durou uma hora, e parou quase no mesmo instante em que a chuva também parou. Depois de uns dez minutos, ela, inquieta, perguntava-se quando começaria o discurso sobre os insetos, pois a simpática guia so falava das arvores e das flores, e então deu-se conta de que o trenzinho, compriiiido, era que era o caterpilar! Ai,ai...
O museu de Christchurch a encantou. Havia uma réplica da cidade inicial, com suas lojas e profissionais do século XIX, em tamanho natural, que a encantou. A pessoa podia sentir que estava mesmo andando pela cidade antiga, vendo as lojas de brinquedos de madeira, as lindas bonecas, a casa de roupas femininas, o sapateiro, a chapelaria, até um cavalo estacionado em frente ao poste de luz com os dizeres: Crianças podem montar.
Na parte de antropologia, imensas cenas onde se viam os primeiros maoris caçando a moa, pássaro hoje extinto, sem asas, que devia ser mansinho como o kiwi de hoje.
Maravilhosos estes museus interativos, em seu tempo de menina, os museus eram locais enfadonhos onde as crianças não podiam mexer em nada, e os adultos ficavam o tempo todo brigando com elas, e, bem, crianças são curiosas e devem poder mexer em tudo para aprender.
Ao final da visita, parou na cafeteria do museu para tentar um moka – inutilmente, tudo o que este povo faz com café é simplesmente intragável para o paladar brasileiro, só serve mesmo para aquecer as mãos congeladas. Voltou a pedir chá – sempre bom nos países de língua inglesa – com um delicioso bolinho, coisa que estes povos fazem com maestria, um mais gostoso que o outro.
Era uma pena que o terremoto tivesse destruído o centro da cidade e ela não pudesse ver a linda catedral, que estava fechada para reformas, nem as outras atrações do centro; aliás, havia tantos lugares em reformas pelas avenidas que ela desistiu de tentar espiar o centro. Toda vez que tentava desviar de uma rua interditada, perdia-se.
A cidade havia sofrido dois terremotos – um em setembro de 2010 e outro em fevereiro de 2011 – este segundo destruiu tudo o que havia sido reformado até então e a cidade teve de começar tudo de novo, com imenso prejuízo de tempo e dinheiro.
Ao final da tarde ela voltou ao hotel, acabou de comer os biscoitos do café da manhã, encerrou a conta e esperou o taxi que a levaria ao aeroporto, onde voaria para Aukland.
Vôo curto. Chegou em Aukland ainda com a luz do dia.
Aukland
www.presidenthotel.co.nz
Best Western President Hotel
27-35 Victoria Street West
 
Aukland, como qualquer metropole, é barulhenta, suja, e, surpresa ruim: quente.
Ah, que saudade do friozinho da ilha sul...
O hotel, apesar do nome pomposo, foi o pior de todos, com o quarto simples, escuro, pequeno, e o atendimento péssimo. Ninguém pegou suas malas, e os chineses da recepção pareciam ter vindo da China na véspera sem nenhum curso de inglês. Tudo o que faziam era balançar a cabeça e dizer: hum hum...
Ela quase gritou até que um deles chamou de lá de dentro um indiano que emitia sons diferentes de hum hum e finalmente entendeu que ela não conseguia acessar o computador; resolver o problema – fez aparecer a janela para colocar a senha provisória fornecida pelo hotel. De quebra conseguiu entender que ela estava pedindo um mapa da cidade e jantar. O mapa estava em um balcão ao lado do elevador, quanto ao jantar, ela podia comer em qualquer lugar lá fora... que gentileza!
Resolveu não ariscar perder-se. Não era boa em seguir mapas. Olhou onde ficava a estação de ônibus, as varias lanchonetes e restaurantes da quadra, optou por uma sopa, levou um pacote de bolachas para o dia seguinte e foi dormir.
A excursão do dia seguinte era organizada pela Great Sights e levava passageiros de varias nacionalidades para Waitomo Caves, Agrodome (uma fazenda de criação de animais) e Rotorua, onde veriam os jardins do palácio do governo, as águas termais com lama borbulhante, o gêiser Pohutu e a aldeia maori Te Puía.
Waitomo Caves foi uma decepção. A não ser que o maior desejo de uma pessoa seja ver larvas fosforescentes de pirilampos, esqueça. Leva-se duas hora na fila para passar menos de dois minutos andando de barco nas passagem escura da gruta que nos permite ver o brilho das fosforescências. E a caverna, pequena, está estragada pela colocação de piso, corrimão, luzes no corredor...que tiram toda a sensação de entrar em uma gruta.
Ao final havia uma lojinha – sempre há uma lojinha quando o turismo é organizado – onde ela achou meias dela pelo preço mais barato que já vira, e comprou algumas para presentear os genros, que dar presente para homem é muito difícil; como conseqüência atrasou-se e foi a ultima a entrar no ônibus – mas comprou as meias1
O almoço, servido para comer no ônibus, foi, adivinhe? Sanduíche frio de frango com o queijo pastoso e folhas de alface. Pelo menos, em Aukland, estava quente. Ela guardou o sanduíche para comer mais tarde, ao sair do ônibus, e mordiscou a maçã.
A fazenda não a atraía, mas não havia como declinar do passeio, estava no caminho para o vulcão. Ventava muito quando desceram do ônibus, porém este passeio mostrou-se interessante.
Primeiro andaram pela propriedade vendo alces, alpacas, carneiros de dois tipos, o da lã mais quente tem os chifres enrolados. Foram informados que a seleção dos animais é muito prática, no primeiro ano de tosquia a qualidade da lã é analisada: se não for boa, o bicho vira bife.
 Também viram o cão sheppard neozelandês guiar as ovelhas ao abrigo. Um cão pequeno, mas eficiente. Para que gastar dinheiro alimentando um cão de grande porte, não é mesmo? E ela imaginava que ia ver um imenso cão pastor...
Ela nunca imaginou que gostaria de ver uma tosquia de ovelha, e o processo a intrigou – como a ovelha ficava quietinha, nem reclamava, e como a lã saía inteira sem se dividir em inúmeros chumaços. O rapaz explicou que a lã produz uma eletricidade estática muito forte, o que permite que seja transformada em fios, e o processa de fazer o fio, a meda, usar o tear, foi mostrado do jeito artesanal e industrial. Muito barulhento, eles nos mostram a maquina e passam o filme, mudo, da maquina em funcionamento.
Depois ficaram a ver os casaco feitos com os vários tipos de lã, inclusive o merino. Tudo muito, muito caro, o rapaz informou que o preço da lã é vendido a quatorze dólares, porque um casaco custa trezentos?
Passaram pelos jardins do governador a caminho de Whakarewarewa, a reserva maori próxima a Aukland.Ela gostou de descer do ônibus e passear  pelas longas alamedas ao redor do vulcão, ver a lama borbulhante, os vapores quentes que escorrem das fontes termais, apreciar o gêiser que fica vinte minutos em erupção de cada vez, varias vezes ao dia.
Em seguida foram levados até a casa de espetáculos dos marois, onde por quase uma hora ouviram e viram as danças e cantos.
Kia Ora – diziam eles, explicando que Kia Ora pode ser olá ou obrigado.
Cumprimentaram em nome do grupo um turista escolhido na hora com o cumprimento tradicional, esfregar os narizes duas vezes, enquanto se dão as mãos direitas.
Fizeram inúmeras vezes a careta intimidadora que consiste em mostrar a língua e sacudi-la muitas vezes enquanto emitem um som rouco e alto.
Suas tatuagens são pretas, e as mulheres, com o buço pintado assim, parecem ter barba.
Depois das danças pudemos ver as oficinas onde cavam as arvores para fazer canoas, diversos objetos, e também um pequeno museu com quadros e fotos das aldeias antigas e atuais.
Os painéis do marae e os totempoles a fizeram recordar-se dos maraes que vira na Polinésia Francesa e dos totempoles dos haidas no Canadá.
Este era um local em que ela apreciaria ficar mais, passear pelos outros cantos da aldeia, mas o ônibus já estava chamando para irem embora.
Receberam um novo lanche de sanduíche frio com suco e biscoitos, para comer no ônibus a caminho do hotel.
Desta vez, o indelicado motorista, não sei porque razão, ao invés de deixá-la no hotel, como fizera com todos os passageiros, parou na estação de ônibus, a duas quadras de distancia e disse, curto e grosso:
A distancia é pequena, a senhora pode ir a pé.
E embarafustou-se pela estação adentro, antes que ela pudesse protestar.
Que rude! Definitivamente, ela decidiu, não gosto do povo das cidades grandes.
O chinês do hotel não estava lá, e ela pode ver com alívio um camarada de aparência normal falando inglês que concordou em agendar um taxi para levá-la ao aeroporto na madrugada seguinte. Quando então os mesmo chineses estranhos falando hum hum receberam a chave do quarto e hum hum ela se foi.
Mas pretendendo retornar em breve – para a ilha sul, é claro.
Austrália

Quando o avião se aproxima do aeroporto de Sydney a costa imensa e recortada se espalha pelos quatro cantos, e, admirando a bela paisagem, o turista se surpreende a ver o avião baixando cada vez mais até quase tocar na água, quando então o passageiro mais atento e mais assustado percebe, finalmente, o toque do trem de pouso no solo.
É que a pista de pouso do aeroporto de Sydney está muito próximo ao oceano.
E, quando se vem por terra, pode-se ver a pista de aterrissagem bem acima do viaduto, e tem-se a impressão de que os aviões estão deslizando por sobre nossas cabeças.
Coisas da Austrália.

Fernanda estava procurando pela mãe, cujo avião chegara meia hora mais cedo, e ela se atrasar pelo transito intenso da manhã. Infelizmente havia muitas pessoas chegando na mesma hora, e ela olhava atentamente para todos os lados quando seu celular tocou, e ela ouviu a voz da mãe. Imediatamente voltou-se para o telefone publico e quase no mesmo instante seu olhar cruzou com o da mãe. Riram e abraçaram-se.

Fora uma longa viagem, e Regina pensara que tudo o que precisava fazer para encontrar a filha, era passar pela imigração. Mas quando desembarcou do avião, descobriu que metade da Ásia a separava dos guichês. Havia pelo menos trezentas pessoas na sua frente – trezentas pessoas de olhinhos puxados.
E ela foi explicando as curiosas cenas que presenciou antes de poder finalmente ir buscar suas malas.
Cada pessoa que chegava ao balcão começava um dialogo de gestos com o funcionário; um falava daqui, outro falava dali, ninguém se entendia, aí chamavam um interprete; fala daqui e dali, a pessoa abria a bolsa, retirava alguma coisa lá de dentro e começava uma espécie de negociação que acabava com a pessoa sendo afastada do guichê e orientada a retirar diversos objetos da bolsa, mas parecia não concordar com isso e começava uma nova discussão. Aí vinha uma outra pessoa e começava tudo de novo.
 A fila parecia nunca sair do lugar, até que alguém começou a andar pela fila e a retirar as pessoas que não eram asiáticas para serem atendidas pelo ultimo guichê. Assim, Regina passou com outras seis pessoas rapidamente pelo funcionário sem maiores delongas.
Sandro, o namorado de Fernanda, começou a explicar que os asiáticos costumavam trazer peixes e ervas para a Austrália, que faz uma verdadeira cruzada para manter sua fauna e sua flora livre de contaminação externa.

O sorriso de Fernanda era, aos trinta, o mesmo de quando bebezinho. Meio maroto, meio tímido, convidando ao abraço.
Regina abraçou a filha, e sentiu que, naquele momento, suas férias começavam, de verdade, férias, aqueles dias felizes em que desfrutamos da companhia das pessoas que amamos.



Sweetdream  daughter’s home
37/28-32 Sturdee Pde – Dee Why NSW 2099

Duas filhas, duas mães


Quando trabalhava como barista em um café, Fernanda conheceu Juliana. Mudaram de emprego, ficou a amizade, e, na conversa, descobrem que suas mães vinham para visitar as filhas no mesmo mês, daí surgiu a idéia da viagem conjunta.
Rita, a mãe de Juliana, vinha de Pelotas, trabalhava em um banco, embora psicóloga de formação.
No dia em que chegou a Sydney, Regina estava com Fernanda quando Juliana telefonou, assustada, por haver perdido a mãe. A mãe, chegada de véspera, não havia chegado ao ponto de encontro no local aprazado, e nem estava em casa. No mesmo instante, Regina deu de ombros:
- Ela não está perdida, isto é problema de relógio. Aposto que chegou aqui e não acertou o fuso horário.
Era isto mesmo. Uma hora depois, liga Juliana, aliviada, que a mãe havia chegado, no horário – do relógio errado!
A manhã e a tarde passaram rapidamente entre conversas, trocas de presentes, desfazer de malas, refeições – quem viaja para o outro lado do planeta quando chega já nem sabe mais se está a comer o jantar ou o café da manhã – e um giro pelos arredores. O que, no caso de Fernanda e sua mãe, queria dizer a praia de Dee Why. E, no caso de Juliana, a praia de Manly.

Nesta mesma noite, Fernanda, Sandro e a mãe também foram a Manly para ver o pingüim, bem como Juliana, Chino e Rita, e todos foram tomar um lanche juntos.
Manly é um belo bairro, onde Fernanda morara um ano antes.
Há algumas coisas curiosas sobre Manly, além do seriado da TV – O veterinário de Manly.
A primeira delas é o pingüim. Ou os pingüins. Todos os anos, os pingüins vem fazer seus ninhos sempre no mesmo local. Pingüins são teimosos e inocentes. Não se importam se há pessoas, cachorros ou gatos na praia, nem reparam nos barcos a motor nem nos surfistas. O instinto diz a eles que devem fazer seu ninho no mesmo local onde seus pais, avós e tatarvós fizeram há séculos e ao instinto eles obedecem – e morrem, comidos pelos cachorros, pegos nas hélices dos barcos. Vai daí que as boas almas se juntam e organizam ONGs para defender pingüins. E ao redor da praia de Manly está construída uma passarela por onde as pessoas podem passar por sobre a areia sem incomodar os pingüins em seus ninhos. E na primavera, todos os dias, voluntários se revezam para tomar conta dos pingüins e evitar que cães, gatos e gente malvada os ataquem. Os amantes dos pingüins vão toda noite observar a chegada dos pais que voltam do mar para alimentar seus filhotes. Os pingüins são então paparicados, protegidos, fotografados pelas mesmas pessoas que todas as noites ali se encontram, perguntando uns as outros, ansiosamente:
- Já chegaram?
A segunda coisa curiosa de Manly é uma estranha escultura que vista do solo parece ser uma espiral enrolada, uma cobra, ou, no dizer dos moleques, um montinho ... escatológico. Quando se olha de cima, entretanto, percebe-se a intenção do artista de esculpir um caracol; de qualquer modo, a desastrada escultura foi apresentada às mães como a m... de Manly.
Nesta noite, depois de verem chegar os pais para alimentarem seus filhotes, todos foram sentar-se em um bar para comer e conversar.
Os gaúchos eram animados, alegres, engraçados. Regina gostou imediatamente deles.
Chino era ciclista, havia participado recentemente de uma competição, e sofrera um pequeno acidente de trajeto; estava cansado, dolorido, e ficaria em casa cuidando do gato enquanto mães e filhas viajavam. Já Sandro, estava mesmo atolado de trabalho.
Rita, que não falava inglês, pediu um guaraná, e Juliana quase gritou:
- De novo, mãe? Aqui não tem guaraná, aqui é Austrália!
E, por força do habito, Rita dizia aos garçons ‘obrigada’ e eles sorriam sem entender as palavras, mas entendo a intenção.
- Quando eu voltar ao Brasil, vou matricular-me em um curso de inglês – comentou ela com Regina. – Você fala bem inglês?
- Bem – disse Regina – eu tento, mas não adiante muito, pois eles falam australiano...
E todos sorriram. Pois o sotaque australiano é diferente, e muitas palavras são próprias deles, como o ‘no worries’ ao invés de ‘you’re welcome’ ao responder a um muito obrigado.
Marcaram o horário do encontro para a excursão que fariam dali a dois dias, antes de irem para casa.
Bem cedo, Sandro deixou Fernanda e Regina na casa de Juliana, e de lá um taxi as levou ao aeroporto.
Apenas duas horas de vôo, mas chegariam a Adelaide com meia hora de diferença de fuso horário que as mães não conseguiram entender – um horário de verão meia hora adiantado ou atrasado em relação a Sydney. Por que não uma hora exata?  Coisas da Austrália.
O vôo foi curto e o lanche foi servido por aerosenhoras, no dizer de Regina, o que fez a filha rir. Serviram um delicioso cookie e refrescos.
Ao pousar em Adelaide, o avião bateu no solo com grande estrondo, para grande susto dos passageiros, e Juliana gritou:
- Caramba, deslocou meu DIU!
Fernanda, Regina e Rita riam, e todos os passageiros também, um pouco de nervoso, um pouco pelo jeito engraçado de Juliana, que continuou:
- Caramba! Um piloto so precisa saber duas coisas na vida: aterrissar e decolar, e ele consegue errar? Muito obrigada, seu piloto, por quase tirar o avião da pista e nos matar a todos!
A esta altura, Regina perguntou baixinho para Fernanda:
- O que está acontecendo?
- A Juliana morre de medo de avião – cochichou Fernanda em resposta.
Juliana estava com uma mala enorme, sua mãe apenas levava uma valise de mão; Rita e Regina levavam pequenas malas. A enorme mala de Juliana parecia bem pratica de carregar e empurrar, porem não cabia nos maleiros pequenos do depósito, nem no bagageiro dos taxis comuns, o que atrapalhava um pouco, ela tinha de pagar um pouco mais, e de esperar por um taxi com bagageiro maior. Pois, curiosamente, os taxistas transportavam seus estepes deitados dentro do porta-malas, coisa que Regina não entendeu, pois um taxi deve ter espaço para as malas dos passageiros, principalmente se ele faz ponto em um aeroporto, não parece lógico? Não para os australianos.
Do aeroporto, um shuttel as levou até a estação de ônibus de onde partiriam para a ilha Kangaroo. Havia um intervalo de duas horas até a partida do ônibus, então foram andar pelos arredores, deixando as malas em um depósito.
Ao lado do depósito de malas havia uma pilha de folders, pegaram alguns sobre Adelaide e sobre a ilha Kangaroo. Ali Regina leu algo interessante, e comentou com as outras: a ilha, na língua dos aborígenes, chama-se Karta, a terra da morte. Sítios habitados por aborígenes foram encontrados no local, com cerca de 16 000 anos de existência, porém, há 2000 anos os aborígenes deixaram a ilha, sem que se saiba o porquê. 
O explorador inglês que primeiro descobriu a ilha foi Matthew Flinders, em 1802. Um farol foi construído no cabo Couedic em 1906, e a casa do antgio faroleiro hoje é usada como alojamento para turistas.
A viagem até a ilha Kangaroo foi demorada – longo trajeto de ônibus por paisagens lindas e depois duas horas em um ferry boat, mais outro longo trajeto até a casa alugada.
A cada cinco minutos, Rita exclamava:
- Mas que lindo! Que paisagem mais rica! Que terra maravilhosa!
Regina também viajava com o nariz quase grudado na janela, suspirando de satisfação. Valeu a pena vir de ônibus ao invés de pegar o avião para a ilha. O avião era pequeno e a filha não sentiu segurança em voar no que ela chamou de teco-teco.
O enorme ferry boat tinha serviço de bar e vidros panorâmicos para observarem o mar, e viajaram ao por do sol.
Ao chegarem, embarcaram em um shuttle juntamente com outras pessoas que foram conversando entre si, pela conversa, perceberam que eram moradores da ilha. Quando ficaram apenas elas e uma outra senhora, que falava muito o tempo todo, esta senhora voltou-se para elas e puxou conversa; contou que era canadense e há 29 anos morava na ilha, fora proprietária de pousada, de loja, e agora era aposentada.
Finalmente, quase nove da noite, chegaram a uma praça quase deserta, e o motorista desceu com elas, pegou as malas e subiu as escadas de uma casa, abriu a porta e falou:
- É aqui, podem entrar. Se pretendem jantar, é melhor irem rápido, pois tudo fecha depois das nove.
Elas ficaram admiradas em descobrir que a porta estava aberta, simplesmente.
O motorista deu de ombros:
- A chave deve estar por aí, em algum lugar, mas ninguém vai entrar aqui, só vocês.
Juliana deixou a TV ligada a as luzes acesas, por precaução, e elas correram ao redor da quadra em frente em procura do único restaurante aberto, onde um rapaz sonolento falou que ia fazer o pedido para comerem em casa, e não na mesa, pois estavam fechando. Elas levaram para casa sanduíches com batatas fritas e refrigerantes.
Na casa, olhando com calma os armários e a geladeira, descobriram café, chá, açúcar, e todas as comodidades de um hotel: secador de cabelos, torradeira, liquidificador, uma estante com vários tipos de livros, desde romances atuais ate infantis, banheiro com shampoo, condicionador, alem, é claro, das camas confortáveis.
No dia seguinte, a excursão, que saia de Adelaide cinco e meia da manhã, passaria para pega-las às nove horas, tempo suficiente para irem tomar café e comprarem algo no supermercado para a noite, caso chegassem tarde.
Ninguém brigou por causa do banheiro, nem teve de esperar muito pela sua vez; entenderam-se perfeitamente.
Foi uma noite bem dormida, em total escuridão lá fora, com ruídos de bichos cantando nos ouvidos, e a lembrança das belas paisagens para recordar antes de adormecer.
Na manhã seguinte, Fernanda encontrou a chave: estava na porta dos fundos. Saíram para tomar o café mais descansadas, sem a preocupação de deixar as malas em uma casa aberta.
Regina e Rita ficaram conversando na sala enquanto as filhas se arrumavam nos quartos. Rita também era filha única, como Regina, gostava de trilhas a caminhadas, e era a primeira vez que vinha para a Austrália.
- Temos muita coisa em comum, não achas? – comentou ela.
- Filhas maravilhosas – respondeu Regina, que estava muito feliz com a viagem.
Na padaria, as meninas escolheram com dificuldade entre os pãezinhos e tortas da vitrine, tudo muito bonito, embora nem tudo o que é bonito seja obrigatoriamente gostoso, comentou Rita.
Como ventava muito, Regina escolheu um chocolate quente, e sanduíche quente também.
Haviam colocado nas malas roupa de praia, shorts, sandálias, mas o tempo esfriara, e acabaram usando apenas as calças longas, tênis e o casaco que viera só por precaução.
No supermercado, compraram pão, queijo, bolo, bolachas, manteiga, e deixaram na geladeira da casa, escovaram os dentes e saíram para aguardar o motorista.
- São todas de uma mesma família? – perguntou o motorista, para puxar assunto.
- Não, somos duas filhas e duas mães – explicou Juliana – as filhas moram aqui, as mães estão de visita.
O motorista era um senhor de cabelos brancos, rosto vermelho, tagarela, que pos-se a contar sua vida com certo ar dramático. Ele fora um proprietário de terras, criava ovelhas, até que houve uma crise da lã, o preço caiu, ele perdeu a fazenda, a mulher o deixou e levou junto os filhos (seus olhos se encheram de lagrimas nesta hora), ele ficou na ilha com seus dois cães e, tentou brincar, estava procurando uma mulher rica para casar com ele e refazer sua vida, mas não podia se queixar, pois gostava de trabalhar como motorista e levar os turistas para conhecer as belezas da ilha em que nascera.
E aí desandou a falar dos cangurus, das focas, dos pingüins e do aeroporto, onde iam buscar outros passageiros.
Observaram o avião pousar – o pouso foi bem melhor do que o avião grande em que chegaram a Adelaide – e depois foram levadas junto com outros dois casais para outro local, onde o motorista falou sobre as abelhas Lugurian enquanto aguardavam o ônibus que vinha de Adelaide, e que as levaria aos parques nacionais. Por rádio, ficaram sabendo que ele estava próximo; em poucos minutos trocaram de ônibus; estava lotado, e elas sentaram-se nos últimos lugares.
Juliana e Rita iam sentadas juntas, tagarelando. Fernanda e Regina iam sentadas juntas, olhando pela janela; de vez em quando Fernanda exclamava ‘um canguru’, Regina não via, pois eles eram muito rápidos ou estavam muito longe.
A primeira parada foi em uma praia com leões marinhos – só fêmeas grávidas ou com filhotes, amamentando. Não se pode chegar próximo demais de um leão marinho, pois eles são grandes, fortes e agressivos, porém uma das fêmeas veio por trás do grupo com seu filhote e simplesmente ‘abriu caminho’ empurrando algumas pessoas e assim, todo mundo viu o animal bem de pertinho, ainda que a guia local, assustada, tentasse afastar rapidamente o pessoal.
O segundo local onde pararam foi em Remarkables Rocks, uma formação de rochas muito interessante: umas pedras recortadas imensas, repousando sobre um paredão rochoso; o guia afirmou que a formação tem milhares de anos, e Regina gostaria de entender como as pedras foram parar lá, apoiadas sobre o paredão. No interior de algumas dessas pedras ocas, a pedra esta escavada em ondas, como se estivessem no mar – no interior de cavernas à beira mar vêem-se marcas de erosão parecidas.
A caminho das Remarkables Rocks, Fernanda parou e chamou a mãe. Ali ao lado do caminho estava um possum, grande, de olhos enormes, orelhinhas que lembram as de um gato, tranqüilamente comendo frutinhas do mato. O animal parecia não ter medo nenhum dos humanos, nem se incomodou com os olhares intrusos dos turistas.
O terceiro lugar onde pararam foi no arco Admiral, uma formação rochosa à beira-mar, que, como o nome indica, lembra um arco. Neste local as ficam focas, brincando, dormindo, brigando, namorando.
A seguir, pararam no centro de informações do parque, onde havia a inevitável loja, um mostruário com ossadas e pelagem de animais, uma lanchonete, onde almoçaram, sanitários, panfletos.
Infelizmente Juliana estava se sentindo muito mal, com cólicas, enjôos, não foi ver as focas e voltou rápido para o ônibus nas Remarkables Rocks – o motorista brincou com ela, dizendo que havia ali também Remarkables Toilets. A moça havia esquecido seus medicamentos em Sydney e ali não havia farmácia.
O mal estar passou antes do final do dia, e o passeio não foi totalmente perdido para ela.
A última parada foi para ver coalas,     que não existiam na ilha Kangaroo, e foram para lá levados quando se criaram os parques nacionais, juntamente com algumas espécimes de eucalipto, que, infelizmente, não se adaptaram ao clima, de maneira que os coalas estão pouco confortáveis lá.
Começou a ventar forte e a ameaçar chover, então Regina não quis descer do ônibus. Rita, que desceu, voltou toda contente, pois alem de coalas, havia diversos cangurus e walabis pastando ali perto;
O passeio terminou e elas foram levadas para casa antes das oito da noite. Todas as lojas estavam fechadas, só funcionavam entre nove da manhã e cinco da tarde; e os restaurantes estariam fechados quando voltassem da observação dos pingüins. A ida ao supermercado pela manhã fora uma escolha acertada.
Às oito e meia foram para o Centro de Observação de Pingüins perto da casa que haviam alugado, de propósito, naquele lugar, chamado Penneshaw, para poderem fazer o passeio noturno observando pingüins.
Houve uma palestra prévia, dentro do centro, depois disso saíram todos atrás da guia, que portava uma lanterna vermelha. Andaram por quase uma hora nas plataformas construídas sobre o local onde a colônia de pingüins constrói seus ninhos, e viram muitos dos pequenos pingüins azuis, os menores do mundo. Alguns bebes pingüins eram exibidos, e, quando iluminados, corriam para a frente de suas tocas e batiam as asinhas. As mamães e papais, ao chegarem do mar, paravam por algum tempo imóveis sobre as pedras, possivelmente para tomar fôlego e se recuperarem do esforço – o guia contou que algumas vezes eles ficam até três dias no mar, antes de retornar a seus ninhos, quando os filhotes já estão grandinhos. E aquela colônia, atualmente tem cerca de 500 pinguins, nos anos anteriores chegara a ter 700.
Todos ficaram bem quietos, para não assustar as aves, até mesmo as crianças.
Antes das dez retornaram, completamente geladas pelo vento frio, nem parecia ser primavera. Rita e Regina riram, falando dos bikinis que haviam colocado nas malas a pedido das filhas, pois ali havia praias muito bonitas e poderiam talvez tomar um banho de mar...
Fernanda e Juliana apenas sorriram – não costuma fazer tão frio na Austrália na primavera, e não custa colocar um bikini na mala, não é mesmo? Na pior das hipóteses, o bikini volta para casa sem ser usado.
Para quem dispõe de mais tempo, há muito mais a fazer na ilha Kangaroo, como degustar vinhos locais, frutos do mar, visitar os apiários, as fazendas, pescar, fazer snorking, nadar, mergulhar ... uma local ao qual se pode voltar, alguma dia no futuro, mas, por enquanto, era o suficiente.
Na manhã seguinte, tomaram seu café tranqüilamente, sentaram-se na sala folheando livros e conversando, enquanto aguardavam a condução de retorno a Adelaide.
Lá pelas oito, alguém bateu na porta. Era um homem uniformizado, perguntando por elas: Mrs. Rodrigues e Mrs. Alonso.
Fernanda e Juliana olharam uma para a outra:
- Você não é Vieira?
- Você não é Gonzalez?
- Sou Rodrigues Vieira.
- Sou Alonso Gonzalez.
O motorista parecia confuso e perguntou se eram todas da mesma família, e Juliana tornou a dizer:
Somos duas filhas e duas mães. As filhas moram aqui e as mães vieram de férias.
Mas, cadê o ônibus?
Bem, explicou o motorista, eu estou meio perdido, não conheço esta rua direito, então parei o ônibus na rua principal e resolvi procurar o numero a pé. Mas não se preocupem, eu carrego a mala mais pesada.
Elas se entreolharam sem entender. Como alguém consegue se perder em um vilarejo com seis quadras? E, quando o motorista respondeu a uma pergunta de Fernanda e afirmou que nascera na ilha e sempre trabalhara ali, aí é que ninguém entendeu mesmo. Mas, como boas brasileiras que eram, seguiram a regra: se a coisa parece esquisita, é melhor não perguntar...

Adelaide - Warrawong wildlife sanctuaryStock Road, Mylor via Stirling
www.zoossa.com.au
http://www.warrawong.com/
Stock Road , Mylor via Stirling

A viagem de volta para Adelaide foi demorada, e tão bonita como a viagem de ida para a ilha Kangaroo.
Sentaram-se na fila da frente do ferry, observando o mar; depois, as paisagens rurais com todas as ovelhas, árvores e cangurus a que tinham direito de observar.
Quando chegaram a estação de ônibus, deixaram ali as malas por uma hora enquanto passearam pelo centro de Adelaide e faziam algumas necessárias operações bancárias, depois do que  pegaram um taxi para o próximo destino: Warrawong, uma reserva animal onde se faziam passeios noturnos para observar os masurpiais em seu habitat natural – como se cabe, a maioria dos marsupiais são noctívagos.
Em seu passeio, passaram por uma praça onde havia varias estatuas de porquinhos dourados ao redor das latas de lixo de rua, e ali tiraram algumas fotos, de brincadeira. Havia uma mulher muito gorda sentada em um banco próximo, e as mães brincaram falando que havia um porquinho a mais, e que faziam questão de fotografar os arredores para captar a imagem do porquinho extra – mas Fernanda ficou muito encabulada, e temendo que a mulher percebesse a brincadeira, não tirou as fotos no ângulo apropriado.
Almoçaram em um restaurante do centro, almoço regado a vinho, que Adelaide é região  de ótimas vinícolas. Fizeram questão de um restaurante de verdade, ambiente silencioso, e não a praça de alimentação de um shopping. Apreciaram cada gole do delicioso vinho.
Pegar o táxi foi um problema, por causa da mala da Juliana e por ser domingo, e não conseguirem telefonar para a central de taxis, e terem de ficar esperando por algum que passasse na rua. O que era muito ruim, pois, segundo Fernanda, eles sabem o horário dos ônibus e se dirigem a estação no horário da chegada e partida dos mesmos.
E aí as mães ficaram sabendo de outra particularidade da Austrália: o serviço de telefone na central de taxis funciona nos dias úteis das nove da manhã até as cinco da tarde, assim, quando alguém vai viajar de madrugada, precisa agendar o taxi no dia anterior, e o costume brasileiro, de chamar um taxi quando começa a chover, ou quando se sai cansado de um programa noturno, simplesmente não funciona ali; se não agendar o taxi com antecedência, vai ter de ir na chuva mesmo, ou ficar esperando no ponto de ônibus.
O motorista, um indiano, não conhecia o lugar, não quis olhar o GPS da Fernanda, e ficou falando com alguém em seu celular, em uma língua estranha, até conseguir entender o endereço, e, afinal, após vinte minutos, elas chegaram sãs e salvas na reserva.
Chovia, ninguém lembrara de trazer guarda-chuva, e olharam melancolicamente para as arvores semi ocultas na neblina.
Na recepção, pegaram as chaves das cabanas, olharam a sala de estar com lareira, a vitrine da lanchonete local, e seguiram a recepcionista, que após mostrar o caminho para as cabanas, falou com entusiasmo que o passeio noturno sairia da sala de estar às oito e meia em ponto.
Fernanda e Regina ficaram no chalé seis, Juliana e Rita no chalé cinco. Ao entrarem, Regina ouviu Rita gritar: uma barraca! - e sorriu. Realmente, estavam em uma barraca.
Havia um murro de alvenaria de cerca de um metro e meio, a partir daí estava amarrada nas paredes uma lona verde, as janelas eram lona perfurada recobertas com uma tampa de lona que se fechava com zíper; exceção feita ao canto onde estava o banheiro, um cômodo de material sintético, semelhante ao usado em piscinas.
Das janelas, podia-se ver o mato ao redor, e, neste mato, pássaros nos arvoredos, coalas nas galhos dos eucaliptos, e, com sorte, à tardinha e ao amanhecer, cangurus.
A entrada para a reserva é gratuita, as pequenas palestras que ocorrem no decorrer do dia são pagas – assistiriam a duas delas, uma sobre aranhas e insetos; outra sobre lagartos. As palestras aconteciam em um recinto fechado, a chuva não atrapalharia, e incluíam apresentações de animais vivos.
Depois de tomarem banho, trocarem de roupa, dormiram um pouco até a hora do jantar, às seis e meia, como os australianos, não como os brasileiros.
A comida servida estava deliciosa.
Regina pediu peixe com lula, artisticamente servida partida em rodelas, Juliana pediu uma sopa de ervilha servida com torta de carne – a torta vinha no meio da sopa, parecia esquisito, porém ela disse estar gostoso.
O melhor era olhar pela parede do restaurante. A parede era envidraçada de alto a baixo em toda a sua extensão, e, do outro lado, um jardim iluminado, com pedras, troncos e arvoredos, por onde corriam pequenos animais, os marsupiais da reserva – e, eventualmente, um rato. Também patos e galinhas com suas ninhadas passaram por ali, a caminho de seu local de repouso.
Voltaram para a cabana para escovar os dentes, embrulhadas em seus casacos, e, então, a chuva parou.
A senhora que liderou o grupo era voluntaria de um serviço de proteção à fauna asutraliana. Tinha cabelos brancos e muita paciência para observar os cantinhos das matas.
O grupo seguiu por passarelas de madeira que cruzavam a reserva, algumas sobre o lago local, onde puderam observar os ornitorrincos, de longe, nadando. Havia patos de todos os tipos por todos os lados, cisnes brancos, tartarugas. Saindo da região dos lagos, começavam as trilhas em terra seca – no bosque de eucaliptos estavam os coalas – uma mamãe coala com seu filhote às costas foi a sensação.
Olha aí o pequeno Joe – disse a senhora, e Regina e Rita aprenderam que os australianos se referem aos filhotes dos animais como Joe, sabe-se lá por que motivo – e se for uma garota? Regina pensou mas não ousou perguntar.
O passeio foi o mais interessante de tudo o que Regina já fizera na Austrália. A luz vermelha iluminava os recantos mais escondidos dos matos, e daí surgiam todos os tipos de marsupiais possíveis – apenas equidnas não havia ali, pois elas precisam de territórios muito grandes, maiores do que a reserva – explicou a senhora.
Os mais encantadores eram os betons e os poturus, canguruzinhos que mais pareciam bichinhos de pelúcia.
Havia na reserva quatro cangurus mansinhos, criados em cativeiro pois eram órfãos; desses os turistas podiam se aproximar e acariciar e oferecer grama – dos outros, os selvagens, deviam manter distância.
Ao final do passeio, a guia anunciou que havia coalas encarapitados em frente aos eucaliptos da cabana quatro.
Como não haviam trazido lanterna, elas só puderam ver os coalas na manhã seguinte – eles ficaram por lá o outro dia inteiro, imóveis, dormindo.
A noite foi embalada pelo canto dos pássaros noturnos e toda espécie de sons de insetos, vento nas folhas e chuva. Havia um sistema de aquecimento elétrico na cabana, em pequenos tubos que seguiam ao longo das paredes; alem disso, havia cobertores elétricos, de modo que dormiram bem aquecidas.
Na manhã seguinte, a chuva parara. Regina e Fernanda foram tomar o café da manhã e encontraram as companheiras a caminho, observando os coalas da cabana quatro.
No café da manhã, o espetáculo atrás das paredes envidraçadas era outro – toda espécie de pássaro que você puder imaginar – periquitos, cacatuas, pombos, corvos, e um de bico longo e duro chamado kukaburra, muito barulhento, alem dos magpies de penas brancas e pretas.
Havia poucos hóspedes na reserva, apenas duas outras mesas, e ninguém se cansava de olhar os pássaros, somente ao começar a palestra do dia é que se levantaram das mesas.
Rita comentou que o espetáculo da noite era diferente do espetáculo da manhã.
Logo após a palestra, andaram mais pelas trilhas que haviam seguido à noite, procurando ver os ornitorrincos, os mais difíceis animais de serem vistos na natureza.
Fernanda tirou muitas fotos – somente depois de terminar o passeio é que percebeu não haver tirado nenhuma foto das quatro juntas! Os bichinhos literalmente roubaram o espetáculo!
À hora do almoço, a chuva recomeçou, com vento frio. Almoçaram com calma, observando a passarada, saboreando a comida deliciosa. Depois, foi tomar banho, fechar as malas e aguardar o taxi.
O vôo Adelaide – Sydney foi tranqüilo, sem pousos assustadores. Infelizmente, como era hora da janta, não serviram os bolinhos gostosos e sim um frango carregado de curry que nenhuma delas conseguiu comer.
Sandro estava esperando por elas no aeroporto; deixou Rita e Juliana em casa, no caminho.
E este foi o fim da excursão das duas mães e das duas filhas, momentos agradáveis para se guardar na memória, na gaveta dos dias felizes.
Sydney
Sydney
www.featherdale.com.au
217 Kildare Raod donnside NSW 2767
Certo dia, Marta, amiga de Regina, disse a ela que sua filha Mariana queria morar uns tempos no exteriro, talvez ir para a Austrália:
- Você que já esteve lá, pode dar umas dicas para a Mariana.
- Melhor que isso, posso dar o e-mail da minha filha, elas podem trocar idéias.
Mariana e Fernanda não se conheciam, mas, pela correspondência trocada, Mariana decidiu-se pela Austrália. Fernanda foi pega-la no aeroporto, levou-a para conhecer a cidade no fim de semana, e ficaram amigas, para grande alegria das mães.
Agora, de volta a Sydney, Fernanda chamou Mariana para acompanhar a família em um passeio a Featherdale, uma reserva animal muito interessante, perto de Blue Mountains.
Apesar de já estar na Austrália há um mês, Mariana estava muito ocupada com seu curso de inglês e seus empregos para ocupar-se com lazer. Empregos, poirque já havia pulado dois, barista e empacotadora de lojas, e estava panfletando currículos para um melhor, em sua própria área de atuação, arquitetura.
Sábado cedo, Regina acordou e ficou no computador classificando fotos em sua pagina do Facebook esperando a geração mais nova e mais dorminhoca dar sinal de vida.
Dois periquitos barulhentos ficaram gritando n
a varanda até que ela esmigalhasse uma fatia de pão para eles, que vieram beliscar as migalhas na maior alegria, chamando outros companheiros – havia dias em que chegavam sete a oito passarinhos para comer.
Regina pegou um iogurte na geladeira – os iogurtes da Austrália são deliciosos. Mais tarde, comeria pão com manteiga junto com a filha.
Perto de meio dia, saíram para buscar Mariana, e pegaram a estrada.
Featherdale é um daqueles lugares onde o turista recebe desconto com seus cupões do guia de Sydney, pegos ao desembarcar, no aeroporto, mas Regina esquecera seus cupons em casa e teve de pagar o preço integral.
Fernanda ficou a olhar o horário dos espetáculos dos bichos enquanto os outros iam para a bilheteria. Ela avisou que a apresentação das equidnas começaria em cinco minutos, então todos correram para o local das equidnas, bichinhos tímidos, noturnos, difíceis de ver.
As equidnas estavam lá, bem grandes e espinhentas, nas mãos dos biólogos que interagem com o público, oferecendo a elas sua comidinha preferida.
É claro que logo após terminar a refeição, as danadinhas sumiram, foram dormir em suas tocas, e os turistas foram cada um para seu canto.
Fernanada, Regina, Mariana e Sandro voltaram ao começo do parque e começaram pelo primeiro quintal, o dos cangurus.
Mariana colocou uma moeda em uma maquininha presa à parede e retirou dela um copinho feito de grama, com grama dentro. É isso mesmo, o próprio copinho pode ser comido pelos bichos. E as pessoas podem alimentar os cangurus e outros marsupiais por ali. Cada copinho custava dois dólares.
Crianças e cangurus corriam para cá e para lá. Os cangurus de lá são mansos e estão acostumados com as crianças pequenas e grandes...
Para cada quintal, havia uma cartela e um carimbo. As crianças, de qualquer idade, podiam carimbar a cartela e ir monitorando sua visita. É claro que Regina e Mariana ficaram carimbando todos os bichos possíveis para documentar sua visita e recordar a infância. Até Fernanda se animou a carimbar o seu passaporte, o que nunca havia feito antes, apesar de já ter ido varias vezes a Featherdale.Havia oito carimbos: coala, canguru, wombat, dingo,  diabo da Tasmânia, morcego, emu e crocodilo.
Na parte dos coalas, podia-se chegar bem perto, acariciar o bicho, que tem cheirinho de eucalipto, e tirar foto com ele.
O diabo da Tasmânia estava mesmo endemoniado, correndo feito um maluco em volta de uma pedra, com suas orelhinhas vermelhas brilhando ao sol.
Foi uma tarde gostosa, quente, própria para caminhadas longas.
No curral da fazenda de Featherdale, um bode esfaimado acabou com o potinho de grama de Mariana, que ficou muito assustada com o avanço do bicho. Todos riram.
ao final da tarde, lavaram as mãos e tomaram um sorvete na saída do parque, depois foram jantar em um restaurante na praia de Manly.
Todos os restaurantes e lanchonetes de Manly estavam lotados, foi difícil achar local para estacionar, porém conseguiram uma boa mesa, no andar superior, perto da varanda de onde tinham uma vista panorâmica da praia, com seus coqueiros e gaivotas.
A caminho de casa, deixaram Mariana em seu próprio apartamento.
Regina estava feliz.
Tomou um banho com sais cheirosos na banheiro do banheiro de hóspedes, para relaxar os pés cansados, e leu um pouco antes de dormir.
Fernanda havia ido com ela à biblioteca do bairro, onde havia livros e filmes novos para alugar, mas o processo australiano de biblioteca publico não significa gratuidade. As pessos pagam umas pequenas taxas simbólicas para usar alguns serviços, como reservar livros, solicitar entrega em casa ou prorrogar o empréstimo.
Como Regina estava praticamente sem falar inglês, pois estava rodeada de brasileiros, pelo menos mantinha o contato com a leitura.
No dia seguinte, foram à Ópera House.
Regina já vira a Ópera House por fora, mas agora, ia ver um espetáculo, o corpo de baile australiano ia apresentar A Viúva Alegre.
Agora, sim, ela poderia dizer que conhecera a Ópera House.
Saíram cedo, pois o espetáculo começaria às sete e meia, então saíram de casa seis horas; havia muito trânsito entre Dee Why e Sydney, apesar disso estacionaram com facilidade.
Regina gostou de estar elegante em um ambiente formal, apreciou a música e a dança, já havia lido a história antes; caso contrário, poderia ler o resumo da história no folder distribuído na entrada.
Ao saírem, caminharam um pouco pelo cais, lotado de jovens. Darling Harbour é um dos locais mais bonitos da cidade.

Segunda-feira, ultimo dia de Regina em Sydney, ela preparou uma sopa de cogumelos para o almoço. Os cogumelos australianos são tão grandes que pode-se prepará-los recheados. E, o mais importante, são deliciosos.
À tarde, foi ao cinema IMAX 3D, para assistir um documentário,  pois no Brasil não havia tal tipo de cinema, depois foi encontrar Fernanda e juntas foram ao Max Brenner, uma chocolateria de que as duas gostavam muito, para saborear um chocolate quente com fruta (Regina pediu chocolate com leite de coco) e comer waffle coberto com chocolate. Muito bom!
Terça-feira pela manhã, a filha e Sandro a acompanharam ao aeroporto.
Desta vez Fernanda não chorou ao se despedir. Afinal, a mãe pretendia voltar em breve, desta vez em definitivo, após sua aposentadoria.
E sempre haveria todos aqueles bons momentos para recordar.
 


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sábado, 22 de janeiro de 2011

Brincando com o vento e A árvore que cantava

Brincando com o vento.

Apesar de a TV estar ligada, o pai de Paulinho percebeu que o menino estava amuado.
- Que foi, filhão, não está se divertindo?
- Eu só fico aqui sentado o dia todo. Quem se diverte é quem está lá dentro – e apontou para a telinha, onde os garotos do filme estavam correndo na praia, empinando pipa.
O pai olhou pela janela, de onde só enxergava prédios e garagens de prédios, e nenhum espaço onde um garotinho saudável pudesse brincar. O pai nem perguntou pelo videogame, pois Paulinho dizia que os bichinhos da tela, e não ele, é que se divertiam.
- Bem, filho, domingo eu posso levar você para a praia.
- Quero aprender a empinar papagaio.
- Claro, podemos comprar um, na praia mesmo.
- Não é tão legal. Eu quero é fazer eu mesmo meu papagaio. Posso?
O pai pensou na sujeira, nos papéis picados, e coçou a cabeça, indeciso. Lembrou-se de quando ele mesmo era menino, na fazenda do pai, fazendo seus próprios brinquedos, e decidiu-se:
- Está certo. Eu digo do que vamos precisar, deixo dinheiro para você comprar tudo e, sábado pela manhã, faremos o seu papagaio.
- E domingo eu vou-me divertir a valer, como as crianças da TV! – Paulinho bateu palmas, animado – É difícil, pai?
Eu me pergunto o quanto você é capaz de aprender – respondeu o pai.
E, no sábado, bem cedo, a cozinha do apartamento virou oficina. Sobre a mesa, forrada com jornal, havia cola, papel de seda, barbante e varetas de bambu.
- Use a imaginação – disse o pai.
- Amarelo e preto, com uma ‘carinha feliz’. Quero uma pipa risonha, com olhos e boca.
- Como, filho?
O garoto desenhou uma boca em forma de meia lua, dois olhos redondos e duas sobrancelhas com tracinhos retos. Também desenhou uma bolinha para o nariz.
- A gente pode colar os detalhes no papagaio pronto.
- Boa idéia. Você aprende rápido. – elogiou o pai – As varetas estão firmes, e o papel, muito bem colado.
- Presto atenção para manter o papel esticado, senão ele enruga – Paulinho passou a cola cuidadosamente, e dobrou com capricho e paciência cada lado do quadrado amarelo.
Enquanto esperava secar o papagaio, fizeram a rabiola. Paulinho permaneceu concentrado nas explicações do pai sobre os ventos e o equilíbrio, e, curioso, percebeu quantas perguntas interessantes surgiam em sua mente.
Porque que é que o vento existe.
Porque o papagaio voa e a gente, não.
Porque é que...
- Calma, Paulinho! – riu- se o pai.Aprenda uma coisa de cada vez!
- Sou curioso!
- É bom ser curioso. Nós podemos ler nos livros coisas muito interessantes sobre os ventos.
- E que mais?
- Podemos experimentar e descobrir na prática como o vento é.
- Observando eu aprendo que, se não há vento, o papagaio não voa, e, se ventar demais, as varetas se quebram e a rabiola enrola.
- começa a desenvolver novas habilidades: observar, refletir, perguntar...
- Só me sujei um pouquinho. E a mamãe ficará contente, pois a sujeira ficou toda no jornal.
O pai sorriu, lembrando-se do tempo de sua meninice.
- Quando eu tinha a sua idade, filho, fazer papagaio era mais complicado. Nós mesmos é que cortávamos o bambu, com canivete, e a cola que existia na época era uma tal de ‘goma arábica’, um grude que se passava com pincel e melecava tudo em que encostava.
- Como é bom saber fazer as coisas! – exclamou Paulinho. – Podemos colar a carinha? - Acho que já está tudo bem firme e seco.
- Sim. Perceba de quantas maneiras diferentes pode-se fazer a mesma coisa. – disse o pai. – Você poderia ter imaginado outro tipo de cara, uma cara gozada, ou uma cara zangada.
- Estou feliz por aprender a fazer o meu próprio papagaio, por isso este terá uma cara feliz.
- Você é capaz de lembrar-se do que aprende, quando necessário. Ou quando quiser fazer outro papagaio.
- Repetir ajuda a memória, pai. Sabia?
- Quem disse isto?
- Mamãe diz sempre. Eu quero gravar os novos conhecimentos, por isso vou exercitar minhas habilidades com freqüência, quero dizer que vou fazer uma dúzia de pequenas pipas para enfeitar a minha festa de aniversário.
- Aprender a fazer pipas é divertido, filhão! E percebo que você já encontrou novas maneiras de utilizar os seus conhecimentos.
- Eu uso minha imaginação – disse o menino – A mamãe sugeriu que meu bolo de aniversário fosse uma pipa e eu achei genial.
Domingo pela manhã, Paulinho correu pela areia, à beira-mar, até que a pipa subisse bem alto.
- Que lindo papagaio! Tem uma carinha feliz! É bonito! É alegre.Onde você comprou isto? – perguntavam as outras crianças.
- Eu mesmo fiz! – respondia Paulinho, orgulhoso. – E eu posso ensinar a vocês.
E os amigos do Paulinho quiseram fazer uma oficina de papagaios, durante a semana, para que cada um aprendesse a fazer o seu papagaio a seu modo, do seu jeito, com a sua cara.
- Estou feliz porque você está feliz – disse o pai, quando voltavam para casa – Esta manhã de domingo é um momento especial em nossas vidas.
- Estou-me divertindo a valer, papai. E posso ensinar o que aprendi a meus amigos. Todos ficaremos felizes, como os garotos de dentro da TV. – e após refletir um pouquinho, perguntou: - Porque será , papai, que tem gente que vive vendo a vida de mentira dentro da TV quando a verdadeira vida está aqui fora?
Papai coçou a cabeça:
- Este meu filho está-me a sair filósofo...
- Pai, quero ler mais sobre os ventos. Você sempre diz que dentro dos livros há coisas muito interessantes.
- Livros são interessantes. E divertidos. Há uma história sobre o vento que li há muito, muito tempo, sobre um menino que deu a volta ao mundo em um balão. É uma história muito comprida, mas posso contar a você depois do almoço, se você quiser ouvir.
E se você, que me lê, for perguntar a seus pais e avós, ouvira com certeza histórias interessantes sobre as coisas que o vento faz, como em O Mágico de Oz, A Volta ao mundo em um Balão, O Garoto que foi à casa do Vento Norte e tantas outras.
E o vento levou esta história para outros ouvidos... para outros meninos e meninas...

* * * * *

A árvore que cantava

Era uma vez... uma garotinha que voltava da escola com a prima. Vinha de cabeça baixa porque estava procurando sementinhas para chutar. Então...
- Chuvinha de ouro! Chuvinha de ouro!
A prima sacudia de leve o tronco de uma árvore alta de folhas miudinhas, que, ao final da primavera, ficavam amarelas. Centenas de pedacinhos dourados caíram de uma só vez em torno delas.
- Ah, que bonito! – a menina começou a rodar debaixo da chuvarada de ‘ouro’.
A menina ria. A prima ria. Havia no ar perfume de flores. O sol aquecia o mundo agradavelmente e a brisa morna trazia o cheiro do mar.
A menina cochichou para a prima:
- Vou contar um segredo. Essa é uma árvore que canta.
Um som agudo, forte e bem ritmado fez-se ouvir. E a menina colocou a mão no tronco, sentindo o tronco vibrar:
- Ponha a mão aqui assim. Sente. Ela canta.
A prima riu e começou a andar em roda da árvore. E roda daqui, roda dali, encontrou a cantora.
- Olhe, querida, aqui está sua cantora.
- Ai! – a menina pulou de susto. Um inseto do tamanho de sua mão, preto, gordo, de olhos esbugalhados e grandes asas transparentes, tremia fazendo cra cra cra cra cra cra cra cra cra crrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....
- Que é isto?
- Uma cigarra.
- É? Agora entendo porque a formiga da fábula não quis dar comida para a cigarra no inverno. Só no jantar a cigarra acabaria com tudo.
A partir deste dia, durante todo o verão, a menina procurava por cigarras olhando cada árvore do caminho. As cigarras se escondiam bem.
Os dias esquentando, as cigarras cantando...que tempo bom!
Certa tarde a menina parou à sombra da árvore que cantava. O ar tremeu quando uma orquestra de cigarras começou o seu concerto, tão alto e tão forte que a menina não conseguia ouvir a própria voz. Ficou ali escutando, vibrando junto, e descobriu que a música cigarra tinha sons de castanholas e de violinos. Tanta cantoria deixava a menina tonta.
Por semanas a menina acordou e adormeceu com o canto das cigarras. Os bichinhos – ou bichões – cantavam e cantavam e cantavam até rebentar. A menina sabia disso porque o pai encontrara uma casca seca de cigarra e mostrara para ela:
- Esta já arrebentou. A cigarra cresce, ‘muda de roupa’ e deixa a casca velha abandonada no tronco.
A menina guardou a casca vazia em uma caixa e levou para a escola, para mostrar para as colegas.
O verão passava, as cigarras cantavam e a menina ficava horas a escutar, a procurar pelas cantoras. Até que um dia...
A menina escutou um som estranho. Demorou para entender que era o silêncio. As árvores estavam mudas. Acabara a época das cigarras.
A menina suspirou:
- Vou ficar esperando pelo verão até ouvir a primeira cigarra cantar. Vou sentir falta da minha árvore que cantava.
E o tempo foi passando.
Até que, em um outro dia, a menina e a prima estavam justamente passando pela árvore da chuvinha de ouro, procurando por sementinhas no chão para chutar. Era divertido. As sementes pulavam e rolavam dando estalinhos. De repente....
Criiiii criiiiii criiiiii......
- Olhe, prima, ouça, a árvore está cantando de novo! – e a menina piscou para a prima, pois ambas sabiam que era apenas um grilo.
A árvore era o palco da bicharada cantora. A menina, porém, sempre podia ‘fazer de conta’.
Faz de conta que, era uma vez, uma árvore que cantava.